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‘Comitê Extraordinário é identitário e ideológico’

Presidente de fórum critica cortes de verbas da Prefeitura da Serra a Manifesto LGBTI

No próximo domingo (16), o Fórum LGBTI+ da Serra realizará a 15ª edição do Manifesto LGBTI+, sob o tema “Transcendendo Barreiras: Vidas Autênticas em Luta pela Liberdade”. Com concentração às 13h, na Praça Encontro das Águas, em Jacaraípe, o manifesto acontece em um contexto de luta intensa, destaca o presidente do fórum, Kassandro Santos. 

Arquivo pessoal

Em um período de crescente hostilidade e discriminação em que a extrema direita instrumentaliza o ódio a essa população como agenda política para mobilizar bases conservadoras, Kassandro relata que, durante sua campanha eleitoral, o atual prefeito, Weverson Meireles (PDT), contava com apoio do fórum e de outros movimentos LGBTI+, mas retirou todas as pautas relacionadas à comunidade de seu plano de governo para se alinhar a setores religiosos. “Isso escancarou como somos usados em contextos eleitorais e depois descartados”, denuncia Kassandro.

Um dos principais questionamentos do movimento é a redução do repasse financeiro para o evento. Em 2024, o manifesto recebeu R$ 120 mil das secretarias de Turismo, Cultura e Lazer e de Direitos Humanos. Este ano, esse valor foi reduzido para R$ 60 mil, sendo posteriormente ajustado para R$ 75 mil após negociação com os secretários municipais.

A justificativa para o corte foi a criação do Comitê Extraordinário de Avaliação do Gasto Público (Comex), que reduziu valores de eventos e cargos comissionados. No entanto, Kassandro critica a seleção de quais eventos foram impactados. “O Comex é identitário e ideológico, porque o evento Verão com Jesus não sofreu essa redução em relação ao ano passado”, pontua.

Considerado o segundo maior evento gospel de praia do Espírito Santo e um dos maiores do Brasil, o Verão com Jesus é um evento religioso que chegou à sua 19ª edição em janeiro deste ano e reuniu atrações regionais e nacionais, incluindo a cantora Sara Beatriz, no mesmo local do Manifesto LGBTI+ da Serra. Kassandro Santos questiona que, enquanto a festa religiosa manteve seu orçamento, o manifesto sofreu cortes, o que levanta questionamentos sobre a aplicação seletiva das medidas de contenção de gastos da prefeitura.

O manifesto LGBTI+ da Serra está oficialmente no calendário de eventos do município e é o terceiro maior evento da cidade, ficando atrás apenas da Festa da Serra e da Festa de São Benedito de Nova Almeida, enfatiza o presidente do fórum. Apesar da importância do evento para a comunidade LGBTI+ da Serra, ele critica a censura da prefeitura contra a atração nacional que se apresentaria nesta edição, a artista Lia Clark. “A prefeitura barrou por causa da letra e da roupa”, apontou.

Mesmo com os desafios, ele reforça que a mobilização não será interrompida. “O manifesto não é só uma festa. Vamos celebrar nossas existências, mas também pautar nossas lutas. Mesmo com as limitações de recursos, vamos continuar fazendo”, destacou. A negligência da prefeitura, segundo a liderança do movimento, não se restringe ao movimento LGBTI+, afetando também outros coletivos culturais, como o Manifesto Hip Hop, que ocorre um dia antes do evento LGBTI+. “Eles também estão sofrendo descaso da prefeitura, enfrentando dificuldades com pagamentos e processos burocráticos”, afirmou.

Com a liberação tardia dos recursos para o manifesto, o evento ainda enfrenta desafios logísticos, como a garantia da alimentação dos artistas e a contratação de um trio elétrico. Diante desse cenário, a organização busca patrocínios para viabilizar a edição deste ano.

Kassandro Santos enfatiza a importância das políticas públicas para a população LGBTI+, especialmente diante do aumento da violência contra essa comunidade. Uma das lutas do Fórum LGBTI+ é a criação do Conselho Municipal LGBT, que nunca existiu na Serra. “Temos um fórum, mas um conselho que institui leis, nunca tivemos. Vai ser uma luta para este ano, para sair do papel e realmente se tornar realidade”, reiterou. O grupo está em processo de articulação política para viabilizar a aprovação do conselho na Câmara de Vereadores e enfrenta resistência de setores conservadores.

Além disso, ele denunciou a instrumentalização política da pauta LGBTI+ por parte de um vereador ligado a grupos religiosos. Segundo o representante do fórum, o pastor Dinho Souza (PL) teria incentivado protestos contra a “ideologia de gênero” durante o evento “Verão com Jesus”. “Era para ser um evento de adoração, de manifestação de crença, mas estavam lá levantando placas contra a nossa existência”, criticou.

Neste contexto político e social tão desafiador, o presidente do Fórum LGBT+ da Serra assegura que o movimento seguirá firme na luta pela visibilidade, direitos e igualdade, e reforça a importância da resistência da comunidade. Ele convida toda a população a participar do evento e somar forças para reivindicar políticas públicas e respeito à diversidade.

Cortes de Gastos

O Comitê Extraordinário de Avaliação do Gasto Público (Comex) foi uma das primeiras medidas anunciadas pelo prefeito Weverson Meireles (PDT), com objetivo de revisar despesas públicas com contratos, cargos comissionados e repasses para eventos culturais e esportivos. De acordo com a prefeitura, a economia gerada permitirá mais investimentos em áreas essenciais, no entanto, as ações de austeridade fiscal implementado pela nova gestão têm sido alvo de críticas por parte da sociedade civil.

Um dos exemplos mais questionados é a terceirização da última Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que ainda estava sob administração direta do município. Representantes do Conselho Municipal de Saúde e do conselho local da unidade apontam que as decisões podem comprometer serviços essenciais prestados à população e trazer prejuízos à qualidade do atendimento e a precarização das condições de trabalho dos profissionais da saúde.

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