A procuradora da República, Denise Neves Abade, da Procuradoria Regional da República da 3ª Região (São Paulo), que veio a Vitória nessa quarta-feira (20) para colher depoimentos sobre o assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, morto em 2003, também deveria colher informações sobre o inquérito que apura a execução de Tiago Luiz Oliveira, assassinado no mesmo ano, aos 18 anos, em Vila Velha.
A vinda dos representantes da Procuradoria Geral da República (PGR) teve o objetivo de levantar evidências para os procedimentos de Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) aberto na PGR.
As testemunhas do caso de Tiago, no entanto, não foram ouvidas nessa quarta-feira, mas há procuradora prometeu marcar uma nova data para ouvir as testemunhas. Na tarde dessa quarta, a procuradora ouviu três pesoas relacionadas ao Caso do juiz Alexandre Martins, que começou às 15h30 e terminou por volta das 19 horas. O inquérito que apura o crime está parado há dez anos, e ninguém foi indiciado.
Tiago foi detido na Praia da Costa, em Vila Velha, com outro jovem que portava uma pistola calibre 12. Eles foram levados ao Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) do município, mas o amigo – aquele que portava a arma – foi liberado e Tiago permaneceu no local. Apesar de testemunhas terem visto o jovem na delegacia, os policiais afirmavam à família que ele havia sido liberado.
Três dias após a detenção, um corpo foi encontrado na região de Xuri, em Vila Velha, carbonizado sobre pneus. Familiares de Tiago fizeram o reconhecimento parcial do corpo como sendo de Tiago, mas apenas dois meses depois a Associação de Mães e Familiares de Vítimas da Violência (Amafavv) viabilizou a doação de um exame de DNA que comprovou que o corpo carbonizado era mesmo o de Tiago.
Na época, testemunhas apontaram que o jovem havia sido torturado por policiais no DPJ de Vila Velha e levado para o Xuri, na zona rural do município, onde foi queimado ainda vivo. Depois que foi comprovado que o corpo carbonizado era mesmo o de Tiago, e por conta da repercussão nacional do caso, o então secretário de Estado de Segurança Pública, Rodney Miranda – hoje prefeito de Vila Velha – determinou o afastamento de 32 policiais por suspeita de envolvimento na tortura e assassinado do estudante. No entanto, o inquérito não evoluiu e os policiais voltaram a ocupar seus postos normalmente.
Protesto
Quando o exame de DNA comprovou que o corpo encontrado em Xuri era o de Tiago, a família conseguiu a liberação para o velório. Os familiares do estudantes, além de membros da Amafavv, saíram do Departamento Médico Legal (DML) e passaram com o caixão em protesto pelo Ministério Público Estadual (MPES), Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça do Estado (TJES) Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), terminando a marcha no Palácio Anchieta, sede do governo do Estado.
No local, o caixão foi aberto, exibindo o corpo carbonizado de Tiago e os familiares e membros da associação pediram providências ao então governador Paulo Hartung para a elucidação do crime.