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Delegação capixaba participa do Encontro Nacional Sem Terrinha

Uma delegação com 72 crianças e 16 adultos do Espírito Santo está em Brasília participando do I Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha, realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O evento vai de 23 a 26 de julho e tem caráter político, pedagógico e lúdico-cultural, reunindo cerca de 1,2 mil crianças entre 8 e 12 anos de acampamentos e assentamentos de reforma agrária em 24 estados do Brasil, com o lema “Sem Terrinha em Movimento: Brincar, Sorrir, Lutar por Reforma Agrária Popular!”. 

Foto: Douglas Mansur

Integrante da delegação capixaba, Mariana Motta define o primeiro encontro das crianças como um marco histórico e um fato muito importante para o movimento. “As crianças fazem parte da nossa organização desde o primeiro momento, desde a primeira ocupação. Estão nas atividades do movimento junto com suas famílias. Quando a gente pensa uma educação do campo, que traga os princípios, a identidade da cultura camponesa, a gente pensa também a questão da infância sem terra, crescer no movimento social, isso tem sido experiência muito importante”, diz a a educadora e militante do MST no Espírito Santo. 

“Para nós do MST as crianças não são simplesmente o futuro a esperança, algo que a gente pode esperar para mais adiante. Para nós a crianças têm seu papel agora e é por isso que elas estão protagonizando esse espaço no primeiro encontro nacional”, define Mariana, explicando que as crianças participam de todos os espaços como coordenação, comunicação e outros, tendo a companhia de adultos, educadores e militantes, com a tarefa de auxiliar e acompanhar o processo, preservando a autonomia e protagonismo dos sem terrinha.

As crianças capixabas foram responsáveis pela mística das atividades de terça-feira (24) no evento, trazendo reflexões sobre os direitos das crianças e dos adolescentes e as ameaças a eles. Entre as atividades que acontecem ao longo dos quatro dias, estão oficinas de arte e cultura, leitura, contação de histórias, espetáculo circense, teatro, cineclube, meditação, místicas e plenárias sobre direitos das crianças, alimentação saudável e reforma agrária popular.

Foto: Elitiel Guedes

Na abertura oficial do evento, na segunda-feira (23), Sara Carvalho de Sousa, 12 anos, moradora do assentamento Georgina, em São Mateus, foi uma das oradoras.

“Esse encontro é um dos espaços criados pelo movimento para fazer nossa formação e educação. Estou muito feliz por estar aqui e lutar por nossos direitos e também brincar e conhecer outros colegas do Brasil inteiro e ver como somos fortes juntos”, disse Sara para a grande plateia de pequenos presente no Parque da Cidade Sarah Kubitschek na capital federal.

“Esperamos que esse encontro acenda uma chama que nos impulsione a seguirmos lutando para vencer os desafios que a história nos apontar durante o nosso caminhar e sempre nos posicionando a favor da vida, da construção de uma sociedade em que possamos ter terra, moradia e que todos os direitos sejam garantidos a todos, e não a uma minoria”, complementou.

Em seu discurso, Sara também falou sobre o modo de vida dos sem terrinha. “Nossos espaços de viver são os acampamentos e assentamentos. Neles muitos de nós nascemos, aprendemos a viver coletivamente e a compartilhar o alimento. Para nós, sem terrinha, o campo é um lugar de produção de alimento, saberes e culturas. A gente vivem em sintonia com a natureza, aprendemos com ela, portanto, é um espaço importante de viver. Temos liberdade, podemos brincar, correr, tomar banho no rio, mas também temos dificuldades como a falta de escola ou de transporte para chegar até ela”, apontou a representante capixaba.

A educação foi um dos aspectos enfatizados por Sara. Ela estuda na escola 27 de Outubro, localizada no assentamento, que destacou ser um espaço que se preocupa com a formação. “Temos vários elementos como auto-organização, pesquisa sobre a realidade do assentamento e o trabalho como princípio educativo. Discutimos sobre nosso jeito de viver, expomos nossos pensamentos e podemos propor mudanças”. Ela ressaltou, porém, que mesmo assim há dificuldades, pois nem sempre o poder público garante todos os direitos, fora que a realidade em outros locais é mais complicada ainda, com péssimas estruturas, falta de internet e livros, além do fechamento de escolas no campo.

Sara também falou brevemente das mudanças ocorridas nos últimos anos, a partir do governo Temer. “Por isso seguimos lutando para sair assentamentos e  sonhando em viver em lugares em que nós, sem terrinha, tenhamos direito de viver no campo sem violência, com educação de qualidade e que nossa família tenha condição de produzir alimentos saudáveis para vivermos felizes. Aprendemos com nosso movimento que, para nossos direitos serem garantidos, é preciso lutar sempre, mas também brincar e estudar e seguir unidos”, concluiu a sem terrinha sob aplausos.

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