A Marcha pela Vida e Cidadania, realizada pela Pastoral Operária da Arquidiocese de Vitória, chega a sua 22ª edição tendo como um dos principais desafios da classe trabalhadora a mobilização contra o aumento do desemprego e do empobrecimento. Essa situação, acredita Dauri Correa da Silva, coordenador da Federação das Associações de Moradores de Cariacica (Famoc), deve se manter por muito tempo, como consequência das retiradas de direitos ocorridas no Brasil nos últimos anos.
A Famoc é uma das entidades que se juntou à Pastoral para a realização da Marcha, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e Centro de Estudos Bíblicos do Espírito Santo (Cebi/ES). Dauri afirma que, este ano, o tema da Marcha, que acontece sempre em primeiro de maio, Dia do Trabalhador, é “Resistir e esperançar: parem de nos matar!”.
Ele ressalta que as mortes vão além dos óbitos causados pela Covid-19, uma vez que a miséria tem aumentado durante a pandemia, que se tornou ainda mais nociva por causa de iniciativas que, para Dauri, agravaram a situação de vulnerabilidade social proporcionada pela crise sanitária.
Essas ações, recorda, começaram antes mesmo do o governo Bolsonaro (sem partido), com a Emenda Constitucional 95, que congelou durante 20 anos o investimento em políticas públicas como educação e saúde; e a Reforma Trabalhista, ambas do Governo Temer. O atual presidente conseguiu aprovar a Reforma da Previdência e “tem feito a entrega das riquezas do Estado, a exemplo da privatização da Petrobras e da Eletrobras”, como critica Dauri.
Em um contexto de pandemia, ele aponta que, na saúde, a Emenda Constitucional 95 tem enfraquecido a atenção básica, com unidades de saúde funcionando somente com o mínimo estabelecido por lei. Ainda nessa área, o coordenador da Famoc destaca que uma das reivindicações da classe trabalhadora é a vacinação imediata para todos. Ele salienta, também, a necessidade de fortalecimento do Programa de Saúde da Família (PSF).
“O PSF deve ser fortalecido para reduzir a circulação das pessoas. Em vez de irem para as unidades, o agente é quem faz o atendimento em domicílio”, defende Dauri, que também aponta como uma das reivindicações da classe trabalhadora o lockdown, acompanhado de medidas de proteção social que incluam os pequenos comerciantes. “Durante a pandemia os ricos ficaram ainda mais, com a quebra do comércio local, absorvendo a clientela dos pequenos estabelecimentos”, diz.
A Reforma Trabalhista, destaca Dauri, flexibilizou as relações de trabalho e enfraqueceu os sindicatos, o que tem aumentado a negociação individual entre patrões e empregados. “Nessa relação, a parte mais fraca é o operário, que em um contexto de muitas demissões como o atual, é dispensado sem garantia plena de seus direitos”. Ele também aponta o alto índice de desemprego como uma das causas do aumento da população em situação de rua.
“Sem condições de pagar aluguel, as pessoas ficam desabrigadas ou voltam para a casa dos pais. Aquele ditado que diz onde comem dois comem três, serve somente para o pobre. Quando as pessoas retornam para a moradia da família, onde comiam dois passam a comer três, mas todos acabam se alimentando mal”, pontua Dauri.
A redução da população em situação de rua, segundo o coordenador da Famoc, pode ser efetivada com a implementação de um projeto de moradia popular por parte do Governo Estadual, que, para ele, geraria também emprego na área da construção civil. A geração de trabalho e renda no Espírito Santo, para Dauri, tem deixado a desejar. Entretanto, a gestão pública estadual tem investido em qualificação. “Mas isso não adianta se a pessoa não tem oportunidade de ingressar no mercado de trabalho”, alerta.
Live
Em preparação para a marcha do dia 1º de maio, será realizada a live “Movimentos sociais, nossas bandeiras de luta e a ausência do Estado”, neste sábado (17), às 15h, por meio da página da Pastoral Operária no Facebook (@pastoraloperariaes). Os debatedores são o militante do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), Gilmar Ferreira; e a militante do Movimento Negro Unificado (MNU) e coordenadora do Conselho Municipal do Negro da Serra (Conegro), Fátima Tolentino.
A marcha também será virtual, das 9h às 11h30, tendo como debatedores a vereadora de Vitória, Camila Valadão (Psol); o deputado federal Helder Salomão (PT)_; e o economista e professor aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Arlindo Vilaschi; com mediação do jornalista Edilson Lenk.