Na véspera do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração, Alessandra Venturim, do Criad, alerta para o aumento de casos na pandemia
Com mais de um ano de pandemia, exposição de crianças e adolescentes a situações de violência sexual aumenta, e os casos por vezes nem são notificados
Só nos primeiros quatro meses de 2021, o Espírito Santo registrou 353 crimes sexuais contra menores de 18 anos, de acordo com dados da Delegacia Online (Deon) e da Secretaria de Segurança Pública (Sesp). Em um contexto de pandemia, quando as vítimas estão sujeitas a um contato maior com os agressores devido ao isolamento social, os números podem ainda ser subnotificados, já que alguns casos nem são denunciados.
Os números da Sesp incluem casos de assédio sexual, estupro, estupro de vulnerável, estupro contra mulher, tentativa de estupro e tentativa de estupro contra mulher. Todos cometidos contra menores de 18 anos.
Só na Grande Vitória, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) já recebeu 85 denúncias de abuso sexual contra menores em 2021. De acordo com a Polícia Civil, 19 prisões em flagrante foram realizadas este ano por estupro de vulnerável nessa região.
O contexto familiar explica os números. Alessandra Venturim, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Criad), lembra que, durante a pandemia, as atividades presenciais nas escolas precisaram ser suspensas para conter o avanço do coronavírus. Em contrapartida, pais e responsáveis continuam tendo que sair para trabalhar, mesmo não contando mais com a cobertura das instituições de ensino.
Desde o início da pandemia, essa era uma preocupação de profissionais da Assistência Social, que temiam o agravamento dos casos de violência desse tipo. “A escola é o lugar onde é possível dar segurança para acriança. Durante a pandemia, a gente percebeu que elas ficam mais vulneráveis, porque os pais precisam sair para trabalhar, e aí quem toma conta dessa criança?”, questiona.
No ano passado, os números já eram relevantes. Entre janeiro e setembro de 2020, foram 515 casos de abuso e 19 notificações de exploração sexual de crianças e adolescentes em todo o Espírito Santo. Os dados são do Disque 100, plataforma de denúncia de situações de violação aos direitos humanos.
Apesar de atingir famílias de diferentes realidades socioeconômicas, o abuso e a exploração sexual são mais presentes em regiões de periferia e em contextos de vulnerabilidade social, destaca Alessandra. “São famílias que nem sempre possuem uma retaguarda para que a criança fique em um local seguro, então elas acabam mais expostas ao risco”, ressalta.
Dentre outras características, a exploração sexual pode envolver o aliciamento de menores em troca de recompensas financeiras ou de outros benefícios. A exploração sexual infantil também enquadra a divulgação de conteúdos sexuais de crianças e adolescentes na internet.
Falta de informação
Apesar de se tratar de um problema complexo, Alessandra Venturim acredita que a principal forma de combate aos crimes de abuso e exploração sexual infantil é fazer com que campanhas informativas cheguem às famílias, para que o cuidado com os pequenos seja redobrado.
“Se a família não protege o seu filho, pode acontecer algum tipo de violação. É necessário que os pais tenham atenção com a sua criança, atenção às relações que ela tem, com quem essa criança conversa. A partir do momento que se tem um olhar mais atento, esses casos podem diminuir”, declara.
Caso Araceli
O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes é lembrado no dia 18 de maio, em menção a Araceli Cabrera Sanches, raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada, aos oito anos, em Vitória.
O corpo da criança foi encontrado em uma mata, dias depois do desaparecimento, totalmente desconfigurado. O processo foi arquivado pela Justiça e o crime terminou impune.