População trans é a que mais sofre o racismo ambiental, afirma Deborah Sabará
A Associação Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold) está com chamada aberta para submissão de artigos científicos, livros ou expressões artísticas, oriundas de todas as regiões do Brasil, para o I Seminário Nacional Transfobia Ambiental. O processo de submissão pode ser feito por formulário online até o dia 30 de abril. O evento acontece em parceria com o Instituto Positivo nos dias 25 a 28 de julho, em Vitória.
O evento começa com a apresentação e exposição de trabalhos. Já nos dias 26 a 28, ocorrerão mesas de debate sobre quatro tópicos: População LGBTQIAP+ e Povos Originários; População LGBTQIAP+ em Situação de Rua; População LGBTQIAP+ no Sistema Prisional; e População LGBTQIAP+ em religiões de matriz africana.
Em paralelo ao seminário nacional, a Gold realiza também, no dia 28 de julho, a 6ª Semana LGBTQIAP+ e a 12ª Parada LGBTQIAPN+ de Vitória, a primeira com foco na temática ambiental. “Vários eventos irão acontecer pela cidade relacionados com a população LGBTQIAP+. Em 2022 fizemos a Parada, com jogos de queimada, distribuição de cesta básica, mutirão e passeios nas comunidades. Esse ano vamos acrescentar a temática ambiental, pela primeira vez no País”, conta Deborah Sabará, fundadora e coordenadora de ações e projetos da Associação Gold.
Ela conta que o convite para realizar um evento com a temática ambiental partiu do Instituto Positivo e, de pronto, a entidade traçou uma conexão entre a população LGBTQIAP+ e o racismo ambiental. “A nossa população está inserida nesses espaços do racismo ambiental e, muitas vezes, em piores condições que as demais. Aquele histórico da ruptura com a família, da baixa escolarização, já estava afetando essa pessoa e por isso ela é mais afetada pelo racismo ambiental”, explica.
Importante notar também, acrescenta Deborah Sabará, que, assim como é a população preta que mais sofre o racismo ambiental, nos territórios mais vulneráveis aos efeitos da crise climática e ambiental, são também as pessoas pretas que mais sofrem violência dentro do universo da população trans.
“O Dossiê da Antra [Associação Nacional de Travestis e Transexuais] mostra que 80% das pessoas afetadas por crimes e assassinatos são pretas. Daí a gente se pergunta: essas pessoas tinham que escolarização? Completaram ao menos o ensino fundamental? Estavam em sua cidade de origem ou romperam com a família e foram para outras cidades em busca de uma vida melhor, um emprego? São inúmeras perguntas que precisam ser respondidas para que a gente entenda melhor como proteger essas pessoas”, explana.
Meio ambiente no dia a dia
Apesar do pioneirismo de trazer a temática ambiental para uma Parada LGBTQIAP+ e para um Seminário Nacional, a proteção do meio ambiente já faz parte do cotidiano da Associação Gold há muito tempo, ressalta Deborah Sabará. “Nós atuamos diretamente com a questão do meio ambiente no nosso dia a dia aqui na Gold. Mesmo que às vezes a gente nem se dê conta disso. Quando falamos em defender os territórios indígena e quilombolas, por exemplo; quando trabalhamos com reciclagem de materiais. As bolsas e lembrancinhas que os palestrantes do Seminário vão receber estão sendo feitas com banners usados, por internas do sistema prisional”, exemplifica.
Há ainda ações mais amplas e permanentes, acrescenta. “A pauta ambiental está presente desde quando a gente assume, na Gold, o compromisso com a empregabilidade das pessoas pretas. Isso está no nosso eixo de vida e nos propósitos da instituição, o antirracismo. Os nossos cursos são sempre direcionados para uma paridade para as pessoas pretas”, elenca.
A maior atenção para o tema, por ocasião do seminário nacional, amplia o olhar e, espera, a atuação. “O racismo ambiental nos ajuda a ter uma percepção mais apurada sobre o direito a questões fundamentais como a água e a moradia, para a população LGBTQIAP+”.
‘A Gold luta por um país democrático e pelo fim do racismo’
https://www.seculodiario.com.br/direitos/a-gold-luta-por-um-pais-democratico-e-pelo-fim-do-racismo