Críticas ao Governo Federal e exaltação do verde e amarelo como símbolo de “um país de todos” também marcaram o ato
O colorido se sobressaiu no Grito dos Excluídos 2022, realizado na manhã desta quarta-feira (7). O verde e amarelo, que simboliza um país que é de todos; o rosa e o azul, cores do Estado; o vermelho, que tradicionalmente simboliza as lutas dos movimentos populares; e a bandeira do arco-íris, dizendo sim à diversidade; foram algumas das tonalidades que coloriram as ruas de Vitória desde a concentração do ato, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), campus de Goiabeiras, até o ponto final da marcha, na praça de Gurigica, no Território do Bem.
“O verde e amarelo fazem parte da nossa história. Representam, simbolicamente, a nossa riqueza natural, que vem sendo tão vilipendiada, principalmente nos últimos anos. A gente precisa resgatar esses símbolos, que pertencem a toda a população, e não a alguns grupos específicos”, destacou o coordenador do Vicariato para Ação Social, Política e Ecumênica, padre Kelder Brandão, destacando que o azul e rosa, ao lado do verde e amarelo, representam, “nosso país, nosso Estado, estando em nossas mãos defender essas bandeiras”.
Este ano, o Grito chegou à sua 28ª edição. Teve como tema “Vida em Primeiro Lugar”, e lema, “Brasil: 200 Anos de (In) Dependência. Para quem?”. A insatisfação com o Governo Federal foi expressa nas mais diversas palavras de ordem, como no tradicional “Fora, Bolsonaro!”, até na canção entoada pelos indígenas, que afirmavam querer o presidente “amarrado no cipó”.
A manifestação contou com quatro blocos. O primeiro foi da comunidade negra capixaba, movimento de mulheres e Pastoral do Povo de Rua. O segundo, com a Auditoria Cidadã da Dívida, Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Espírito Santo (Sindibancários-ES) e Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social no Estado do Espírito Santo (Sindprev-ES).
O terceiro contou com a participação da União da Juventude Rebelião, Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes), Sindilmpe-ES, Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipeto-ES), Disparada e Pastoral da Juventude (PJ).
Por fim, o último contemplou o Sindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos), União da Juventude Comunista (UJC), Fórum das Pastorais, Movimento de Pequenos Agricultores Agricultores (MPA), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e Campanha Paz e Pão.
O militante do MST, Alessandro Santos, uniu a luta pela terra à luta pelo respeito à diversidade, misturando o vermelho do movimento ao arco-íris da bandeira LGBT.
“Faço parte do Coletivo LGBT do MST. Estamos vivendo, no Brasil, momentos de muito ódio contra a nossa comunidade, os camponeses, os indígenas. Nossas lutas se entrecruzam. Temos direito de ser, viver, amar. Temos direito às nossas existências. Temos que pensar um Brasil diferente, com mais igualdade, pluralidade e diversidade”, disse, acompanhado do namorado, Erick de Oliveira, que integra o Coletivo de Formação do MST.
No meio do trajeto, o Grito deu uma pausa na sede da Petrobras, na Reta da Penha, questionando a extinção da Bacia do Espírito Santo, da estatal, após as vendas dos polos de Golfinho e Camarupim, no norte capixaba, em junho, comprados pela empresa BW Energy, por US$ 75 milhões, valor que, segundo o Sindipetro-ES, corresponde a apenas 50 dias de produção.
“Estamos prestes a ter que sair deste Estado que tanto ajudamos a construir. É possível a gente ter mais emprego no Espírito Santo utilizando nossas riquezas, basta parar de dar nossas riquezas para os gringos e começar a distribuir para o povo”, exaltou a diretora do Sindipetro, Priscila Patrício.
O Grito terminou na praça de Gurigica, com a entrega simbólica de alimentos para a Campanha Paz e Pão, da Arquidiocese de Vitória, arrecadados pelo MST e MPA.
A entrega dos alimentos marcou também o encerramento da Caravana da Soberania Alimentar e pela Defesa da Democracia, que começou nessa segunda-feira (5), em São Mateus, no norte do Estado, e teve, ainda, atividades nessa terça-feira (6), em Colatina, no noroeste. Nos dois primeiros dias, a Caravana, organizada pela Via Campesina, contou atos e aulas públicas sobre o desmonte da agricultura familiar no Espírito Santo e no Brasil.