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Grito dos Excluídos protesta contra crime da Samarco, Temer e Hartung

Numa impactante referência ao crime socioambiental da Samarco/Vale-BHP, em que o rompimento da barragem em Mariana (MG) atingiu mortalmente o Rio Doce, uma faixa de tecido TNT marrom de 500 metros pontilhada por figuras de papel coloridas de peixes mortos estendeu-se pela Avenida Dante Micheline, na Praia de Camburi, em Vitória, no ato final do 22° Grito dos Excluídos/as, realizado na manhã desta quarta-feira (7). 
 

Mensagem mais clara, impossível. Organizado este ano pelo Fórum das Entidades em Defesa do Rio Doce, o evento no Espírito Santo lembrou um dos mais execráveis crimes ambientais brasileiros, ocorrido em novembro de 2015 na cidade mineira. Cerca de cinco mil pessoas marcharam entre o quiosque K1, após a Ponte da Passagem, e o encontro da Dante Micheline com a Avenida Adalberto Simão Nader.

 
Faixas, cartazes e um caixão representando o Rio Doce denunciaram a tragédia. Também o fez um manifestante fantasiado de morte, com o logotipo da Vale pregado no longo traje negro. Outros manifestantes carregavam cruzes gravadas com o nomes das vítima da lama da Samarco. O pó preto emitido pela Vale no Porto de Vitória e que sacrifica os pulmões de Vitória também foi lembrado. Uma faixa ironizava: “Não Vale cheirar pó”. 
 
“Nas eleições de 2014, a Vale e suas correlatas investiram mais de R$ 40 milhões”, vociferou um manifestante no caminhão de som. Um grupo musical no caminhão entoava canções com letras de protesto contra o crime ambiental.
 
 
O cenário turbulento das políticas nacional e estadual conferiu à edição capixaba do Grito dos Excluídos um leque diversificado de insatisfações. Violentamente reprimidos na manifestação de sexta-feira (2) pela Polícia Militar, manifestantes contra o governo do presidente Michel Temer (PMDB) estiveram presentes em número expressivo com o bloco “Fora Temer”. 
 
Faixas e cartazes com a inscrição “Fora Temer” tomaram a orla de Camburi. Muitas pessoas carregavam no peito adesivos com a mesma inscrição. No calçadão e no asfalto, já que, em função do feriado a faixa Centro-Jardim Camburi da avenida foi fechada para a implantação da Rua de Lazer, famílias observavam curiosas a marcha passar. Desta vez, poucos policiais militares acompanharam a manifestação e de longe. Não foi registrado incidente.

 

O plano estadual não ficou esquecido. Representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado (Sindaema) condenaram a movimentação do governo Paulo Hartung (PMDB) para privatizar a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan).  O caixão do Rio Doce era carregado por manifestantes vestidos de preto com um cartaz “Paulo Hartung” colado no peito.
 
Atingidos pelo crime da Samarco também estiveram presentes. Vieram afetados desde Mascarenhas, comunidade em Baixo Guandu, até Regência, na foz do Rio Doce, em Linhares (norte do Estado), muitos dos quais militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
 
 
Uma das atingidas é Regiane Soares, ribeirinha de Mascarenhas e membro do MAB. Segundo Regiane, a falta de água ainda é um das principais aflições na região. A água que abastece as 382 famílias da comunidade é captada do Rio Guandu e fornecida por caminhões-pipa. “Mas não aguenta 60 dias. Depois disso, a gente vai ter que beber água do Rio Doce”, adverte a mulher de 42 anos que cresceu vendo as águas do rio a poucos metros de seu quintal. 
 
Regiane conta que 70% das famílias de Mascarenhas foram reconhecidas como atingidas pela empresa. “Mas com muita luta, depois de seis paradas de ferrovia, totalizando 90 horas de prejuízo para a Vale”, conta, aos risos. Regiane ainda só não entende por que ela foi reconhecida como afetada e o marido, também ribeirinho, não. Ela conta que um dia, ligou para o 0800 da empresa e se identificou com o CPF de outra pessoas, reconhecida como atingida em janeiro. “Mas eles falaram que ela não foi reconhecida. Ou seja, eles não estão analisando os perfis”, critica.

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