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Grupo de mulheres promove leitura feminista da Bíblia em podcast

Maria de Fátima Castelan diz que as mulheres tiveram protagonismo antes de Jesus, durante a caminhada com ele, e depois dele

Quem acessa o Spotify para escutar o podcast  “Elas estão chegando”, ouve, na abertura de cada episódio, a cantora capixaba Raquel Passos cantar: “elas estão chegando como um vento forte, chegando com vida e norte, chegando para questionar, chegando para mudar”. Questionamento e desejo de mudança, de fato, é o que não faltam nesse podcast, realizado por mulheres cristãs do Centro de Estudos Bíblicos do Espírito Santo (Cebi-ES).

O podcast tem como um dos objetivos refletir sobre a realidade das mulheres de atualmente à luz das que foram nomeadas na Bíblia e que se movimentaram contra o machismo. Isso acontece ao inserir nos episódios as diversas situações de opressão vividas ainda hoje pelo público feminino e, também, destacando mulheres e a história recente do Brasil e da América Latina que tiveram atuação na luta contra as opressões.
Uma das metas do grupo é, futuramente, falar também das mulheres não nomeadas no livro. Maria de Fátima Castelan, a Fatinha, integrante da coordenação do Cebi-ES, biblista popular e especialista em assessoria bíblica, explica que existem homens não nomeados na Bíblia, mas em menor quantidade do que as mulheres.
Ela afirma que isso acontece devido à ótica patriarcal de escrita da Bíblia. Quando as memórias populares do Primeiro Testamento foram escritas, explica, passaram por releituras por parte de pessoas ligadas ao poder vigente, que era patriarcal, impactando na invisibilidade feminina no livro. 
As memórias do Novo Testamento foram compiladas pela Igreja Católica por volta de 1.500, no contexto da Reforma Protestante. 

Houve, nesse momento, uma escolha dos livros a serem inseridos, chamados de canônicos, considerados pela instituição religiosa como inspirados pelo Espírito Santo. Os não escolhidos, chamados de apócrifos, relata Fatinha, “são memórias não consideradas como texto para caminhada da Igreja”. Entre eles, textos de memórias femininas, como os evangelhos de Maria Madalena, de Sofia e o Evangelho Secreto da Virgem.

Para Fatinha, a não inclusão desses textos, assim como a grande quantidade de mulheres não nomeadas na Bíblia, também trata-se de uma omissão do protagonismo feminino. Entretanto, mesmo diante da tentativa de omiti-las, há textos que mostram que “as mulheres tinham vivência, ação nas narrativas bíblicas, na história de Jesus e na que veio antes dele”. Assim, o podcast, segundo ela, “é importante para desconstruir a ideia da inferioridade feminina”.
Fatinha relata que, de tudo que há na Bíblia no que diz respeito às mulheres, normalmente as igrejas cristãs destacam frases e versículos que apontam características de submissão, mas que é possível empoderar o público feminino por meio da leitura feminista da Bíblia. Entre as mulheres nomeadas no livro, estão Madalena, Suzana, Joana, Salomé, Marta e várias Marias.
Marta já foi tema de um dos episódios do podcast. Fatinha conta que era uma mulher muito próxima a Jesus e ressalta que essa personagem, em uma passagem bíblica, o convida para se hospedar em sua casa, o que era considerado ousado em sua época. Jesus aceita, o que também é uma atitude vista como inusitada para aquele período, um comportamento de acolhida, de um homem se colocar em campo de igualdade com uma mulher.
Entre as mulheres nomeadas na Bíblia está a hemorroísa, aquela que sofria uma hemorragia, sendo, por isso, vista como impura e, portanto, excluída. Entretanto, ela “nada contra a corrente”, adentra e multidão em busca de Jesus, e, ao tocá-lo, é curada. Nessa estória, Fatinha destaca que a atitude da mulher foi de resistência. Quanto a Jesus, assim como aconteceu com Marta, seu comportamento diante do ocorrido, afirma a biblista, foi de inclusão.
O “Elas estão chegando” já tem cerca de 60 episódios de 15 a 20 minutos, colocados no Spotify às segundas-feiras. Todos são narrados por mulheres que fazem parte do Cebi-ES, entre elas, católicas leigas e freiras e pastoras das igrejas Luterana, Anglicana e Presbiteriana.

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