Ato do dia 8 de março foi marcado por gritos contra as violações e o Governo Bolsonaro
Com uma estimativa de mil manifestantes, mulheres de diversos coletivos capixabas marcharam em direção ao Palácio Anchieta, nesta terça-feira (8), para gritar contra a violência que as atinge diariamente. O ato, ecoado por bandeiras de diferentes organizações, foi contra as violações em nível municipal, estadual e federal, sobretudo contra o Governo Bolsonaro. “Não é dia de comemoração. É dia de luta”, protestaram.
A concentração foi na Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória. Após falas de integrantes de diversos coletivos e apresentações culturais, as mulheres seguiram em direção à sede do governo do Estado, onde reivindicaram o direito a políticas de educação, saúde, juventude, cultura e, principalmente, à vida.
“O Fórum de Mulheres, há 30 anos, organiza esse ato. A gente sempre construiu o 8 de março nas ruas. Estamos nas ruas pela vida das mulheres, contra a fome, o feminicídio, o racismo e todas as formas de opressão da vida das mulheres”, apontou a integrante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes), Ana Lúcia da Rocha Conceição.
Seguindo o carro de som que percorria o Centro de Vitória, as mulheres pronunciaram palavras de ordem enquanto lideranças relatavam dados sobre a desigualdade e a violência de gênero durante a pandemia do coronavírus.
O ato foi marcado, sobretudo, pela coletividade, que podia ser vista em cada bandeira que percorria o Centro de Vitória. Só o manifesto que convocou o ato na Praça Costa Pereira foi assinado por mais de 60 entidades capixabas. É o caso do Coletivo de Fortalecimento e Empoderamento da População Negra do Sul do Estado (Fepnes), que saiu do interior para participar do protesto.
“A gente compreende que, no retrocesso que o país está passando, a unidade hoje é o que temos de mais importante para transformar essa realidade, de tanto desencontro. Precisamos estar em unidade. Aqui, temos representantes do sul do Estado, das comunidades quilombolas, corpos trans, pretos e masculinos, compreendendo que somente juntos vamos mudar esse retrocesso”, convocou Luciana Ciríaco Souza, integrante do Fepnes.
A violência que atinge mulheres de diversas formas é ainda mais letal quando esse corpo é preto. Para Luciana, o poder público precisa garantir a vida dessas mulheres. “O Estado primeiro precisa nos respeitar, nos enxergar, e depois executar as políticas públicas e afirmativas, respeitando também a diversidade que existe no nosso país”, acrescentou.
Outra entidade presente no ato foi o coletivo Mães Eficientes Somos Nós que, há anos, luta pelo direito dos filhos com deficiência. Em um contexto de abandono, a participação foi não só pelas reivindicações dos PCD’s, mas para buscar um olhar para as mulheres que lutam por essas crianças.
“Não existem políticas públicas para lutar pelas mães que cuidam dos filhos com deficiência e, além de os nossos filhos terem seus direitos violados, nós também temos, porque não se pensa políticas de apoio e de cuidado a essas mulheres. Geralmente, são as mulheres que cuidam desses filhos com deficiência, e nós precisamos muito de uma rede de apoio efetiva que funcione. O Estado simplesmente nos apaga. É por isso que estamos aqui também, dizendo: nós existimos e precisamos de cuidados”, declarou a coordenadora-geral do coletivo, Lucia Mara Martins.
A manifestação também contou com ações do Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Associação Gold), que participa do 8 de março desde que se estabeleceu em Vitória. Os integrantes estavam na Praça Costa Pereira, realizando testes de HIV, Sífilis e Hepatite B e C durante a concentração. O cadastro dos pacientes era feito na mesma hora.
Karla Coser (PT) e Camila Valadão (Psol), as únicas vereadoras mulheres a ocupar a Câmara de Vitória, participaram do ato e destacaram a importância da mobilização para reforçar a luta contra a violência de gênero. Sofrendo violências recorrentes na Casa de Leis da Capital, elas apontaram que o encontro com as lideranças capixabas também é uma força para seguir em frente.
“Todos os dias que acontece um desrespeito comigo dentro da Câmara de Vereadores, são essas mulheres, que estão aqui na rua, que dão suporte aos nossos mandatos. A gente entende a importância do nosso mandato de fato quando vai para a rua e recebe um abraço de uma mulher que fala: obrigada. Eu acredito muito na força do movimento popular e que estar aqui, junto com as mulheres que fazem política no dia a dia, que estão nas associações de moradores, conhecendo essas mulheres, é que a gente tem força pra continuar”, declarou Karla Coser.
Camila Valadão lembrou que as reivindicações do dia 8 de março abrem o calendário de lutas no Brasil. “Para nós, é uma data fundamental, por trazer a importância dessa luta ser vinculada às questões de gênero e estruturais que perpassam a vida das mulheres. A gente abre o calendário evidenciando as nossas desigualdades e tudo que vem sofrendo, exatamente para que isso seja incorporado nas outras pautas. Março marca a luta pela retirada do Bolsonaro do poder, que é uma pauta que a gente traz das ruas há muito tempo. Não tenho dúvidas que retirar Bolsonaro é pensar na vida das mulheres, é pela vida das mulheres. É por políticas públicas, direitos e mudanças estruturais”, enfatizou Valadão.
Integrante do Movimento de Mulheres Olga Benário, Hellen Guimarães também reforçou: “É o dia que saímos às ruas contra esse sistema que nos explora e oprime. Sabemos que as contradições do capitalismo atingem principalmente as mulheres, mães, mulheres pretas, periféricas. Por isso ocupamos as ruas”.
Mesmo coro foi feito por Adriana Silva, do Fórum Nacional de Mulheres Negras: “As mulheres sofrem todo os dias com algum tipo de violência, a doméstica, política, toda essa violência recai sobre as mulheres, principalmente para as negras. A gente vai lutar todos os dias para ter algum direito nessa sociedade machista, racista que a gente vive”, enfatizou Adriana Silva, do Fórum Nacional de Mulheres Negras.
A união de diversos movimentos e entidades da sociedade civil fez com que esse 8 de março, em Vitória, fosse uma mobilização coletiva e por muitas pautas, mas como as mulheres deixaram claro nos diversos gritos de protesto: uma data de luta, sem qualquer comemoração.