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Jovens indígenas estão desaparecidos há nove dias e Funai busca ajuda federal

Familiares e amigos denunciam “pouco caso” da Polícia com a investigação. Buscas continuam pela PC e comunidade

Arquivo Pessoal

Uma dupla dor acomete as famílias dos jovens Tupinikim Gregori Vieira Felipe Sezarino e Silas Elon Nunes Vicente, desaparecidos há nove dias: a perda dos entes queridos e a sensação de descaso por parte da Polícia Civil. O relato foi registrado na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), cuja Coordenação Técnica Local (CLT) em Aracruz, no norte do Estado, colheu depoimentos das mães – Lucimar Vieira Felipe e Edmilda Bento Nunes Pajehú – e da esposa de Gregori, Gislaine Nunes Oliveira.

“Os familiares, em seu desespero, acreditam que a Polícia Civil está fazendo pouco caso devido às vítimas já terem passagem pela polícia. Não afirmam omissão da polícia, mas as evidências conduzem a crer que as vítimas ainda se encontram próximo à área em que desapareceram”, aponta o depoimento, transcrito pelo chefe da CTL, Alexsandro de Almeida Mathias.

O documento relata que os jovens desapareceram no dia 25 de julho, quando foram até a Barra do Sahy para atender a um chamado de “acerto de contas” relativo a uma briga ocorrida três dias antes, “quando Gregori proferiu disparos de arma de fogo contra o pai de um chefe de ponto de tráfico de drogas”. 

Segundo a família do depoente, o caso está registrado na Polícia Civil no Boletim Unificado (BU) nº 51869606, datado de 27 de julho, por meio de relatos das mães dos dois desaparecidos. Após o BU, prossegue o depoimento, os familiares pediram informações sobre eles à Polícia Civil, que, em resposta, “fez diligência na casa de Gregori para apurar o caso dos tiros disparados”, a partir da permissão de Gislaine, sublinha, que os deixou entrar, mesmo sem haver um mandado de busca e apreensão.

Em seguida, prossegue o documento, “a Polícia Civil conduziu Gislaine até a Delegacia para colher seu depoimento quanto ao caso dos tiros disparados por Gregori, ignorando o seu desaparecimento por acreditarem, segundo Gislaine, que Gregori havia fugido”.

Na ocasião, “os familiares, desacreditados da polícia, resolveram efetivar suas próprias buscas, uma vez que, segundo eles, a polícia ainda acreditava que Gregori e Silas estavam foragidos” e encontraram os primeiros sinais dos dois no trecho entre Putiri e Barra do Sahy, local do último registro das câmeras de segurança, após entrarem em um eucaliptal da Suzano e em um trecho de floresta, às margens da ES-010. No local, encontraram a moto de Silas (Honda, placa BROZ R!06D38) e informaram à Polícia, que foi ao local fazer a perícia, mas afirmou não ter encontrado vestígios de crime contra os dois.

A Funai registra uma outra diligência feita pela família com base no telefone celular de Silas, que estava ativo, recebendo chamadas e com a rede social no modo online. “Gislaine utilizou a linha do tempo (ferramenta do Google Earth) da conta do Google de Gregori e verificou que o último ponto registrado era da casa de um casal conhecido do investigador de polícia (vulgo Aleixo). O mesmo afirmou que este casal não tinha nada com o caso, e nem com tráfico de drogas, e que o Google não possui exatidão em seu sistema de localização”, prossegue o documento.

Em outra incursão, familiares encontraram objetos suspeitos. “Arnóbio, tio de Gregori, acompanhado por Gislaine durante as buscas, encontrou uma mochila, uma pá, uma enxada e uma embalagem de soda cáustica na área em que foi encontrada a moto. Neste momento, Gislaine ligou para o investigador Olavo, informando do achado. Olavo então entrou em contato com a equipe do K9 (de Vitória) que seguiu para o local. Contudo, nada foi encontrado. Os dois investigadores de Aracruz não queriam juntar os materiais encontrados ao corpo de prova, mas os policiais de Vitória recomendaram que esses materiais fossem conduzidos à perícia. Os policiais de Vitória ainda permaneceram no local com os familiares, mas os policiais de Aracruz se retiraram do local antes do fim das buscas. E, como a área possui perigo por ser dominada por bandidos, ao anoitecer a polícia de Vitória saiu do local”, descrevem as depoentes.

No relato à Funai, a mãe de Gregori encerra afirmando que “só quer ter o corpo do filho de volta, apesar de ainda ter fé que eles estejam vivos”.

Lideranças indígenas locais já acionaram o Ministério dos Povos Indígenas em busca de ajuda e a CTL da Funai prepara pedido de ajuda ao Ministério Público Federal (MPF) e à Defensoria Pública da União (DPU). As buscas por parte da comunidade continuam.

Em resposta a Século Diário, a assessoria de imprensa da Polícia Civil relatou o histórico do caso e informou que, nessa terça-feira (1), a Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Aracruz acionou a equipe de buscas K9 do Corpo de Bombeiros, que utilizou dois cães durante uma ação realizada de 13h às 17h30, “cobrindo extensa área ao redor de onde a motocicleta foi encontrada [e] novamente, nenhum vestígio de crime foi encontrado”.

A PC-ES afirma também que “a DHPP de Aracruz ainda não encontrou qualquer vestígio a confirmar que eles realmente tenham sido mortos (e em caso positivo se isso ocorreu em Aracruz ou em outro município do Estado) [e que] de toda forma, os trabalhos continuam”.

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