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Jovens pedem fim do extermínio da juventude negra no Espírito Santo

Marcha realizada na Serra recordou ativistas contra o racismo e reivindicou direitos

Na mesma cidade onde há 174 anos negros escravizados lutavam pela liberdade e entraram para a história ao protagonizarem a Insurreição de Queimados, jovens foram às ruas também em defesa da liberdade e por diversos direitos, como o de ir e vir sem serem abordados pela Polícia Militar (PM) devido à cor da pele ou de ter suas vidas ceifadas. Concentrados em Ourimar, na Serra, na tarde desse sábado (18), os jovens seguiram rumo à praça de Feu Rosa, dando vida à XVI edição da Marcha Contra o Extermínio da Juventude Negra.

Leonardo Sá

Foi a primeira vez que a marcha, realizada pelo Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), foi realizada na Serra. Todas as edições anteriores foram na Capital. A iniciativa, avalia o vice-presidente da marcha, Ramon Matheus, foi de “muita coragem”. “A gente compreende que a violência não se encontra somente na cidade de Vitória e, portanto, as políticas sociais não devem ficar concentradas lá. Precisamos construir diálogo com outras comunidades periféricas, outras juventudes, mas onde estão os nossos? Nos bairros periféricos”, diz.

A lembrança de heróis do passado que protagonizaram a Insurreição de Queimados, como Chico Prego, se somaram com a de heróis contemporâneos, como o ativista Lula Rocha, cuja memória foi lembrada em uma atração cultural que antecedeu o início da marcha e em seu trajeto.

As mulheres também foram lembradas: Teresa de Benguela, Dandara, Marielle Franco e outros nomes foram entoados. A força da mulher negra foi recordada com a música que diz “Deus é uma mulher preta e por natureza sei que vou sobreviver”, lembrando as muitas mães que perderam seus filhos para a violência ou temem perder por saber que, simplesmente por serem negros, podem ser alvo de uma “bala perdida” que normalmente tem alvo certo: os corpos negros.

Leonardo Sá

O sagrado feminino da ancestralidade africana também foi recordado com pontos em homenagem a orixás como Iemanjá e Yansã, uma forma de lutar contra a intolerância religiosa, que vitima principalmente as religiões de matriz africana.

Na marcha também foi dado direito de voz ao Movimento Negro Evangélico, provando que as mais diversas crenças religiosas podem conviver e se unir em prol de causas que buscam o bem comum. A integrante do Movimento Negro Evangélico, Ester Ferreira dos Santos, destacou que o Movimento estava ali “por não acreditar no Jesus branco da milícia, mas no Jesus Negro de Nazaré”.

Leonardo Sá

“Seguimos o Jesus negro, que foi morto pelo Estado, e estamos aqui derrubando todo o evangelho eurocêntrico e que traz essa imagem do racismo, da segregação, para dizer que nosso Jesus prega o amor, está presente nas nossas músicas, nos nossos ritmos. Continuaremos resistindo, seguindo tudo que ele nos ensinou, todas as formas de resistência contra o Estado. Mesmo que o Estado continue nos matando, a cada dia surgirão mais de nós para propagar esse amor que Jesus nos ensinou”, ressaltou Ester.

Leonardo Sá

Diante do calor excessivo das últimas semanas, mas que não foi impedimento para a realização da marcha, o racismo ambiental não foi esquecido pelos manifestantes. “O calor tem cor e raça. A mudança climática é pelo nível de exploração do capitalismo na natureza e vai impactar primeiramente os lugares onde nosso povo vive, que são os quilombolas, as populações indígenas, os povos das águas e das florestas, e também as favelas, por causa da ocupação urbana que é feita sem muitos recursos. A gente não tem acesso à refrigeração, à água potável, mais uma vez o calor incide mais sobre o povo preto. Por isso que a gente diz que a mudança climática deve ser discutida a partir do conceito de racismo ambiental”, defende a coordenadora estadual do Círculo Palmarino, Ana Paula Rocha. 


Serra receberá pela primeira vez Marcha da Juventude Negra

Felipe Lima, do Fejunes, afirma que decisão de sair da Capital é para abranger outras regiões que também têm registrado violências


https://www.seculodiario.com.br/seguranca/serra-recebe-pela-1-primeira-vez-a-marcha-contra-o-exterminio-da-juventude-negra

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