quinta-feira, novembro 21, 2024
24.4 C
Vitória
quinta-feira, novembro 21, 2024
quinta-feira, novembro 21, 2024

Leia Também:

Juventude de terreiro organiza protesto contra Gilvan da Federal

Mais de 100 entidades apoiam a manifestação, em repúdio às ofensas do vereador contra religiões de matriz africana

Mais de 100 entidades já declararam apoio à manifestação que será realizada pelo Movimento da Juventude de Terreiro do Espírito Santo no próximo dia 15 de dezembro, em frente à Câmara de Vitória, às 9h. O protesto tem como objetivo repudiar a prática de racismo religioso por parte do vereador Gilvan da Federal (Patri), que na sessão ordinária dessa segunda-feira (29) ofendeu as religiões de matriz africana, as quais chamou de “afronta a Deus”.

O vereador afirmou, ainda, que usaria bucha e detergente “para limpar a mesa e pedir orações a Deus para nos livrar de todo o mal”, referindo-se à benção feita por mães de santo no plenário da Câmara durante a sessão solene em homenagem ao Dia da Consciência Negra, no último dia 26, proposta pela vereadora Karla Coser (PT).

Imagem: Reprodução

Entre as entidades que apoiam a manifestação estão partidos, mandatos, sindicatos, coletivos, casas de terreiro, fóruns e grêmios estudantis. A coordenadora do Movimento de Juventude de Terreiro, Ana Karolina da Fonseca Oliveira, informa que, além do protesto, será feita uma denúncia no Ministério Público do Espírito Santo (MPES).

“Gilvan ofendeu as mulheres, quando disse que as bençãos das mães de santo são uma afronta a Deus; ofendeu nossa religião, os negros. Ele quer lavar o que? A cor das pessoas? A maioria das pessoas nas comunidades tradicionais são negras. Está todo mundo indignado. Não vamos nos calar”, diz. O representante da União Espírito Capixaba (Unescape), Renan Paixão Santos Xavier, afirma que a atitude de Gilvan da Federal “é uma afronta, um desrespeito total, intolerável”.

Vanda de Souza Vieira, do Movimento Negro Unificado (MNU), uma das entidades que apoiam a manifestação, afirma que o problema não é somente Gilvan da Federal, mas todos os outros vereadores, que não se posicionam diante das agressões cometidas por ele, exceto Karla Coser (PT) e Camila Valadão (Psol). Para Vanda, os demais “não são melhores do que Gilvan, apenas o usam para falar em nome deles”.
Vanda classifica o vereador como “porta-voz da misoginia, do racismo, do machismo, da intolerância”. A militante do MNU questiona: “quais foram os projetos apresentados por ele para melhorar a cidade de Vitória? Ele deveria estar rodando escola, unidade de saúde, Cras [Centro de Referência de Assistência Social], Creas [Centro de Referência Especializado em Assistência Social], para ver se o trabalho está sendo feito ou não, por falta de verba, por exemplo. Deveria estar a par das coordenações que ainda não foram preenchidas. Gilvan é uma fraude, é fake, não fez nada até agora para mostrar se as pessoas fizeram bem em votar nele”.
Vanda também mostra indignação contra os constantes ataques do vereador a Karla Coser e Camila Valadão. “Me questiono como é esse ser dentro de casa, pois se ele tem coragem de agredir duas mulheres publicamente, imagine o que ele deve fazer dentro de casa?”, indaga.
Além da bucha e do detergente, durante a sessão do dia 29 de novembro, Gilvan da Federal também mostrou a bíblia, que afirmou ser sua “arma principal”. Ao dizer que “praticamente fizeram uma macumba” na Câmara, acrescentou que “vão dizer que isso é cultura, mas não é não. Cultuaram aqui dentro. Vão dizer que o estado é laico, que pode se fazer Umbanda, macumba, o que for. Pode, mas tem lugar apropriado”.
Gilvan prosseguiu com os ataques às religiões de matriz africana dizendo que elas “não falam o nome de Deus” e defendeu que nem ao menos deveria existir o Dia da Consciência Negra. As ofensas por parte do vereador foram refutadas somente por Karla Coser e Camila Valadão. Os demais vereadores se omitiram. Davi Esmael (PSD) afirmou que “apesar de apresentar discordância sobre como as coisas são feitas, é de direito dela [Karla Coser] a realização da sessão”, não se opondo à pratica de racismo religioso dentro da Casa de Leis que preside.
Karla Coser destacou que Gilvan “destilou ódio, racismo religioso e incapacidade de compreensão. Afirmando ser católica, a vereadora falou “ter capacidade de estar em um espaço com as mães de santo e yabás, abençoando este plenário, assim como pastores vêm aqui abençoar, assim como padres vêm aqui abençoar”.
Camila Valadão afirmou que a atitude do vereador “é mais uma expressão do racismo religioso, lamentavelmente pregado muitas vezes por pessoas que estão na igreja e que deveriam ser exemplo de tolerância e amor, mas sobem na tribuna para usar a imunidade parlamentar para cometer crimes”.
A vereadora Karla Coser salienta que, mensalmente, há cultos religiosos na Câmara, além da leitura de versículos bíblicos na abertura e encerramento das sessões, mas nunca ninguém se opôs a isso.
Nota de repúdio
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) e a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes) repudiaram, em nota, a agressão do vereador Gilvan da Federal (Patri) às religiões de matriz africana. O discurso foi considerado “racista e criminoso” pelas entidades.
Na nota, o Neab e a Adufes afirmam que “o ataque e a incitação feita pelo referido parlamentar contrapõem-se ao direito à liberdade religiosa de integrantes de religiões de matrizes africanas que tão somente se fizeram presentes à Câmara Municipal em comemoração ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, conforme Lei federal nº 12.519/2011”, além de expressarem “preocupação com a integridade física e moral de integrantes dessas religiões”.
Também solicitam à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ES), ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES), à Defensoria Pública do Ministério Público Federal e à Comissão de Ética da Câmara de Vitória empenho para a defesa dos direitos dos cidadãos na apuração do caso. “Um parlamentar não pode continuar no cargo valendo-se de sua imunidade para praticar atos que contrariam os direitos e deveres previstos na Constituição Federal de 1988”, defendem.


Entidades repudiam falas ‘racistas e criminosas’ de Gilvan da Federal

Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Adufes afirmam que postura do vereador se contrapõe ao direito à liberdade religiosa


https://www.seculodiario.com.br/politica/neab-e-adufes-repudiam-fala-racista-e-criminosa-de-gilvan-da-federal

Mais Lidas