A juventude negra está à frente da gestão do biênio 2020 – 2022 do Conselho Estadual de Juventude (Cejuve). Tanto o presidente, Wallace Vargas, quanto o vice Ramon Matheus são negros. Wallace representa o poder público, mas na última gestão atuou como representante da Federação das Associações de Moradores e Movimentos Populares do Espírito Santo (Famopes). Ramon, do Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), é representante da sociedade civil.
Segundo Ramon, as funções de presidente e vice-presidente são alternadas entre poder público e sociedade civil. Portanto, como na última gestão o presidente foi da sociedade civil e o vice do poder público, desta vez as posições mudaram. Ramon conta que a sociedade civil escolheu o Fejunes para ocupar a função em virtude da realidade de extermínio da juventude negra no Espírito Santo.
Para ele, ter dois negros à frente do Conselho é uma forma de inserir a negritude nos espaços de poder. “É importante estarmos nesse espaço, pois o conselho é um importante formulador de políticas públicas. A maioria dos jovens são negros, portanto, representamos a maioria. Conhecemos o debate dessa parcela da população e suas pautas”, ressalta Ramon, que também faz parte da comunidade LGBTQ+.
Um dos principais desafios da nova gestão, que tomou posse há uma semana, é a elaboração do Plano Estadual de Políticas para as Juventudes, acredita Ramon. “Temos que abrir debate para que as juventudes deem sugestões, mas em tempos de pandemia isso é difícil, pois será pela internet e muitos não têm acesso a ela, inclusive a juventude negra e periférica. Estudaremos formas de o debate chegar ao máximo de pessoas possível”, afirma.
O lançamento da Consulta Pública para a elaboração do Plano Estadual de Políticas para as Juventudes foi feito em 25 de setembro, no encerramento da IX Semana Estadual de Debate Contra do Extermínio de Jovens. Disponibilizada por meio da Secretaria de Direitos Humanos (SEDH), ficará disponível até o dia 20 de dezembro deste ano no site
juventudes.es.gov.br.
Wallace, que é de Cachoeiro do Itapemirim, sul do Estado, defende que o plano deve refletir, principalmente, as necessidades das juventudes negra, periférica e do interior. “O plano organiza o que as juventudes entendem como política pública, tendo impacto em diversas ações, como os Centros de Referência da Juventudes”, aponta. A previsão, segundo ele, é de que sejam construídos 20 desses centros no Espírito Santo.
Balanço da última gestão
Uma das ações do Conselho na última gestão, recorda o ex-presidente Miguel Intra, foi uma nova eleição, já que o Conselho estava esvaziado, além de promover formação para os novos participantes, pois muitos estavam tendo contato pela primeira vez com esse instrumento de participação popular.
Outra iniciativa, informa, foi o lançamento do site Juventudes ES, em que é encontrar políticas públicas com foco nos jovens em diversas áreas e âmbito estadual. Entre os eventos realizados, estão as edições de 2018 e 2019 da Semana Estadual de Debate Contra o Extermínio da Juventude. Quanto à violência policial, uma das ações foi a criação, em junho de 2020, de um comitê de denúncias a serem compartilhadas com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), Secretaria Estadual de Direitos Humanos (SEDH) e movimentos de direitos humanos.
O comitê foi criado após uma reivindicação dos moradores do Território do Bem, quando, em maio deste ano, a Polícia Militar (PM) adentrou o bairro Bonfim atirando a esmo em busca de um traficante. Na ocasião, moradores tiveram bens materiais destruídos e foram agredidos verbalmente. Miguel recorda que nas eleições 2018 todos candidatos assinaram o Pacto Estadual da Juventude, firmando compromisso com diversas ações a serem implementadas com foco nos jovens.
Além da criação do Fundo Estadual da Juventude e do Plano Estadual da Juventude, o Pacto da Juventude, assinado pelos candidatos na eleição de 2018, contempla outras reivindicações que ainda não foram colocadas em prática, como a criação de uma universidade estadual.