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Mães Eficientes resistem há três dias no Palácio Anchieta à espera de Casagrande

Acampamento expõe desespero das mães de filhos com deficiência, sempre excluídos, aponta conselheira

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O coletivo Mães Eficiente Somos Nós concluiu nesta quarta-feira (16) o terceiro dia do movimento #AcampaPalacioAnchieta, resistindo ao medo e ao desconforto, e reafirmando a permanência até que o governador Renato Casagrande (PSB) as receba, junto com seus filhos com deficiência, para encaminhar soluções para a exclusão dessas crianças e adolescentes da escola e de diversos serviço de saúde. 

O grupo está acampado na varanda do Palácio Anchieta, na Cidade Alta, Centro de Vitória, desde a tarde dessa segunda-feira (14), à espera de uma agenda com o chefe do governo estadual e os secretários de Educação e Saúde, Vitor de Angelo e Nésio Fernandes. 

Na segunda noite de vigília, o grupo foi surpreendido por um homem que, segundo relataram as mães, tinha intenção de assaltá-las. Com ajuda da guarda municipal, o homem foi embora, mas ameaçou voltar. As mulheres contam ainda da falta de acesso a banheiros e ao desconforto de dormirem no chão e ao relento. 

“Enquanto o senhor Governador está em Brasília comendo risoto e bebendo vinho, nós mulheres, mães de Pessoas com Deficiência, estamos aqui e resistindo”, publicaram em suas redes sociais.

Em nota, a assessoria do governador alegou que seus compromissos são “agendados e confirmados com antecedência”, mas que, “mesmo estando em agenda externa na segunda-feira (14) com o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em Aracruz, solicitou que a vice-governadora, Jacqueline Moraes, os secretários Nésio Fernandes e Vitor de Angelo as atendessem, proposta que foi recusada pelas mães”. 

Na terça-feira (15), complementa, o pedido foi feito, a partir de Brasília, à secretária de Direitos Humanos, Nara Borgo, que teria afirmado que o atendimento pelo governador “seria realizado assim que possível”. A secretária também disse às mulheres que “não há necessidade de ficarem acampadas”, mas que, “de toda forma, as instalações do Palácio Anchieta estão à disposição do grupo caso precise”.

Por conta de “compromissos previamente agendados”, finaliza a nota, o governador “estará ausente do Palácio Anchieta durante toda esta semana em agendas em Brasília-DF, Marataízes, Itapemirim, Anchieta, Laranja da Terra, Pedro Canario, Aracruz e Cachoeiro de Itapemirim”.

O coletivo afirma que o movimento é fruto de uma situação “desesperadora”, uma “tragédia”, que afeta milhares de estudantes e suas famílias, e que só será desmobilizado após reunião com os três gestores demandados.

Redes sociais

Para a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e coordenadora do Projeto Cuidadores que Dançam, do Laboratório de Educação Física Adaptada (Laefa), Erineusa Silva, “o acampamento é uma importante estratégia de visibilidade, já que o tempo todo essas mães e seus filhos são invisibilizados e excluídos das políticas públicas”.

Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ufes e do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Erineusa conta que, em suas pesquisas sobre mulheres que cuidam de pessoas com deficiência, percebeu que esta no gênero feminino a atribuição de cuidar.

“O cuidado parece que está tatuado nas nossas costas”, metaforiza, ressaltando que via de regra é uma mulher quem se encarrega de cuidar de algum membro da família que necessite de cuidados especiais. “Quando nasce um filho com deficiência, isso é exacerbado”, pontua. “Há muitos casos de mulheres abandonadas pelos companheiros quando a criança nasce”, destaca. Abandono, explica, que se dá tanto dentro de casa, quando o homem adota um distanciamento afetivo e até físico da mulher e da criança, quanto fora de casa, quando ele simplesmente vai embora”. 

No projeto do Laefa, é feito um trabalho de “educação em Direitos Humanos” e um atendimento às mulheres no sentido de “resgatar o cuidado de si. Elas estão sempre tão focadas no outro, mas é muito importante que tenham esse cuidado de si”, sublinha a coordenadora. 

Erineusa lembra ainda que há algumas décadas, as pessoas com deficiência eram ainda mais invisibilizadas, sendo muito comum elas serem “guardadas em um cômodo” da casa, não podendo sequer ser vista por outros parentes, amigos e visitas. Apesar dos avanços legais recentes, no entanto, a implementação dos direitos conquistados está longe de atingir a plenitude. “São 17 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, segundo o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. E continuam em falta as políticas de educação e saúde para essas pessoas”. 

O momento atual torna o cenário ainda duro. “As políticas públicas estão desmontadas, o que torna as dificuldades que elas historicamente enfrentam muito mais graves. E isso leva a um desgaste emocional muito maior. É desesperador mesmo”, observa. 

Sobre a posição do chefe de governo capixaba, Erineusa entende que reflete o descaso de toda a sociedade. “Há fuma dificuldade de agenda [do governador], sim, mas também é preciso entender que há urgências que precisam ser resolvidas. Ele não pode deixar mães acampadas em frente ao Palácio. Mesmo estando em viagem, pode fazer uma reunião virtual, tirar um tempo, falar um pouco com elas. Dessa forma não é humano. É uma naturalização de um preconceito e uma violência que é perpetrada pela sociedade como um todo”.

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