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Manifestantes fazem aula pública contra intolerância

Fotos: Leonardo Sá/Porã

A comunidade escolar do Centro Municipal de Ensino Infantil (Cmei) Cida Barreto, em Jardim da Penha, Vitória, se reuniu nesta quinta-feira (24) para repudiar o preconceito e a intolerância religiosa na escola, cobrando uma escola pública e laica. Com manifestações culturais e relatos, os participantes fizeram uma aula pública.

A concentração do ato pela manhã – também houve protesto à tarde – teve início por volta das 9h30 na Praça Regina Frigeri Furno, com caminhada até o Cmei. Os participantes se manifestaram ao microfone cobrando respeito às diferenças e que o Cmei saia do espaço religioso.

A unidade funciona dentro da Igreja Evangélica Batista de Vitória (IEBV), no mesmo bairro, em uma estrutura alugada pela prefeitura por quase R$ 40 mil mensais. Do local foi retirado um painel feito pelos alunos com um trabalho feito por alunos simbolizando a boneca Abayomi, por ordem do pastor João de Brito.

À imprensa, o pastor alegou que o trabalho das crianças simbolizaria “macumba” – termo pejorativo usado para se referir a religiões afro-brasileiras – e por isso havia sido retirado.

O vereador Roberto Martins (PTB) esteve na manifestação e disse que protocolou, na Câmara de Vereadores de Vitória, projeto de lei proibindo a utilização de espaços religiosos para instalação de escolas.

No ato público, o representante do Conselho Municipal do Negro (Conegro), Daniel Barboza, disse que esperava que, com a aula na rua, o pastor pudesse entender sobre o tema. “Uma boneca de nome estranho para nós, Abayomi, para a criança lembra mães buscando acalentar os seus pequenos frente ao sofrimento que tinham nos navios negreiros”, contou ele, acrescentando que navios negreiros lembram a Europa branca, que impunha à África e à América o pior tipo de trabalho, em que o próprio ser humano escravizado não tinha sobre ele o direito de vida e morte, que estava em outro.

“É essa boneca que está nos permitindo conversar sobre isso com os nossos pequenos, e ela nos lembra não só do passado, mas também do presente, de 2017, quando nós trabalhadores, que sustentamos essa sociedade e somos excluídos – a começar pelo salário – de uma sociedade de bem-estar, de uma condição respeitável. Bendita boneca”, completou o professor.

Ao fim do ato público, os participantes fizeram uma roda de capoeira e celebraram com músicas o êxito do protesto, que voltou a ser realizado no turno da tarde.

Cida Barreto

A professora Cida Barreto, que dá nome ao Cmei, morreu em 2013, quando ocupava o cargo de vice-reitora da Universidade Federal do Estado (Ufes). Mulher negra, ela foi amiga e ajudou a formar diversos dos professores que participaram da manifestação nesta quinta-feira.

Em sua trajetória acadêmica, Cida foi professora nos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Educação e tinha como principais pontos de pesquisa a educação especial e a educação para as relações étnico-raciais. Na carreira administrativa, foi diretora do Centro de Educação por dois mandatos, integrante do colegiado do curso de Pedagogia e dos Conselhos Superiores da Universidade. Assumiu a vice-reitoria da Ufes em abril de 2012.

Na pós-graduação em Educação, atuava na linha de pesquisa “Diversidades e práticas educacionais inclusivas”, estudando os processos psicossociais constitutivos do sujeito, processos de ensino e aprendizagem em ambientes presenciais e virtuais; fundamentos histórico-filosóficos e políticas da educação especial, práticas organizativas e pedagógicas e formação de profissionais que se dedicam à educação de sujeitos com necessidades educativas especiais.

O acesso e a permanência de estudantes negros e de origem popular na Ufes e a democratização do acesso ao Ensino Superior também eram temas de outro projeto de pesquisa em andamento. Nesse contexto, dedicou-se a investigar as características dos estudantes beneficiados pelas políticas de assistência estudantil e ações afirmativas e, por outro lado, a preparação institucional da Ufes para atender essas demandas.

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