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Memória de Padre Gabriel será celebrada a partir dos sonhos de criança

Celebração será neste sábado em Cobi de Cima, onde o corpo do sacerdote foi encontrado há 34 anos

“Profeta Gabriel, sua luta não foi em vão, seu sangue é semente de vida e haverá o dia da libertação”. O refrão da música Profeta Gabriel, interpretada pela cantora Raquel Passos, fala da ânsia por uma libertação que, 34 anos após o assassinato do sacerdote, ainda não foi alcançada. Basta acompanhar os noticiários e ver conflitos entre os povos, principalmente o genocídio de crianças na Faixa de Gaza, o que motivou o grupo Ecos de Gaby a celebrar a memória de Padre Gabriel a partir dos sonhos de criança.

A tradicional celebração em memória de Padre Gabriel e tantos outros mártires, ocorrida anualmente todo dia 23 dezembro, em Cobi de Cima, onde o corpo do sacerdote foi encontrado, começará às 6h. A integrante do Ecos de Gaby, Penha Dalva do Nascimento, afirma que apesar de a motivação do tema deste ano ter sido o genocídio na Faixa de Gaza, o grupo também trará à tona as crianças que, ao contrário das que estão sendo dizimadas na guerra, “estão invisíveis aos olhos do mundo”.

Ecos de Gaby

“A vida de nossas crianças está ameaçada, elas estão em situação de abandono”, diz, destacando a falta de investimento em educação, tirando oportunidades de crescimento profissional, além da transferência, por parte de muitos pais, da educação de seus filhos para a escola. Penha Dalva acredita que toda criança nasce com bondade e tem um sonho, “o que falta é oportunidade para realizar”. Ela recorda uma situação ocorrida na infância do próprio Gabriel que mostra um ato de solidariedade dele com outras crianças.

“Quando menino, no colégio interno na França, seu país, Gabriel recebia muitos alimentos da família, mas tinha crianças que não recebiam. Ele, então, criou a caixa comum, um local no qual quem recebia comida deixava ali parte de seus alimentos para serem doados para quem não tinha”, narra. Essa estória, afirma Penha Dalva, será relatada, junto com muitas outras, em um livro sobre a infância, adolescência e juventude do sacerdote, que será lançado em 2024 como parte da programação dos 35 anos do assassinato.

A integrante do Ecos de Gaby afirma que serão celebradas também as memórias de outros mártires. Um deles, inclusive, é uma criança. Chamava-se Jean Alves da Cunha, assassinado aos 14 anos, em Vitória, no ano de 1992. Jean era menino de rua e foi morto após ser selecionado para participar do Encontro Nacional de Meninos e Meninas de rua, em Brasília. O promotor que atuou no caso relatou ao Memorial do Ministério Público que o menino foi morto por policiais militares, mas a autoria do crime não foi comprovada O processo foi arquivado.
O processo a respeito do assassinato de Gabriel também foi arquivado. O crime chegou a ser considerado latrocínio, mas nunca houve indício disso, uma vez que absolutamente nada foi roubado. O corpo foi encontrado dentro de um fusca de propriedade do sacerdote, na avenida Carlos Lindemberg.

Padre Gabriel, o Gaby, chegou ao Brasil em 1980. Sua atuação no Espírito Santo, principalmente no município de Cariacica, foi marcada pela intensa participação nas Comunidades Eclesiais de Base (Cebs) da Igreja Católica. Gabriel incentivava a organização popular, sendo um dos impulsionadores da criação de movimentos de mulheres, culminando na atual Associação de Mulheres de Cariacica Buscando Libertação (Amucabuli). Foi essencial nos movimentos de moradia e em meio aos grupos de juventude, como a Juventude Operária Católica (JOC).

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