Terça, 02 Julho 2024

Militantes LGBTI+ cobram mais segurança em aplicativos de relacionamento

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Aplicativos de relacionamentos precisam aprimorar seus mecanismos de segurança para evitar a ocorrência de crimes. É o que defendem os militantes do movimento LGBTQIAPN+ do Estado, Geovane Roberto, do Núcleo Pedra, de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, e Deborah Sabará, coordenadora da Associação Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold), de Vitória.

Geovane fez postagens sobre o assunto nas redes sociais nessa semana, e Deborah reforça a reivindicação. O tema veio à tona com maior intensidade após a ocorrência de outro crime envolvendo esse tipo de aplicativo no Espírito Santo. No domingo passado (23), o corpo do profissional de saúde Luciano Martins, de 46 anos, foi encontrado em um lixão da Serra, na Grande Vitória – o suspeito do assassinato, de 23 anos, foi preso na quarta (26). Martins estava desaparecido desde o dia anterior, quando teria marcado um encontro homossexual.

O caso não foi isolado, e a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) fez requerimento de audiência pública no último dia 16 para apurar as responsabilidades dos aplicativos Grindr e Hornet, voltados ao público LGBTQIAPN+. O requerimento menciona diversas situações ocorridas no Brasil nos últimos anos, incluindo fatos noticiados em Vitória e Vila Velha, em março de 2022, relacionados à utilização do Grindr por golpistas para extorquir e agredir moradores.

Para Geovane, é importante a adoção de reconhecimento facial, mecanismo já utilizado em outros tipos de aplicativo. "Em casos envolvendo crimes, ficaria mais fácil de a polícia investigar. Ali no aplicativo, quando você faz sua inscrição, só coloca nome, data de nascimento e local. Não te pedem RG, CPF, nenhuma identificação. Muitas pessoas criam várias contas diferentes, não dá nem pra saber quem é quem", comenta.

Deborah Sabará, que conhecia o homem assassinado na Serra, também considera que é preciso adotar mais procedimentos de identificação dos usuários, incluindo cadastro de número de documentos e a obrigação de manter links diretos com outras redes sociais. Ela alerta, porém, para o risco de propagação de uma visão preconceituosa, segundo a qual o público LGBTQIAPN+ deve abandonar os aplicativos de relacionamento.

"Eu tenho visto um posicionamento de algumas pessoas dizendo que o aplicativo de relacionamento não é um lugar para se frequentar, o que eu discordo. Atualmente, a gente usa aplicativos para diversas coisas, como para comprar um lanche, fazer transações bancárias, e podem acontecer golpes em todo tipo de aplicativo. Estão usando novamente a população LGBT e os aplicativos de encontros casuais para culpabilizar as pessoas que foram vítimas", critica.

Cultura do anonimato

Um desafio adicional para os aplicativos de relacionamento LGBTQIAPN+ é a existência de uma cultura do anonimato bastante enraizada. É comum que usuários não coloquem fotos em seus perfis, por medo de exposição. Há, inclusive, numerosos casos de pessoas com relacionamentos heterossexuais duradouros que procuram os aplicativos para marcar encontros "no sigilo", expressão frequentemente usada nesses espaços.

Entretanto, na visão de Deborah Sabará, é necessário que os aplicativos obriguem os usuários a exibir suas fotos. A alteração dessa realidade também depende do combate à LGBTfobia e de uma maior conscientização do próprio público, tornando esses espaços mais acolhedores.

"Esses dias, recebi uma mensagem que dizia: 'Deborah Sabará é uma pessoa pública no aplicativo. É você mesma? Abre a câmera para eu ver.' As pessoas querem que eu fique no anonimato, mas eu não tenho motivo pra isso. A gente precisa trabalhar a autoestima da população LGBT, defendendo que estar no aplicativo não é crime. Aquele ambiente também não pode ser tóxico, discriminatório, racista, misógino. Tem cada coisa absurda que as pessoas colocam no aplicativo", relata.

Dicas de segurança

Também há dicas de segurança importantes para serem seguidas pelos usuários dos aplicativos. "Quando sair, é importante avisar a alguém próximo que está indo a tal lugar encontrar com uma pessoa. No primeiro encontro, uma indicação é marcar o encontro em algum local público, com mais visibilidade. Também nunca se deve passar dados pessoais, como CPF e localização em tempo real", ressalta Geovane Roberto.

Segundo Geovane, o Núcleo Pedra, associação ligada à causa LGBTQIAPN+, preparan um material educativo sobre o assunto, que deverá ser lançado em agosto. "A única segurança hoje com os aplicativos é essa, de deixar outras pessoas cientes de onde você vai e com quem", ressalta.

A coordenadora da Associação Gold acrescenta que não é preciso ter vergonha de demonstrar preocupação para a pessoa com quem marcou o encontro. "Quando chegar no encontro, já pode falar pra pessoa que avisou a amigos que está ali. E, acontecendo qualquer coisa estranha, não pode ter receio de sair logo. É como no transporte por aplicativo: se a placa do carro e a foto do motorista não correspondem à descrição do aplicativo, é melhor desistir da corrida", compara.

"A gente tem que ter coragem de fazer questionamentos, e a pessoa não pode ficar chateada. Às vezes as pessoas mandam foto de visualização única, e eu recuso o encontro. Uma frase que eu sempre uso é: se você não tem confiança em mim, não tenho como ter confiança em você", argumenta.

Denúncias também podem ser feitas dentro do próprio aplicativo, conforme Deborah Sabará lembra.

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