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Moradores de Boa Esperança e São Mateus fazem relatos de agressão na Câmara mateense

A sessão da Câmara de Vereadores de São Mateus (norte do Estado) dessa terça-feira (26) repercutiu a violência sofrida pelas comunidades quilombolas, de pequenos agricultores e moradores de São Mateus e de Boa Esperança. Uma ação conjunta da Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal recorreu à violência para expulsar os manifestantes que ocupavam a BR 101-norte na última segunda-feira (25).

Os moradores organizaram o protesto para cobrar do governador Paulo Hartung (PMDB) a conclusão da rodovia ES-315, que liga São Mateus a Boa Esperança. As obras foram iniciadas ainda no governo Renato Casagrande, mas foram interrompidas tão logo Hartung assumiu o governo, em janeiro de 2015.

Na sessão, a professora Gilcilene Souza se revoltou ao relatar que houve violência desproporcional por parte das duas polícias para reprimir o protesto. Ela contou que os moradores foram para a BR-101 para protestarem por direitos, mas foram recebidos com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e muita truculência. Ela ressaltou que comunidades quilombolas e pequenos de agricultores, entre eles idosos, mulheres e crianças, foram tratados como bandidos.

Gilcilene foi uma das lideranças comunitárias detidas logo no início do protesto. Além da professora, outros duas pessoas identificadas como Ronaldo; e Carlos Alberto, da comunidade de Morro da Arara, também foram detidas sem motivo. As lideranças ficaram estarrecidas com a violência empregada contra os moradores e avaliaram, em reunião nesta terça-feira, que essa ação covarde é própria do governador Paulo Hartung.

A rodovia reivindicada pelos movimentos sociais do norte do Estado fica em área quilombola e de pequenos agricultores, ou seja, atende a uma população que tem mais dificuldade de locomoção, seja para escoar a produção ou mesmo para ter acesso a um município-polo, que é o caso de São Mateus.

A tentativa de intimidar o grupo, que foi formado para cobrar o asfaltamento da via foi frustrada, já que as lideranças comunitárias avaliaram que, apesar de toda a violência empregada, o movimento se fortaleceu. As lideranças comunitárias vão promover reuniões para mostrar aos moradores da região que a repressão está estabelecida pelo governo do Estado contra os movimentos sociais, que pretendem não recuar diante da violência das forças de segurança.

Na sessão da Câmara, os vereadores prometeram se mobilizar para definir estratégias e sensibilizar o governo do Estado para reiniciar as obras o quanto antes. Dentre as propostas apresentadas na sessão está uma mobilização no Palácio Anchieta, sede do governo do Estado, em Vitória, e apoio aos protestos que estão sendo articulados pelas comunidades e movimentos sociais.

Violência

O protesto dos moradores estava previsto desde a última semana e pleiteava a conclusão das obras iniciadas ainda no governo Renato Casagrande (PSB). O projeto prevê o asfaltamento de 65 km da rodovia mas, quando restavam apenas 25 km para a conclusão da obra, já no governo Paulo Hartung, o asfaltamento foi interrompido.

A manifestação já havia sido programada com antecedência, por isso, o governador enviou dois emissários – o secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Roberto, e o líder do governo na Assembleia Legislativa, o deputado Gildevan Fernandes (PMDB), ambos da região norte – para tentar convencer os moradores a não realizarem o protesto na manhã da segunda-feira.

As comunidades, no entanto, foram irredutíveis em relação ao protesto. A desconfiança dos moradores é que o governador Paulo Hartung, ao mandar os emissários, já alertou as forças de segurança caso houvesse o protesto.

A concentração para a manifestação foi a partir das 5 horas e, tão logo o protesto foi iniciado, em uma marginal da BR-101, na altura do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes), da Universidade Federal do Estado (Ufes), foi violentamente repreendido pela PRF e pela PM.

Os moradores, dentre eles idosos e mulheres, relataram que nunca viram tantos policiais deslocados para a repressão de um protesto na região. Assim que o protesto iniciou, os policiais atiraram bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os moradores.

O relato geral era que a ação da polícia havia sido desproporcional, porque não houve violência por parte dos manifestantes. A prisão sumária de lideres comunitários foi outra evidência que comprovou que a ação da polícia foi premeditada com o intuito de desarticular rapidamente o protesto.

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