Unidade Negra repudia violência física sofrida por homem no estabelecimento de Laranjeiras, Serra
A Unidade Negra Capixaba marcou para esta quinta-feira (23), às 17h, a manifestação contra o ato de racismo registrado na semana passada no supermercado Carone, em Laranjeiras, na Serra. Na ocasião, os seguranças agrediram fisicamente um homem negro, acusado de roubo. Toda a violência foi filmada pelo professor Demian Cunha e o vídeo ganhou repercussão nas redes sociais.
O integrante da Unidade Negra Capixaba, Gilberto Campos, o Gilbertinho, informa que, durante o ato, serão feitas falas, manifestações culturais e performances. “Vamos mostrar nossa indignação com a violência praticada contra um homem negro e que contém todos elementos de crime de racismo”, diz, destacando que houve ainda crimes de tortura, cárcere privado e abordagem ilegal. Além da manifestação, serão tomadas medidas jurídicas.
O advogado André Moreira informa que o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) será acionado para denunciar criminalmente tanto os funcionários que cometeram a agressão quanto a direção da unidade. Também será movida Ação Civil Pública (ACP) por parte das entidades do Movimento Negro e de defesa dos direitos humanos, denunciando o Carone por racismo institucionalizado.
A agressão filmada não foi o único ato de racismo ocorrido em supermercado neste ano. Em 20 de janeiro, o padre Manoel David fez um desabafo nas redes sociais sobre a discriminação que sofreu dentro do supermercado Casagrande, no bairro Aeroporto, em Guarapari. Ele relatou perceber que estava sendo seguido por um segurança dentro do estabelecimento. Para confirmar sua suspeita, mesmo depois de ter escolhido os produtos dos quais precisava, continuou a andar pela loja, sendo seguido durante todo o tempo.
O segurança, segundo ele, o acompanhou até o caixa. O sacerdote relata que, nesse momento, irritado, ele tirou o boné, jogou no caixa, falou com o segurança que iria pagar as compras, mostrou sua carteira sacerdotal e declarou sua percepção sobre o comportamento anormal do funcionário. Ainda de acordo com o padre, um outro segurança, ao ver a cena, se aproximou e disse que ele havia celebrado o casamento de sua mãe, apaziguando a situação.
Além disso, recomendam “o investimento em qualificação e formação continuada para seus funcionários e colaboradores, a fim de que os mesmos atuem respeitando os direitos humanos de todas as pessoas”. No que diz respeito aos órgãos estatais, exigem que “atuem com rigor e legalidade para apurar, trazer a verdade e responsabilizar os culpados”.
O Conegro e o CDDH reforçam que “é necessário que os governantes municipais e Estadual orientem as forças de segurança, principalmente a Guarda Civil Municipal e a Polícia Militar do Estado do Espírito Santo, para que atuem de forma exemplar, inspirando as forças de segurança privada a atuarem para a garantia de direitos e o respeito aos indivíduos”.
Defendem ainda que “é necessário que a mídia não reforce ou valorize afirmativamente comportamentos agressivos e violentos e que toda a sociedade atue para a promoção e a efetivação de uma cultura de paz e de respeito”. As entidades também se comprometem a “colaborar com toda a sociedade serrana nesse sentido”, além de se colocar à disposição “para apoio, orientação e proteção do cidadão que foi vitimado nessa situação e de sua família”.
A deputada estadual Iriny Lopes (PT) afirmou em suas redes sociais estar “estarrecida” com a violência praticada dentro do Carone e destacou que “a abordagem correta mediante furto seria chamar a polícia. Não há nada que justifique essa atrocidade”, além de ter informado que seu mandato já cobrou apuração do Estado sobre o caso por meio da Secretaria Estadual de Direitos Humanos (SEDH).
A vereadora de Vitória Camila Valadão (Psol) também se pronunciou em suas redes, dizendo que “nossos corpos continuam na mira da política de criminalização e extermínio. Esperamos respostas dos órgãos competentes. Nada justifica tamanha violência e atrocidade!”. A também vereadora de Vitória, Karla Coser (PT), defende que o vídeo “mostra como a estrutura da violência racista precisa urgentemente ser combatida. Nada justifica a agressão, ainda que o homem tivesse furtado”, destacando ainda que não parece que o furto tenha ocorrido, já que a vítima foi liberada pelos seguranças.
Karla defende que “não se faz justiça com as próprias mãos” e que “muito menos devemos aceitar injustiças”. Também se mostra “chocada” com “a sensação de ‘impunidade’ dos homens que estavam sendo filmados”. Ela termina com o seguinte questionamento: “normalizamos a violência cotidiana?”.

Unidade Negra Capixaba organiza protesto contra agressão a homem no Carone
