Fotos: Iorran Coutinho
“Temos que mostrar o que nós somos!”, convoca Dona Helena Coutinho, nome tupinikim Imbira (filha da terra), anciã da aldeia Caieiras Velha, em Aracruz, no norte do Estado. Do alto de seus 70 anos bem vividos, seis filhos, mais de 50 netos, além de bisnetos e até tataranetos, Dona Helena é a guardiã da história dos Tupinikim do Espírito Santo, voz firme na defesa dos direitos do seu povo.
“Tenho 70 anos, mas ainda canto, danço, grito!”, graceja, citando os grupos de congo, curumins e guerreiras que ela ajuda a coordenar. É pelo som de sua voz e sua casaca que as manifestações culturais tradicionais dos Tupinikim se mantém vivos. O próprio grupo de mulheres, o Grupo das Guerreiras, foi retomado muito em função de sua visão e pulso.
“Fomos conversar com as mulheres, que não dançavam, aí todo mundo se reuniu, estão todas casadas. Aí mostramos os tipos de dança, as canoas, os jeitos que viviam aqui na aldeia”, relata Dona Helena, sobre a mobilização feita em função do Dia do Índio de 2019. Depois da festa na data comemorativa, o grupo continuou se apresentando e se reunindo.
“A gente estava muito parada, viu que estava morrendo, então decidimos levantar nossa cultura”, conta Cida Coutinho, filha de Dona Helena (foto acima). Agora, diz, são muitos convites para apresentações. “As mulheres não param mais”, comemora.
A Primeira Marcha das Mulheres Indígenas será o primeiro grande evento fora do estado. “No meu ponto de vista eu gostaria que todas nós fôssemos. Mas no momento é difícil, todas têm casa, filhos. Tem marido que coloca barreira. Então nós vamos nos reunir todas e ver quem está mais disponível”, conta Dona Helena.
A Marcha será uma oportunidade única para se fortalecerem na caminhada e nas experiências de outras indígenas do país, que enfrentam desafios e anseios semelhantes. A alegria e a união, ensina, são substrato da luta diária. “Vamos levar e trazer muita alegria. Porque nós estamos todos unidos”, exulta a anciã.
O encontro começa na próxima sexta-feira (9) em Brasília, estendendo-se até o dia 13. A expectativa é reunir duas mil mulheres dos mais diferentes povos, de todo o Brasil.
“Nosso corpo, nosso espírito”
Com o tema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, o objetivo é dar visibilidade às ações das mulheres indígenas, discutindo questões inerentes às suas diversas realidades, reconhecendo e fortalecendo os seus protagonismos e capacidades na defesa e na garantia dos direitos humanos, em especial o cuidado com a mãe terra, com o território, com o corpo e com o espírito.
A realização do encontro foi deliberada durante a plenária das mulheres no ATL em abril de 2019. Desde então lideranças de todas as regiões do país iniciaram o processo de mobilização das mulheres e a captação de recursos para a realização do encontro.
O encontro será realizado com recurso próprio das indígenas, apoio de organizações parceiras e com as doações arrecadadas em uma vakinha pela internet.
Também é possível colaborar doando milhas de viagens, mantimentos, cobertores e colchonetes para quem está em Brasília.