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Mulheres negras denunciam racismo e fazem reivindicações em manifesto

Ao longo desta semana, coletivos realizam diversas atividades em municípios do Espírito Santo

O Núcleo Estadual de Mulheres Negras divulgou um manifesto em que denuncia o racismo e deixa claro o que as mulheres negras querem para o seu “bem viver”. O documento foi divulgado em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, celebrado nesta segunda-feira (25). O lançamento do manifesto é o pontapé inicial de uma programação que termina no próximo sábado (30), com o Ato pela Vida das Mulheres Negras, na praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, das 9h às 13h.

A programação é realizada por coletivos de todo o Espírito Santo, com atividades como ensaios de bloco, oficinas, rodas de conversa, saraus, exibição de filmes, apresentações musicais, homenagens e feiras.

Conforme consta no manifesto, entre os estados do Sudeste, o Espírito Santo é o de maior expansão populacional. Dos 3,5 milhões de habitantes, 1,78 milhões são mulheres. Em meio aos capixabas, de acordo com o Núcleo, com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a quantidade de pessoas que se declaram negras é de 56,94%, sendo 48,62% pardos e 8,32% pretos.
O Núcleo denuncia “a falta de suporte de serviços presenciais, a taxa de desemprego nas alturas, a falta de auxílios socioassistenciais e a fome”, que “são elementos que atingem principalmente as mulheres e, mais ainda, as mulheres negras”.

O documento prossegue destacando que “a pandemia tornou muitas cativas de seus lares, da vida doméstica e de seus agressores. O racismo não está só na estrutura do estado. Temos o racismo institucional nas políticas públicas, mais particularmente, na ausência delas para a população negra e em especial, para as mulheres negras”.

O Núcleo reivindica trabalho digno e “respeito a nossa humanidade; às práticas religiosas de matriz afro, que contam a história do negro e da negra nesse país”. Também luta para que “todas as mulheres e meninas pretas neurodiversas, com algum tipo de deficiência, tenham acesso digno à escola, à saúde e ao acompanhamento em serviços públicos de modo adequado e orientado”; e pela “construção de uma agenda que combata o feminicídio sem considerar os agressores apenas em sua perspectiva individual, mas sim reconhecendo o machismo como pilar estruturante desta sociedade em que vivemos”.
Por meio do documento, as mulheres negras defendem ainda o direito a “territórios quilombolas reconhecidos e titulados, para que nossas companheiras negras possam viver e criar como legítimas cidadãs brasileiras”; e que o município de Vitória, “que criou uma das leis mais antigas de captação de recursos do Brasil: a Lei Rubem Braga, volte a respeitar os trabalhadores da cultura e pare de perseguir as manifestações culturais negras desta cidade”.
No que diz respeito a essa reivindicação, a coordenadora estadual do Círculo Palmarino, Ana Paula Rocha, destaca que existe uma “criminalização da cultura preta e periférica”, com atitudes como policiamento da Ronda Ostensiva Municipal (Romu), “com armas de cano longo e abordagem violenta à juventude negra”; a apreensão do som do Bar da Zilda na terça-feira de carnaval; e a multa aplicada ao bloco AfroKizomba em abril de 2022, na descida da Rua Sete, no Centro de Vitória. “O bloco fez todo o trâmite necessário para ir às ruas, mas a prefeitura negou, porém, a gente manteve, pois a rua é do povo”, ressalta.
O documento finaliza a parte das reivindicações destacando a necessidade da “presença do estado nas comunidades periféricas, não essa que tem ceifado a vida dos nossos filhos e nossa sanidade mental”; “um país que caiba em nossos sonhos de igualdade, sabedoria e respeito”; “a inclusão dos acervos de metodologia afrocentrada e periférica nas escolas e universidades e uma maior representatividade no corpo docente”; “a ampliação da democracia, ocupar espaços de poder e o fim da violência política de gênero”.
Tereza de Benguela
No manifesto, as mulheres negras relembram a memória de Tereza de Benguela, líder negra que viveu na região onde atualmente está localizado o estado do Mato Grosso. Ela lutou com sua comunidade de negros e indígenas por 20 anos antes de seu quilombo ser atacado e destruído pelas forças do Estado. “Os registros históricos sobre o período são imprecisos, ainda assim a memória atualiza o que a história não nos permite atestar”, aponta o documento.
Programação
Em referência ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, serão realizadas em todo o Estado diversas atividades. Ainda nesta segunda-feira (25), o bloco AfroKizomba realiza um ensaio aberto, às 19h, no Museu Capixaba do Negro (Mucane), Centro de Vitória; e o Coletivo FEPNES + Diversidade Núcleo de Cachoeiro de Itapemirim promove uma homenagem às mulheres negras e oficina de turbante e tranças.
Nesta terça-feira (26), às 18h, acontece o Cine Debate, com o filme Identidade – Serviço Social e Questão Racial, no auditório Biblioteca da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A programação desta quinta-feira (28) conta com uma roda de conversa sobre o Dia da Mulher Negra Latino Caribenha, organizada pelo Coletivo Dona Astrogilda, no Teatro Municipal de Aracruz, às 19h; e outra sobre Mulheres Negras, História que nos Negaram, às 19h, na Associação dos Docentes da Ufes (Adufes).
Nesta sexta-feira (29), será a vez da Feira Artística e Cultural Dia da Mulher Negra Latino Caribenha, organizada pelo PET de Serviço Social, às 8h; da homenagem às Mulheres Negras, feita pelo Coletivo FEPNES + Diversidade Núcleo de Alegre; e do show da Naomhi, às 19h30, na Thelema, Centro de Vitória.

Além do Ato pela Vida das Mulheres Negras, na Praça Costa Pereira, a partir das 9h, no sábado (30) acontece o Somos Terezas, às 11h, no Bar da Zilda, com oficinas, feira preta e roda de conversa; e Homenagem às Mulheres Negras, feita pelo Coletivo FEPNES + Diversidade Núcleo de Marataízes.

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