Ato que terminou no Palácio Anchieta reuniu mulheres indígenas, quilombolas, do campo, da cidade e artistas
Com uma saudação às ancestrais, foi dado início à Marcha do Oito de Março, no Centro de Vitória, na manhã desta sexta-feira (8). Dandara, Zacimba Gaba e outras mulheres negras exemplos de luta em suas épocas foram as referências para que, no Dia Internacional da Mulher, uma multidão fosse às ruas pelo fim das mais diversas formas de violência contra as mulheres. A Marcha, organizada pelo Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes), saiu da Casa Porto das Artes Plásticas e findou no Palácio Anchieta.
Mulheres indígenas, quilombolas, do campo, artistas e da cidade se uniram para também fazer memória de mulheres contemporâneas que são exemplos na mobilização contra o machismo e outras opressões e tiveram suas vidas ceifadas pela violência incentivada pela sociedade patriarcal, além de mostrarem que a luta das mulheres tem várias cores, origens e realidades, e que não se deve desprezar a diversidade na elaboração de políticas públicas.
Entre as mulheres que tiveram suas vidas ceifadas, foi feita memória a Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada há exatos seis anos, e Julieta Hernandez, palhaça venezuelana morta brutalmente em dezembro de 2023, no Amazonas, a caminho de seu país. Julieta, inclusive, morou em Vitória, onde fez amigos e atuou em projetos sociais e artísticos.
“A gente precisa falar muito da Julieta não só pelo legado dela, mas também porque precisa reforçar que ela foi morta por ser uma mulher. Isso não teria acontecido se ela fosse um homem. Eu conheço, acompanho vários ciclo viajantes, artistas, que conseguem finalizar suas viagens. A gente precisa pedir justiça por ela, porque tem sido falado muito que o assassinato foi somente por causa de um celular, mas não foi. As pessoas se assustam mais quando a gente fala que uma mulher estava viajando sozinha do que com o crime que foi cometido”, diz Vanessa Darmani, a palhaça Xexa, acompanhada de outras artistas que também traziam a memória de Julieta.
Não somente o direito de ir e vir sem sofrer violência por estar só foi reivindicado. O “eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, e poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar”, refrão do famoso Rap da Felicidade, transformou-se em “eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente com a roupa que escolhi, e poder me assegurar que de burca ou de shortinho todos vão me respeitar”, já que muitas vezes se culpabiliza a mulher pela violência sexual vivida, colocando como motivação do crime a roupa que ela estava usando.
Mas a mensagem passada pelo Rap da Felicidade também se fez presente na Marcha com a denúncia da violência sofrida nas periferias capixabas, causando o genocídio da juventude negra e o sofrimento de muitas mães diante da perda de seus filhos. Como onde há luta existe também conquistas, duas delas, ocorridas nesta semana, foram comemoradas durante a Marcha.