O mês da consciência negra se aproxima e a sociedade civil organizada já prepara um calendário de atividades alusivo à data, englobando rodas de conversa, cultura e manifestações de rua. Algumas dessas iniciativas irão evidenciar nomes de destaque na luta antirracista, como a atriz, escritora, jornalista e cantora Elisa Lucinda, que será homenageada, e a filósofa, escritora e fundadora e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro, que fará palestra no Museu Capixaba do Negro (Mucane), em Vitória.
Sueli Carneiro irá abrir a programação do Novembro Negro, com palestra na segunda-feira (7), às 19h. A atividade resulta da parceria entre o Instituto Raízes e as secretarias municipais de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho e de Cultura, e a pasta estadual de Cultura (Secult), por meio do Fundo Estadual de Cultura. Ainda será disponibilizado um link de inscrições, que serão limitadas à capacidade de pessoas do local. Sueli também participará de atividades que não são abertas ao público, como roda de conversa com os movimentos, principalmente os de mulheres.
“Escolhemos Sueli para a atividade no Mucane por ela ser uma grande referência na luta conta o racismo e fazer um trabalho muito importante com as mulheres negras”, diz a diretora de Projetos do Instituto Raízes, Keila Bárbara Ribeiro da Silva.
A homenagem a Elisa Lucinda será feita pelo Laboratório de Inovação Das Pretas, por meio do projeto Escola de Elisas, uma Escola de Letramento Racial e Futuros que tem como público-alvo meninas de 8 a 12 anos: negras, cis e trans, preferencialmente moradoras de territórios periféricos. As inscrições para as interessadas em participar devem ser feitas até a próxima segunda-feira (31) pelo site.
A Escola de Elisas busca, em seis encontros, proporcionar às participantes um espaço de trocas e convivência por meio da literatura, no qual possam construir suas identidades, “exercitando o sonho e a imaginação”. Através dessa iniciativa, haverá abordagem de temáticas como negritude, empoderamento feminino e construção dos futuros. “O projeto possibilitará a ampliação dos olhares infantis sobre a história e a conexão do entendimento de seus lugares no mundo e a construção de novas realidades”, ressalta o Laboratório de Inovação Das Pretas.
Nos encontros, as meninas receberão “O Presente de Elisa”, o seja, três kits contendo duas obras literárias em cada, que seguirão direcionamentos temáticos. No primeiro kit, o tema será sobre o presente – quem sou e meu lugar no mundo; no segundo, seguirão as temáticas relacionadas ao passado – quem veio antes de mim e minha; o terceiro trata do futuro – quem virá, o que virá e como será?
Nos encontros, aos sábados de manhã, serão fomentadas discussões literárias, sempre de forma que as meninas troquem suas vivências a partir das obras lidas e dialoguem com a poesia. “Todas as obras literárias juntas apresentam como podemos aprender a amarmos a nós mesmas, umas às outras, meninas e mulheres pretas que somos, em um mundo que nos ensina o contrário. Como é bonito gostarmos dos nossos cabelos, da cor da pele, corpos, jeitos e gostos. Cuidarmos de nós mesmas, com carinho e sabendo quando alguém está sendo racista e machista com a gente, buscando jeitos de não deixar que façam isso”, enfatiza Maria Pereira, curadora literária do projeto.
Marcha
Em novembro, também haverá a 15ª Marcha Contra o Extermínio da Juventude Negra, que, neste ano, será realizada no sábado, 19, e não no dia 20, Dia da Consciência Negra, como tradicionalmente acontece. A mudança se fez necessária pelo fato de que o segundo dia de aplicação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será justamente no dia 20, informa Ramon Matheus, integrante do Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), entidade que organiza a marcha.
A Marcha foi realizada pela primeira vez em 2007, a partir da criação de Fejunes após participação de uma delegação capixaba no I Encontro Nacional da Juventude Negra (Enjune), na Bahia. O principal objetivo é denunciar o extermínio da juventude negra e cobrar do poder público medidas para combater este genocídio que ocorre no Brasil.
A manifestação é uma das principais atividades anuais do Fejunes. O trajeto deste ano ainda não está plenamente definido. Segundo Ramon, o ponto de chegada será o Museu Capixaba do Negro (Mucane), no Centro de Vitória. O de saída ainda não foi definido.