Movimento Negro Unificado considera que a proibição para atuação de ambulantes na Curva da Jurema é racista
Há exatamente um ano, matéria do Século Diário apontou o processo de elitização travestido de revitalização, reurbanização, melhoria, pelo qual a praia da Curva da Jurema, em Vitória, estava passando. A situação parece ter se aprofundado, a ponto de, nesta quarta-feira (11), ambulantes se queixarem de ter que vender seus produtos a 200 metros da praia pelo fato de o local ser um “pólo gastronômico”, conforme estabeleceu a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos).
“Não é difícil identificar a cor dos ambulantes”, diz a militante do Movimento Negro Unificado (MNU), Vanda Vieira, destacando que esse grupo de trabalhadores é composto por uma maioria negra. O MNU se posicionou em suas redes sociais em relação ao tema. “O racismo se manifesta de inúmeras formas, a expulsão dos vendedores ambulantes do entorno dos quiosques, local com maior possibilidade de renda, pode ser uma dessas formas!! O que esperar de quem tenta tirar a fonte de renda de inúmeras famílias e ao mesmo tempo retirar da população mais pobre o acesso à praia, que é pública?”, questiona o Movimento.
Em entrevista a Século Diário quando essas mudanças foram denunciadas pelo site, o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Kleber Frizzera classificou que o que estava acontecendo tratava-se de um processo de gentrificação, ou seja, “transformação de centros urbanos através da mudança dos grupos sociais ali existentes, onde sai a comunidade de baixa renda e entram moradores das camadas mais ricas”.
Kleber afirmou acreditar que a gestão municipal estava “fazendo uma ‘limpeza’ para atender a interesses imobiliários”. “Há um esforço para transformar a área para outro tipo de público. O comprador do imóvel não vai querer que ao lado tenha uma praia popular. Os preços na Curva da Jurema certamente estão mais caros, o tipo de consumo está diferente, então se expulsa as pessoas pelo preço, por certas imposições, é como se o pobre tivesse que ficar no morro, não podendo usufruir das belezas da cidade”, diz.
A proposta de reurbanização da Curva da Jurema engloba reparo da ciclovia, implantação de paraciclos e remodelação das áreas de estacionamento, incluindo vagas para ponto de táxi, vagas destinadas a idosos e pessoas com deficiência, bem como de embarque/desembarque e carga/descarga, além de mudança no fluxo de trânsito, mantendo as 240 vagas.
A área total de intervenção é de aproximadamente 16 mil metros. As obras também vão incluir a criação de novas áreas verdes, a instalação de novo mobiliário urbano e a criação de novos acessos ao calçadão. Haverá, ainda, o alargamento e novo piso do calçadão e da ciclovia, criação de novas áreas de paisagismo e melhoria das existentes, além de iluminação com cabeamento subterrâneo.
As alterações na Curva da Jurema não param por aí. Está sendo construído atrás do Shopping Vitória e ao lado da praia o Reserva Vitória, condomínio de luxo que contará com dois empreendimentos: o Ilha Vitória e Ilha de Trindade Ocean Front Residence, ao lado do Parque Cultural Reserva de Vitória, inaugurado em dezembro passado, com espaços de lazer e obras de arte a céu aberto, em uma área de 16 mil m², construído pela iniciativa privada e cedido para a Prefeitura Municipal de Vitória (PMV).