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​’Não é difícil identificar a cor dos ambulantes’, diz Movimento Negro

Movimento Negro Unificado considera que a proibição para atuação de ambulantes na Curva da Jurema é racista

Há exatamente um ano, matéria do Século Diário apontou o processo de elitização travestido de revitalização, reurbanização, melhoria, pelo qual a praia da Curva da Jurema, em Vitória, estava passando. A situação parece ter se aprofundado, a ponto de, nesta quarta-feira (11), ambulantes se queixarem de ter que vender seus produtos a 200 metros da praia pelo fato de o local ser um “pólo gastronômico”, conforme estabeleceu a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Elaine Dal Gobbo

“Não é difícil identificar a cor dos ambulantes”, diz a militante do Movimento Negro Unificado (MNU), Vanda Vieira, destacando que esse grupo de trabalhadores é composto por uma maioria negra. O MNU se posicionou em suas redes sociais em relação ao tema. “O racismo se manifesta de inúmeras formas, a expulsão dos vendedores ambulantes do entorno dos quiosques, local com maior possibilidade de renda, pode ser uma dessas formas!! O que esperar de quem tenta tirar a fonte de renda de inúmeras famílias e ao mesmo tempo retirar da população mais pobre o acesso à praia, que é pública?”, questiona o Movimento.

Vanda destaca que a iniciativa da Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) buscar expulsar os pobres da praia não somente impedindo-os de trabalhar nela, mas também impossibilitando que a tenha como opção de lazer, uma vez que, sem os ambulantes, a única opção para consumo serão os quiosques, “que é tudo mais caro”. “As pessoas não podem trabalhar porque os riquinhos não querem gente oferecendo seus produtos na praia”, diz.
Ela aponta, ainda, que se houver negros nos quiosques, “estarão ali trabalhando para alguém que não é negro”, e que a praia, tradicionalmente, é frequentada por pessoas das comunidades populares, devido, por exemplo, à facilidade de acesso ao transporte público na região.
As mudanças ocorridas na praia da Curva da Jurema, em Vitória, ganharam repercussão nas redes sociais há um pouco mais de um ano. As transformações englobam, por exemplo, a transição de quiosques de padrão mais simples para outros mais sofisticados, e, consequentemente, mais caros. Além disso, a inserção, em espaços grandes da faixa de areia, de quadras de beach tennis e canoas Va’a, atividades pagas. Academia, café e lojas de roupa, também passaram a fazer parte do cenário.
Leonardo Sá

Em entrevista a Século Diário quando essas mudanças foram denunciadas pelo site, o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Kleber Frizzera classificou que o que estava acontecendo tratava-se de um processo de gentrificação, ou seja, “transformação de centros urbanos através da mudança dos grupos sociais ali existentes, onde sai a comunidade de baixa renda e entram moradores das camadas mais ricas”.

Kleber afirmou acreditar que a gestão municipal estava “fazendo uma ‘limpeza’ para atender a interesses imobiliários”. “Há um esforço para transformar a área para outro tipo de público. O comprador do imóvel não vai querer que ao lado tenha uma praia popular. Os preços na Curva da Jurema certamente estão mais caros, o tipo de consumo está diferente, então se expulsa as pessoas pelo preço, por certas imposições, é como se o pobre tivesse que ficar no morro, não podendo usufruir das belezas da cidade”, diz.

Polo Gastronômico

Em cinco de junho passado, Dia Mundial do Meio Ambiente, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, assinou a ordem de serviço para o início das obras de reurbanização da Curva da Jurema, que ganhará um polo gastronômico. A reurbanização faz parte do pacote da PMV de R$ 1 bilhão de investimentos em várias áreas, até 2024.
Perspectiva da praia após reurbanização. Imagem: PMV

A proposta de reurbanização da Curva da Jurema engloba reparo da ciclovia, implantação de paraciclos e remodelação das áreas de estacionamento, incluindo vagas para ponto de táxi, vagas destinadas a idosos e pessoas com deficiência, bem como de embarque/desembarque e carga/descarga, além de mudança no fluxo de trânsito, mantendo as 240 vagas.

A área total de intervenção é de aproximadamente 16 mil metros. As obras também vão incluir a criação de novas áreas verdes, a instalação de novo mobiliário urbano e a criação de novos acessos ao calçadão. Haverá, ainda, o alargamento e novo piso do calçadão e da ciclovia, criação de novas áreas de paisagismo e melhoria das existentes, além de iluminação com cabeamento subterrâneo.

Perspectiva da fachada do condomínio. Imagem: Divulgação

As alterações na Curva da Jurema não param por aí. Está sendo construído atrás do Shopping Vitória e ao lado da praia o Reserva Vitória, condomínio de luxo que contará com dois empreendimentos: o Ilha Vitória e Ilha de Trindade Ocean Front Residence, ao lado do Parque Cultural Reserva de Vitória, inaugurado em dezembro passado, com espaços de lazer e obras de arte a céu aberto, em uma área de 16 mil m², construído pela iniciativa privada e cedido para a Prefeitura Municipal de Vitória (PMV).

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