Segundo o Mapa, enquanto a taxa de homicídios por arma de fogo entre a população geral caia anualmente – mesmo que em índices irrisórios – entre jovens e negros as taxas só aumentam, o que demonstra que faltam políticas públicas para esta parcela da população. Para cada seis negros mortos por arma de fogo, um branco é assassinado.
Em 2014, foram mortas por arma de fogo 1.290 pessoas, o que representa taxa de 35,1 mortes por grupo de 100 mil habitantes, deixando o Estado na 5ª posição nacional entre os mais violentos e em 1º entre os estados do Sudeste. Entre 2013 e 2014 houve aumento de 4,8% nesta taxa, saindo de 33,5 em 2013 para 35,1 em 2015.
O Espírito Santo está atrás apenas de Alagoas, Ceará, Sergipe e Rio Grande do Norte nas taxas de homicídios por arma de fogo.
No entanto, é entre os jovens que ocorre o maior índice de mortes por arma de fogo no Estado. Em 2014, a taxa de pessoas com idades entre 15 e 29 anos que morreram vitimas de armas de fogo foi de 92,5 por 100 mil, índice que equivale ao extermínio da juventude. O Mapa anterior, que teve como base o ano de 2012, apontou que a taxa de morte de jovens por arma de fogo foi de 91,8 por 100 mil, ou seja, a cada ano o índice recrudesce.
A alta taxa de mortes por arma de fogo de negros no Estado também demonstra a seletividade desta violência letal. Enquanto em 2003 foram mortos 648 negros por arma de fogo no Estado, em 2014 foram 1.077, o que representa quase três negros mortos por dia por arma de fogo no Espírito Santo.
A taxa de homicídios de negros, que era de 37,3 por 100 mil em 2003, passou para 46,4 em 2014. Enquanto entre 2003 e 2014, a taxa de homicídios de brancos reduziu em 28,9%, a taxa de mortes por arma de fogo entre negros aumentou 24,7%.
O extermínio de negros no Estado fica ainda mais evidente diante do índice de vitimização negra. A chance de um negro morrer por arma de fogo no Estado era 326,7% maior que a de um branco em 2014. Em 2003 este índice era de 143,1%.
Municípios
Assim como em anos anteriores, o Mapa da Violência 2016 coloca a Serra como município mais violento do Estado e entre os 150 do País em que mais se mata com arma de fogo. A taxa média de morte de armas de fogo nos anos de 2012, 2013 e 2014 ficou em 68,9 por 100 mil.
Além da Serra, Pinheiros (norte do Estado) também está entre os que mais se mata por arma de fogo, com taxa média de 61,3; seguido de Cariacica, com taxa média de 53 mortes por 100 mil; Fundão, com 51,4; São Mateus, no norte do Estado, com 45,3; e Vitória, com taxa média de 44,2 homicídios por arma de fogo por grupo de 100 mil habitantes.
A Capital, aliás, saiu de 2ª mais violenta dentre as capitais do País em 2004 para 11ª em 2014, mas essa queda não foi suficiente para tirar Vitória da lista dos 150 municípios mais violentos do País.
Violência continuada
Segundo o Mapa da Violência, entre 1980 e 2014 morreram no Brasil 967,8 mil vítimas de disparo de arma de fogo. “Se esse número já é assustador, ainda mais impactante é verificar que 830.420 dessas mortes, isto é, 85,8% do total, foram resultantes de agressão com intenção de matar: foram homicídios”.
O estudo faz um paralelo entre a epidemia de Aids, causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), matou 12.534 pessoas no ano de 2014. “É um número que revela uma situação preocupante, dando origem, justificadamente, a inúmeras campanhas, programas, mecanismos de prevenção, proteção e/ou tratamento”. No entanto, no mesmo ano, morreram 44.861 pessoas por armas de fogo – quase quatro vezes mais que a Aids – e pouca ou nenhuma atenção houve. “No máximo, discursos preocupados e/ou políticas pontuais, contingenciadas tanto na sua cobertura e incidência, quanto no seu financiamento, continuidade e centralidade”.
As mortes por armas de fogo no ano de 2014 representam 123 vítimas por dia, ou cinco mortes por hora no País. “Número bem maior do que temos notícia de grandes chacinas e cruentos atentados pelo mundo, como os acontecidos na Palestina, ou no Iraque, ou na Bélgica em março do corrente ano, quando morrem, nos atentados, 31 vítimas. Ainda pior: praticamente, temos, a cada dia, o equivalente aos massacres de Paris de novembro de 2015, quando morrem 137 pessoas, incluindo sete dos agressores. Nosso número diário de mortes por arma de fogo é maior que o resultado do massacre do Carandiru, ocorrido em outubro de 1992, fato de grande repercussão nacional e internacional. Embora esse nosso número de mortes diárias por armas de fogo represente mais do que um massacre do Carandiru por dia, não provoca o mesmo forte impacto emocional, seja nacional, seja internacional; pelo contrário: discute-se hoje ampliar ainda mais a circulação de armas de fogo no País”.