Heloísa de Carvalho ocupava o cargo de coordenadora de Políticas dos Direitos da População Negra há seis meses
Em pleno Mês das Pretas e a uma semana do dia 25 de julho, quando se comemora o Dia da Mulher Negra, Latinoamericana e Caribenha, a cidade de Vitória é surpreendida com a exoneração da coordenadora de Políticas dos Direitos da População Negra, cargo vinculado à Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos (Semcid).
Nomeada há menos de sete meses, após um longo período em que o cargo ficou vago, sob seguidas reivindicações da sociedade civil, Heloísa de Carvalho foi destituída da função pelo prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos). As perguntas são muitas, vindas de diversas organizações e coletivos, e as cobranças por resposta e possível reparação também.
“No mês de julho, em pleno debate sobre o papel da mulher negra nos espaços de poder, uma mulher preta, qualificada, foi exonerada de forma agressiva pelo prefeito. Agressiva porque não se pensou em todo o trabalho que está sendo feito com ela para a população negra, na qualidade do trabalho que ela vinha fazendo. A gente vai cobrar o motivo da exoneração, mesmo sabendo que em uma indicação politica, pode ocorrer isso. Porque para nós, não há motivos que para sua saída”, posiciona Drica Monteiro, integrante da diretoria do Conselho Municipal do Negro (Conegro) e filiada ao Movimento Negro Unificado (MNU) e do Amara, coletivo de mulheres de Santo Antônio.
A cobrança vai acontecer oficialmente nesta quarta-feira (19), na reunião ordinária do Conegro, que acontece na sede da Semciv, às 17h. “Estamos pedindo um posicionamento do secretário [Diego Libardi], para que ele traga uma posição da gestão do prefeito sobre o que aconteceu”, afirma, ressaltando a experiência de Heloísa com a temática. A ex-coordenadora é doutoranda pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em questões raciais e coordenou também a Comissão de Estudos Afro-Brasileiros (Ceafro) municipal, espaço dentro da Secretaria Municipal de Educação (Seme) que trabalha a implementação da Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade da inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira no currículo das redes de Educação Básica do país.
Além da injustiça do ato contra a servidora, Drica acrescenta a necessidade da população negra saber como fica a Coordenação. “Até quanto vamos ficar sem uma Coordenação, novamente? Porque ficamos mais de dois anos com esse cargo vago. Cobramos do prefeito no ano passado, na Conferência Municipal da População Negra, questionamos essa ausência. Daí em janeiro a gente tem uma nomeação que agradou a todos os movimentos e espaços de representatividade, mas em julho, toma essa ‘porrada’. A gente quer entender da gestão o que está acontecendo”, reforça.
Em suas redes sociais, a vereadora Karla Coser (PT) também repercutiu a exoneração da coordenadora: “Uma grande perda para nossa cidade!”. Em nota de repúdio, a parlamentar afirma que durante 197 dias, Heloísa exerceu “brilhantemente seu cargo à frente da Coordenação e estava, inclusive, concluindo um projeto de fluxo dos casos de racismo do município de Vitória, na construção de uma cidade antirracista. Sem se calar diante das demandas importantes para a cidade. E também sem nunca desrespeitar seu chefe direto, o prefeito Pazolini”.
Acrescentou “foi a partir da sua luta para construir ações de fortalecimento de políticas para o povo preto, que ganhamos notoriedade nacional” e que sua exoneração, justamente no Mês das Pretas, “é muito opressivo” e que “nessa política do medo e da perseguição, quem perde é a cidade de Vitória, e hoje, principalmente, o povo preto”.