André Moreira exibiu vídeos do presidente da associação de Bento Ferreira em rondas
O vereador André Moreira (Psol) acrescentou à denúncia que já havia feito ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES), novas provas da atuação de uma segurança privada na abordagem e, até mesmo, na prática de violência física, principalmente contra pessoas em situação de rua no bairro Bento Ferreira, em Vitória. O material, em vídeos e fotos, foi enviado ao gabinete do vereador em um pen drive, além de uma carta com denúncias, que também foram entregues a Século Diário.
O denunciante ainda identificou Willians como assessor técnico na Coordenação de Fiscalização de Posturas e Comércio da Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec), mas que estaria lotado no Centro Pop. Contudo, não foram encontrados no Portal da Transparência dados sobre sua atuação nesse equipamento.
As ações de abordagem e agressão física, conforme consta na denúncia, são feitas por seguranças particulares a mando de Willians Bermudes Nunes, presidente da Associação Comunitária de Bento Ferreira (Acobef). André já havia falado sobre as denúncias no início de agosto. Além das agressões físicas a pessoas acusadas de furtos e roubos, a segurança privada estaria jogando jatos d’água em pessoas em situação de rua com caminhões da Prefeitura de Vitória, que deveriam ser utilizados para molhar os canteiros.
Na sessão dessa quarta-feira (2), André exibiu dois vídeos. No primeiro, Willians informa “uma ronda para ver se a gente acha o cara de boné e mochila nas costas para abordar e ver se tem algum flagrante”. Enquanto ele fala, é possível ver uma viatura da Polícia Militar (PM) passar ao fundo. O vereador, então, apontou a contradição entre o que foi apresentado no vídeo e a afirmação do presidente da associação, que segundo ele, foi até seu gabinete e disse que não havia rondas e abordagens feitas por segurança privada contratada pela Acobef.
“O presidente [da associação], que disse que não fazia ronda e abordagem das pessoas, acaba de admitir que faz. Pior, se vocês perceberem, passou uma viatura da Polícia Militar atrás dele. Se ele precisava abordar morador de rua ou outra pessoa em situação suspeita, não era ele quem tinha que fazer, nenhuma ronda privada poderia fazer. Deveria ter parado o vídeo, chamado o carro da PM e dizer, ‘olha, tem uma ocorrência ou suspeita de ocorrência, e vocês precisam atuar’”, defendeu André.
Em outro vídeo, Willians aparece dizendo que tinha um “noia roubando a academia e a oficina” e que “deram umas pancadas nele aí, está moído no chão”. Na primeira denúncia anônima feita ao vereador, havia a foto desse homem no chão, ensanguentado, mas o argumento dado por Willians era de que ele havia se acidentado, caído de um lugar muito alto. “O vídeo é um reconhecimento de que esse sujeito sofreu violência pelas pessoas que fizeram a abordagem”, aponta André.
O vereador defendeu que a denúncia precisa continuar sendo acompanhada pela Comissão de Segurança da Câmara de Vitória, e afirmou que não quer tirar o direito à segurança de ninguém, mas sim “garantir segurança dentro da lei, daquilo que está previsto como padrão, como normativa básica de segurança, que nasce na Constituição, vai até as leis ordinárias, e se cumpre lá nas mãos do policial, que tem que executar isso na forma da lei, e não fazendo vingança ou muito pior, com milícia”, diz.
André também destacou as denúncias de que carros-pipa da Prefeitura de Vitória estariam sendo utilizados para lavar à noite espaços onde as pessoas em situação de rua dormem. Conforme consta na carta encaminhada ao gabinete do vereador e a Século Diário, “os moradores de rua, já vulneráveis, são tratados de forma cruel, com seus pertences destruídos em suas moradias improvisadas, demolidas sob o desmonte de suas ‘casas’, orquestrado pelos agentes públicos através de ameaças com jatos d’água, tudo para ‘limpar’ o bairro de uma forma que beira a selvageria”.
Comissão de Segurança
Em agosto, a Comissão de Segurança da Câmara de Vitória se reuniu e tratou do assunto. Compareceu à reunião do colegiado o coronel da reserva da Polícia Militar Paulo Roberto Marangoni, que depôs, a pedido de André, sobre a ação que denominou de “vigilantes clandestinos” contra pessoas em situação de rua. Além do coronel Marangoni, a comissão convidou para a sessão o presidente da Acobef e o secretário municipal de Segurança, Amarilio Luiz Boni, que justificaram suas ausências “em razão de compromissos profissionais”.
Havia a intenção de convidar também o vice-presidente da Acobef, Luiz Nilton, mas ele não foi localizado. O coronel afirmou que deixou a presidência da associação em fevereiro último. De acordo com ele, recebeu reclamações recentes de moradores sobre a atuação de vigilantes clandestinos que estariam agredindo pessoas em situação de rua. Uma delas foi a de um procurador da Prefeitura de Vitória que testemunhou o grupo espancando uma pessoa na porta de seu prédio.
“Entendo que isso está errado. Não é um protocolo que a segurança no Brasil permite. Tem que chamar a Polícia Militar e conduzir até a delegacia”, diz, referindo-se a como agir em caso de roubos, furtos e outras ilicitudes. O coronel disse, ainda, que circulam nas redes sociais vídeos nos quais Willians mostra os “vigilantes” e fala que sua atuação era promessa de campanha, ou seja, “invoca para ele toda responsabilidade”.
Durante a reunião, foi exibido um vídeo com três “vigilantes”, sendo que um estava de capuz, no qual diziam que estavam agindo no combate a crimes como arrombamento, o que chamou atenção de André Moreira, que destacou que estão cumprindo “função típica de policiamento ostensivo”. Em outro vídeo, aparecia um morador de rua caído no chão, ensanguentado, que era justamente aquele que estava no vídeo apresentado nessa quarta e no qual Willians o classificou como “noia” e que tinha roubado uma academia e uma oficina e, além disso, falou que “deram umas pancadas nele” e que estava “moído no chão”.
Na ocasião, o vereador Aloísio Varejão (PSB) classificou as denúncias como “pesadas”. “Quando as pessoas se associam e contratam um sentinela, uma ronda, ajuda a segurança pública, mas tem que ser executado de forma ordeira”, disse. O vereador Leonardo Monjardim (PL) se disse “surpreso”. “Confirmo que já ouvi falar nessa denúncia, mas como é época eleitoral, achei que pudesse ser ruído de confronto político. Não sabia que estava tão materializado dessa forma”.