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‘O fim do racismo beneficia toda a sociedade’, afirma presidente da Unegro/ES

Primeira plenária da Unidade Negra Capixaba após a reeleição de Casagrande vai tratar das promessas não cumpridas

Divulgação

“Se até este momento Casagrande fez ouvido de mercador para as demandas apresentadas por nós, faremos nossas vozes ecoarem em cada canto deste estado. Por isso, conclamamos a comunidade negra e a sociedade capixaba como um todo a somar forças conosco e buscarmos estratégias para fortalecer nossa luta”.

O chamamento consta na carta aberta formulada pela Unidade Negra Capixaba para divulgar a sua primeira plenária após a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), a ser realizada no próximo sábado (28). No centro do debate, a cobrança das promessas de campanha que ajudaram a ladrilhar a recondução ao Palácio Anchieta do então candidato.

O pleito passa por três pautas principais: criação de uma Secretaria, de um Fundo Econômico e de um Plano Estadual de Equidade Racial. “As outras demandas são decorrentes dessas três”, pontua Wellington Barros, coordenador da plenária e presidente da União de Negros pela Igualdade no Espírito Santo (Unegro/ES), uma das entidades que compõem a Unidade Negra Capixaba.

O coordenador conta que, desde o resultado das urnas, o único aceno por parte de Casagrande foi o pedido, feito por sua assessoria, para que o movimento enviasse um documento com a priorização das pautas, o que foi feito ainda em 2022, sem qualquer retorno até o momento.

“A gente tem uma gerência de igualdade racial, mas ela não tem orçamento, não consegue implementar as medidas estruturantes que reivindicamos. Precisamos de uma política interssetorial, que atue na saúde, na educação, na segurança pública. Políticas que sejam estruturantes, pensadas a médio e longo prazo”, expõe o presidente da Unegro.

“Temos uma crítica muito grande ao modelo de segurança pública, por exemplo, liderada pelo coronel Ramalho, um bolsonarista declarado, que defende abordagens violentas nas comunidades. O discurso dele como candidato a deputado foi de ‘tolerância zero’ contra a criminalidade, mas na prática a gente vê força policial se voltando somente contra as comunidades”, ressalta.

Aliás, a violência policial contra a população e especialmente a juventude negra foi o motivo que levou à primeira reunião feita na gestão anterior de Casagrande com o movimento negro, quando do assassinato, por um policial militar, de um jovem morador de São Pedro, em Vitória. “Foi uma comoção muito grande. Só assim para ele nos receber. Depois, por conta da campanha à reeleição. E de lá para cá, nenhuma ação concreta”, critica, numa narração semelhante ao que aconteceu nas eleições de 2018.

Conforme noticiado em Século Diário em setembro de 2019, apesar de participar do debate realizado pelo Observatório Negro nas Eleições, em agosto de 2018, o primeiro realizado na história da corrida eleitoral capixaba, onde assumiu alguns compromissos, Casagrande não levou nenhuma medida a termo. “Agora já eleito, o que vemos é a negação das ações afirmativas e demais políticas raciais. Isso certamente contribuirá para que o abismo existente entre negros e brancos permaneça inabalável”, comentou, na época, o saudoso Lula Rocha, à frente do Círculo Palmarino/ES.

Primeiro escalão

Outra promessa de 2022 ainda não cumprida é a inclusão de pessoas negras no primeiro escalão do novo governo. À exceção da ex-vice-governadora, Jacqueline Moraes (PSB), que assumiu a recém-criada Secretaria de Políticas para as Mulheres, não há outros gestores não-brancos.

“Não é por falta de pessoas qualificadas”, afirma Welington, lembrando que a população negra corresponde a quase 60% da sociedade capixaba. “A agenda igualdade racial e superação do racismo não é uma agenda só do movimento negro, mas da sociedade brasileira como todo, porque o racismo faz mal para todo mundo e acabar com ele é algo que vai beneficiar toda a sociedade”, pondera.

Privilégios

Na carta aberta, as entidades afirmam que “esse silêncio diz muita coisa, representa o quanto o racismo estrutura as relações sociais e econômicas em nosso estado”. A mensagem é clara: “não se promove justiça social sem que se mexa em privilégios”.

Os privilégios à minoria branca e aos velhos detentores de poder econômico, no entanto, não apresentam qualquer sinal de redução nesse terceiro mandato de Casagrande. “Ele continua privilegiando os grandes projetos industriais. Nós fazemos a discussão sobre que tipo de desenvolvimento a gente quer. Na implantação de um grande projeto traz muita mão de obra de fora, nas depois de implementado, os empregos não absorvem a todos. Você tem incentivos milionários no Espírito Santo para grandes empresas e as políticas sociais não têm o mesmo orçamento”, compara.

De fato, mesmo quando o governo do Estado alcança um investimento recorde em políticas de transferência de renda, como foi em 2021, com um orçamento oito vezes maior que o ano anterior, o montante corresponde a pouco mais de 20% dos subsídios fiscais concedidos a apenas uma indústria poluidora, a Suzano, que anunciou o interesse em usar o benefício para construir uma fábrica de papel higiênico que irá gerar 200 empregos diretos, quando iniciar o funcionamento.

Ministério

A Unidade Negra enfatiza ainda a necessidade de o Espírito Santo criar estruturas robustas que possam dialogar com medidas que estão anunciadas e implementadas em Brasília, como o retorno do Ministério da Igualdade Racial.

“Não podemos perder o bonde da história. Com o governo Lula, uma avenida de oportunidades se coloca à nossa frente, precisamos saber aproveitar as mesmas. Para tanto, é fundamental um órgão de equidade racial em nosso estado com estrutura, com orçamento, com quadros políticos e técnicos qualificados para que de forma intersetorial as políticas públicas aconteçam”, reivindica a carta aberta.

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