A média salarial de homens empregados no setor formal no Brasil é de R$ 3,2 mil por mês, e das mulheres cerca de R$ 2,7 mil. A diferença é ainda maior para mulheres negras, que recebem praticamente a metade do rendimento dos homens brancos. A disparidade da média salarial entre homens brancos e negros chega a R$ 900,00. Dados como esse estão disponíveis no Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidade, lançado esta semana pelo Ministério Público do Trabalho, com apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A ferramenta foi elogiada por integrantes do movimento social capixaba. Lula Rocha, do Círculo Palmarino, entidade do movimento negro, ressalta que a desigualdade no país tem raça e gênero. “O racismo e o machismo são barreiras estruturais que impedem ou precarizam o acesso a direitos fundamentais às mulheres e aos negros. No mercado de trabalho não é diferente. Iniciativas como essa do Observatório são fundamentais para dar visibilidade a essas diferenças e fomentar que as empresas desenvolvam ações afirmativas para enfrentar essas disparidades”, disse.
Fala da procuradora do MPT Valdirene Assis, coordenadora da iniciativa, em reportagem sobre o projeto à Agência Brasil, ressalta que o objetivo é estimular as empresas a alterar as estruturas internas discriminatórias e racistas. “Os processos [seletivos] vão importar na progressão da carreira das pessoas que já estão contratadas. Conhecer os dados nos permite enxergar então que medidas a empresa pode adotar para incrementar a diversidade no seu quadro funcional”, analisa a procuradora.
Estudos das Nações Unidas mostram que empresas que promovem a igualdade tem uma probabilidade 32% maior de serem mais lucrativas. A diversidade contribui para que novos produtos e serviços sejam lançados, em sintonia com a expectativa e necessidade de diversos públicos.
Para conhecer o Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidade no Trabalho, basta acessar o site. A plataforma foi totalmente desenvolvida em código aberto e está disponível para download.
Metodologia
De acordo com o MPT, o mapa apresenta a disparidade entre os rendimentos de mulheres e homens, considerando vínculos de emprego (CLT) e de natureza administrativa, em panorama para todo o Brasil. A disparidade foi calculada subtraindo-se o valor médio mensal pago às mulheres do valor médio mensal pago aos homens.
As informações são baseadas em dados oficiais da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2017 (a mais atual disponível). A RAIS de cada ano é divulgada no ano seguinte em relação aos dados do ano anterior. No caso, portanto, a situação corresponde ao cenário com o qual se iniciou o ano de 2018. Nos casos em que a disparidade é negativa, nota-se em geral o peso da administração pública e de trabalho formal em funções como professoras e profissionais de saúde.
De acordo com a diferença por raça/cor entre o grupo que em média recebe a maior e a menor remuneração, incluindo vínculos com carteira assinada (CLT) e administrativos ou estatutários, conforme as cinco cortes de raça/cor definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para essa representação, o grupo negros contempla pretos, pardos e indígenas, ao passo que o grupo brancos envolve amarelos e brancos, de acordo com a RAIS.