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Os desafios enfrentados por pessoas trans ao procurar por atendimento psicológico

Profissional capixaba diz que pacientes ainda chegam ao consultório relatando casos de transfobia

Bandeira trans. Foto: Reprodução.

Todos os países tinham até o dia 1º de janeiro de 2022 para se adequar à nova edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), que retirou a transgeneridade da lista de doenças ou distúrbios mentais. Apesar da conquista, especialistas capixabas e entidades nacionais relatam uma série de problemas enfrentados pela comunidade trans ao procurar por atendimento psicológico e destacam atrasos, como a desatualização dos profissionais, a mistura da psicologia com a religião e a falta de fiscalização e denúncia dos casos de transfobia.

A psicóloga Iasmyn Cerutti, integrante do coletivo Resisto-ES, pontua que, de maneira geral, a profissão tem avançado nas formas de lidar com as questões de gênero e sexualidade. “Acredito que o Conselho tem se movimentado pela despatologização de forma interessante. Inclusive na luta pelo fim das terapias de conversão, às chamadas “curas gays” que são práticas pavorosas e antiéticas”, enfatiza.

Apesar das conquistas, a profissional aponta a necessidade de uma atualização dos próprios profissionais, principalmente quando se trata de atenção psicossocial. “Nesse quesito, acho que ainda temos muito a caminhar. Desde a formação de profissionais, com implementação de matérias e conteúdos sobre gênero, até os treinamentos e aulas de atualização para profissionais que já estão atuando”, destaca.

Para ela, também é necessária uma maior fiscalização por parte dos órgãos competentes, tendo em vista que a lgbtfobia é crime. Iasmyn atua na Clínica Aconchego, do Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Associação Gold), oferecendo apoio psicossocial gratuito a pessoas LGBTQIA+ da Grande Vitória. Ela conta que muitos pacientes chegam ao consultório relatando terem passado por profissionais que cometeram algum tipo de lgbtfobia.

“Desconhecimento por parte dos profissionais mesmo, de ter que ficar explicando o que é transgeneridade, de não respeitar o nome e os pronomes. Algumas pessoas que misturam religião com psicologia, e isso é bem antiético. Esses são os mais comuns relatados”, explica.

A transexualidade foi retirada da lista de doenças ou distúrbios mentais em todo o mundo. No dia 1º de janeiro de 2022, entrou em vigor a 11ª edição do CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), que deixou de usar o termo “transsexualismo”. Todos os países tinham até essa data para se adequar à mudança que já tinha sido aprovada pela Organização Mundial da Saúde em 2019.

Com a alteração, a transexualidade passou a estar na categoria “condições relativas à saúde sexual”, sendo definida como incongruência de gênero, quando o indivíduo não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) explica que a mudança atendeu uma demanda antiga da comunidade, tendo em vista que a última edição da CID era de 1990.

No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) já tinha orientado, desde 2018, que as travestilidades e transexualidades não fossem consideradas patologias. A Resolução CFP n°01/2018 orienta a atuação profissional de psicólogas e psicólogos no país, com o objetivo de impedir o uso de instrumentos ou técnicas psicológicas que reforcem preconceitos.

“É nosso papel nos atualizarmos constantemente e trabalhar com ética diante dos sujeites que nos chegam, por isso achei muito importante essa abolição do termo transexualismo e espero que isso suma de nosso vocabulário de uma vez por todas, afinal há um tempo relativamente bom que a OMS não considera doença, faltando somente a retirada do CID”, ressalta Iasmyn Cerutti.

A CID determina as diretrizes universais para os atendimentos, por isso a alteração é considerada uma vitória principalmente no âmbito das políticas públicas. Porém, ainda há muito o que avançar. “A Antra avalia que atenção direcionada à saúde das pessoas trans ainda está aquém da demanda (…) Precisamos de orientação, de assistência e de acolhimento”, destacou a entidade, em uma nota publicada nas redes sociais.

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