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Pastoral cobra apuração de denúncias de violações à população de rua

Vereador André Moreira aponta uso da máquina pública e atuação de “segurança clandestina e ilegal”

A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória cobra a apuração das denúncias de violação de direitos humanos contra a população em situação de rua na Capital tornadas públicas pelo vereador André Moreira (Psol) em sessão da Câmara Municipal, após recebimento de uma carta.

O denunciante afirma que uma equipe de segurança privada estaria agredindo fisicamente essas pessoas, acusadas de furtos e roubos, e jogando nelas jatos d’água, com caminhões da Prefeitura de Vitória, que deveriam ser utilizados para molhar os canteiros.

A ação seria a mando de Willians Bermudes Nunes, presidente da Associação Comunitária de Bento Ferreira (Acobef), identificado ainda, na denúncia, como assessor técnico na Coordenação de Fiscalização de Posturas e Comércio da Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec), mas que estaria lotado no Centro Pop. 

Contudo, não foram encontrados no Portal da Transparência, dados sobre sua atuação nesse equipamento, segundo denúncia formalizada pelo vereador ao Núcleo de Direitos Humanos e ao Grupo de Atuação Especial de Combate à Fome e de Defesa da Pessoa em Situação de Rua (Gaesfo) do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Secretaria Estadual de Direitos Humanos (SEDH), Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) e ao Comitê Estadual para a Prevenção e Erradicação da Tortura no Espírito Santo (CEPET).


O coordenador da Pastoral, Júlio César Pagotto, lamenta e pede apuração. “O que essas pessoas precisam é de política pública, e não de perseguição e tontura. Se tiverem cometendo algum ato ilícito, as autoridades competentes devem ser acionadas, mas nunca atuar agir com violência”, destaca.

Segundo ele, jogar jatos d’água em pessoas em situação de rua não é novidade em Vitória. “Preocupa muito essa prática recorrente. A gente recebe esse tipo de denúncia há tempos. Isso é mais uma ação cruel, degradante, contra pessoas que já são excluídas, marginalizadas, por quem já tem tantos direitos negados”, lamenta. 

André Moreira relata que Willians “estaria divulgando, estimulando e até mesmo patrocinando com dinheiro público o apoio a uma ‘segurança clandestina e ilegal’, sem registro nos órgãos competentes, para exercer o serviço de segurança privada”. 

Em conjunto com essa equipe de segurança, conforme a denúncia feita por André, Willians estaria tentando criar pacote de serviços para o bairro, incentivando que casas e edifícios residenciais participassem dessa contratação. Essa mesma equipe estaria também atuando como “justiceiros” em Bento Ferreira, “agredindo pessoas em situação de rua e suspeitos de pequenos furtos e roubos”. Além disso, Willians também estaria exibindo as ações de violência em vídeos enviados em grupos de WhatsApp.

André coloca imagens da atuação, apontando que os agentes de segurança fazem abordagens e revistas pessoais no bairro, entretanto, destaca que o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), no Informativo nº 651, determinou que “é ilícita a revista pessoal realizada por agente de segurança privada e todas as provas decorrentes desta”. Destaca, ainda, que “a atividade de segurança privada deve ser exercida intramuros, sendo vedada a realização de vigia em vias públicas, incluindo rondas noturnas – motorizadas ou não”.
Reprodução

Com base nisso, o vereador aponta que há indícios não somente de “infrações administrativas, mas também de crime de usurpação de função pública, previsto no artigo 328 do Código Penal, já que nenhuma empresa de segurança patrimonial poderia realizar as atividades de ronda noturna em vias públicas, atividade típica da polícia militar”.

“Para além disso, nos termos do relato anônimo, o grupo também estaria envolvido em atos de agressão e tortura por essa equipe de segurança privada, de pessoas em situação de rua que seriam suspeitos de cometimento de crimes na região”, diz a denúncia, com foto de uma pessoa em situação de rua que teria sido espancada pelo grupo.

André destaca que “há uma parceria entre a Associação Comunitária de Bento Ferreira e a empresa Grupo GTTAM (CNPJ 18.912.620/0001-62) em que seriam feitas ‘[…] para todos os residentes do nosso bairro […] patrulhas regulares, monitoramento de áreas críticas e ações preventivas contra possíveis incidentes’. Mas, apesar de divulgar os serviços de segurança privada, em seu CNPJ não consta os códigos correspondentes a eles do Cadastro Nacional de Atividades Econômicas”.

O texto aponta que “não se sabe a ligação da referida empresa com as práticas relatadas no documento anexo, porém devem ser investigadas essas ações justamente por terem semelhanças entre a descrição das atividades de segurança privada do post e as práticas descritas anonimamente. Como exemplos, citam-se (i) patrulhas regulares da empresa e as rondas noturnas do documento; e (ii) atuação da empresa há mais de um ano no bairro e a descrição nas imagens de que um caso de remoção da população em situação de rua teria sido feito por um ‘agente de segurança de Bento Ferreira”.

Willians, prossegue a denúncia, também estaria utilizando os serviços de segurança privada e a Guarda Municipal para jogar jatos d’água nas pessoas em situação de rua e seus pertences com caminhões da prefeitura. André, inclusive, anexa uma mensagem de whatsApp na qual o denunciado “chega a agradecer à Administração Pública Municipal, como se autorizado a desempenhar esses ‘serviços'”.

Para o vereador, a situação, se comprovada, trata-se de aporofobia, que, de acordo com ele, não deve ser percebida e combatida somente nas ações do Estado, ocorrendo também por meio de atos privados, “em especial naqueles provindos de funções de interesse público, como a segurança privada”. Ele acrescenta que “essa função pública é relevante ao ponto de que somente as empresas autorizadas pela Polícia Federal podem realizar as atividades de segurança pública, o que deve ser averiguado também no presente caso”.

‘Política Nacional’


Procurada por Século Diário, a Sedec informou que não foi notificada acerca da denúncia citada e que “repudia qualquer atitude que fira a dignidade da pessoa humana”. 

A Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) informou “que todo o trabalho junto à população em situação de rua segue as diretrizes da Política Nacional de Assistência Social, bem como o Decreto 7053/2009, que preconiza o atendimento baseado na garantia de direitos a esse público”. 
Disse, ainda, que “o trabalho social é realizado por equipe qualificada, por meio de atendimentos individualizados, em que as histórias de vidas são preservadas e dentro de uma metodologia dialógica, democrática e em consonância com as legislações em vigor, propiciando a superação da situação de rua”. 


‘Emprego para a população de rua é uma política pública importante’

TJES discute inconstitucionalidade de contratação de pessoas de rua por empresas vencedoras de licitações em Vila Velha


https://www.seculodiario.com.br/justica/emprego-para-a-populacao-de-rua-e-uma-politica-publica-importante

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