Comunidade apresentará demandas em reunião com construtora, que já iniciou as obras

A comunidade de pescadores do terminal da Praia do Canto, em Vitória, vai cobrar participação no planejamento das obras de urbanização do Canal de Camburi, projetado sem a devida consulta popular. Eles foram convocados para uma reunião nesta quinta-feira (3), às 16h, no canteiro de obras localizado na avenida Saturnino Rangel Mauro, pela empresa contratada para realizar as intervenções, a Contractor Engenharia, com objetivo de fazer a apresentação do projeto, e vão exigir que suas demandas sejam incluídas.
O pescador Antônio Queiroz expressou a indignação da categoria, afirmando que somente agora, com a obra já em andamento, a empresa organizou essa reunião. “O projeto que tem sido executado não passou por nós, não nos colocaram a par do processo, do procedimento da obra, e queremos saber se a proposta deles atende às nossas necessidades ou não”, destacou.

Segundo informações da Prefeitura de Vitória, o projeto para o Canal inclui uma marina, atracadouros, quiosques, restaurantes, passarelas e travessia do canal. Na margem norte, além da calçada para pedestres, está prevista a implantação de uma praça para eventos e uma arquibancada. Na margem sul, o projeto contemplará áreas destinadas à futura construção de duas edificações comerciais e uma peixaria. Também está prevista a construção de uma passarela para pedestres, que conectará as duas margens do canal entre os bairros Pontal de Camburi e Santa Luiza.
No entanto, Antônio ressalta a preocupação com a falta de estrutura adequada para a atividade pesqueira. “Fazer deque seria interessante, mas eles têm que respeitar o nosso espaço. Precisamos de um lugar para o encalhe de barco, onde fazemos manutenção, por exemplo”, pontuou. Ele destaca que há muitas embarcações no canal que precisam ser realocadas e que a comunidade pesqueira foi completamente ignorada no planejamento.
Entre as principais reivindicações dos pescadores, estão a construção de um atracadouro adequado para os barcos, uma rampa para encalhe e manutenção das embarcações e um espaço para os marisqueiros realizarem a queima dos mariscos. Além das questões estruturais, há preocupação com o impacto ambiental da obra. Segundo o pescador, áreas de mata nativa próximas ao manguezal, utilizadas como refúgio por pescadores e suas famílias, correm risco de ser removidas.
“Gostaríamos que fossem mantidas áreas que são arborizadas com a mata nativa do mangue. Pelo que temos acompanhado, o projeto deles é derrubar tudo”, explicou. Ele relatou que galhos de árvores já cortadas foram jogados sobre barcos dos pescadores, o que classificou como a “maior falta de respeito”.
A indignação da comunidade pesqueira também está relacionada à falta de reconhecimento histórico e cultural. “Somos uma comunidade centenária, e ainda existem pescadores bem antigos atuando nessa região. Nossa maior preocupação é ficar alijado do processo, excluídos do canal, e não ter nenhuma proposta que nos contemple”, afirmou Antônio, que reforça a critica de que os pescadores só foram informados das intervenções depois do projeto em andamento. “Eles conversaram com todo mundo, menos com a gente, os verdadeiros interessados sobre tudo isso”, ressalta.
Os pescadores exigem que suas demandas sejam levadas em consideração e incorporadas ao projeto, para que a reunião seja um espaço real de diálogo e não apenas uma formalidade, reiterou Antônio. O Canal de Camburi é uma das principais áreas pesqueiras de Vitória, e a falta de planejamento adequado para a comunidade pode comprometer a atividade tradicional na região.
A urbanização faz parte do projeto “Vitória de Frente para o Mar”, que visa conectar a região de São Pedro a Camburi através de uma orla. A primeira etapa foi concluída em julho do ano passado, com a inauguração da nova orla de São Pedro. A segunda, atualmente em andamento, abrange as orlas dos bairros Santo André, Redenção, Nova Palestina e Resistência. A prefeitura também planeja a criação da Orla de Andorinhas, que contemplará os bairros Andorinhas, Santa Luiza e Pontal de Camburi, e a reurbanização da Avenida Beira-Mar, no trecho entre o Clube Álvares Cabral e a antiga sede do Clube Saldanha da Gama.