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Pesquisa mostra realidade das travestis e mulheres trans capixabas

A prostituição de travestis e mulheres trans também é resultado da transfobia, o preconceito contra essa parcela da sociedade. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% dessas mulheres sobrevivem da prostituição no Brasil – país que mais mata travestis – pois simplesmente não conseguem acessar o mercado de trabalho formal.

No Espírito Santo, a pesquisa Trans Em Ação, da Associação Grupo Orgulho Liberdade e Dignidade (Gold), atou com as travestis e transexuais capixabas em situação de vulnerabilidade em seis municípios, para levantar esses e outros aspectos importantes da saúde, educação e direitos humanos desse segmento da população.

Os primeiros dados, coletados em São Mateus, serão apresentados na próxima quarta-feira (17), na Secretaria Municipal de Cultura, no Sítio Histórico da cidade, como parte da programação da exposição Projetando Identidades.

Tendo como público-alvo as mulheres trans que sobrevivem da prostituição no trecho da BR-101 que corta o município, a pesquisa revela que 60% dessas pessoas se sentem excluídas do mercado de trabalho formal.

Chamou atenção ainda a idade dessas profissionais do sexo: a faixa etária dos 30 a 35 anos é a menor de todas, correspondendo a apenas 4% do total, o que reflete localmente a estimativa de vida em nível nacional calculada pela Antra para as travestis e trans, que é de apenas 35 anos.

“Foi assustador. Já sabia dessa estimativa de vida, mas quando vê perto da gente, assusta”, afirma a pedagoga Flavia Ravache, educadora social responsável pelo projeto em São Mateus, juntamente com a assistente social Nina Flavia Leal.

A escolaridade média também é ponto de preocupação, pois apenas 8% possui ensino superior completo e incompleto, sendo que o maior percentual (40%) é de mulheres que concluíram o ensino médio, havendo 36% com ensino fundamental e 16% com ensino médio incompleto.

O objetivo, além de se aproximar dessa população e levantar dados sobre sua realidade, foi levar informações sobre a Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e AIDS e distribuir insumos essenciais ao trabalho de prevenção desses males, como o preservativo e o gel.

“Como eu vou negociar o uso do preservativo com o cliente, se ele se negar?” À pergunta, feita repetidamente às educadoras sociais, seguiu-se um diálogo franco e elucidador, feito entre iguais. As duas educadoras são mulheres trans, característica considerada essencial para o sucesso da abordagem.

“Há mais empatia, o que faz com que elas se sintam mais seguras para a aproximação e consigam se expressar melhor durante as entrevistas”, ressalta Flavia.

A pedagoga observa que as mulheres abordadas passaram a procurar a realização de exames de IST/AIDS, a solicitação do seu cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), a se registrarem no Cadastro Único de Assistência Social, a retificarem seu registro civil, entre outros autocuidados essenciais.

Outra busca empreendida pelo projeto foi aproximar o serviço público das mulheres travestis e transexuais, para que políticas públicas sejam disponibilizadas, seja em educação, saúde, segurança, assistência social e defensoria pública.

O projeto foi desenvolvido durante o ano de 2016 também em Colatina, Linhares, Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica e Vitória, “com apoio de técnicos municipais da assistência social, direitos humanos, educação, saúde, segurança púbica, Ministério Público e a sociedade em geral”, elenca Flavia.

Apenas metade das mulheres entrevistadas possui o cartão do SUS e 60% delas fazem uso do silicone industrial, que apresenta elevadíssimo risco para a saúde.

A autodeclaração de raça e cor revelou que 60% se consideram parda, 32% negra, 4% branca e 4% indígena.

A pesquisa revelou ainda que 73% se identificam como travestis (não desejam fazer a cirurgia de redesignação sexual) e apenas 27% se identificam como mulheres trans (desejam ou já realizam o procedimento). A orientação sexual de 88% é hétero, enquanto 8% se autoafirmaram bissexuais e 4% homossexuais.

Em novembro, a exposição Projetando Identidades segue para Colatina, onde também ficará por um mês.

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