Não bastassem a falta de acesso à moradia e diversas outras políticas públicas, como as de saúde e geração de emprego e renda, a população em situação de rua da Grande Vitória tem convivido cotidianamente com a violência. Muito se engana quem acredita que essa violência se resume a agressões praticadas entre eles ou relacionadas à compra e uso de drogas. Segundo o militante do Movimento dos Trabalhadores em Situação de Rua (MTSR), Wesley Cândido Zinek, conhecido como Mindu, muitas delas vêm do preconceito e da necessidade de “limpeza” por parte de pessoas que vêem na população em situação de rua um grupo que enfeia a cidade e atrapalha o comércio, por exemplo.
De acordo com Mindu, alguns comerciantes não gostam que pessoas em situação de rua durmam na porta de suas lojas. “Acontece de contratarem gente para dar surra, susto e até matar”, afirma. Um dos exemplos dados pelo militante é de um fato ocorrido em Bairro de Fátima, na Serra. Na ocasião dois homens encapuzados abordaram um grupo de pessoas em situação de rua, atirou para cima e disseram que da próxima vez que os abordassem o alvo dos tiros seriam eles.
A violência contra as pessoas em situação de rua tem se mostrado cada vez mais banal. “Em alguns casos, tem pessoas que passam de carro na frente de um grupo de pessoas e começam a atirar”, relata Mindu, que afirma ser a Vila Rubim, em Vitória, um lugar onde isso tem acontecido com mais frequência. De acordo com ele, muitos acreditam que esse bairro é a cracolândia capixaba, que as pessoas em situação de rua que ali estão são todas usuárias de crack. “Nem toda pessoas em situação de rua são usuárias de drogas e mesmo se fosse isso não dá a ninguém o direito de matar”, diz.
Motivos que levam às ruas
De acordo com Mindu, os motivos que levam as pessoas a viver em situação de rua são diversos. O desemprego é um deles. “Tem casos de pessoas que vêm do interior com a família, mas não conseguem trabalho aqui. A esposa se vira como pode. Como na nossa cultura entende-se que o homem deve ser o provedor da casa, alguns deles não suportam conviver com essa realidade e passam a usar álcool e outras drogas. Para não ser mais um problema para a família, acabam indo para a rua”, diz o militante do MTSR.
Outros, segundo Mindu, foram expulsos de casa em virtude de sua orientação sexual, possuem alguma doença psíquica, entre outras situações que mostram que os motivos que levam as pessoas às ruas são os mais variados possíveis. Para a o agente da Pastoral da População de Rua, Júlio César Pagotto, tem ocorrido um aumento do número de pessoas em situação de rua em Vitória.
“Percebo que tem aumentado de uns três anos pra cá. Foi quando a crise econômica se aprofundou. É um fenômeno social complexo, cuja maior causa é a situação de exclusão social. Para lidar com isso é preciso um conjunto de ações, oferecer vários serviços simultaneamente, não se resumindo à assistência social, mas englobando questões como saúde, educação, moradia, geração de emprego e renda. População de rua não é caso de polícia, e sim, de política pública”, diz Júlio.
Articulação Metropolitana
De acordo com o Secretário de Direitos Humanos da Prefeitura Municipal de Vitória, Bruno de Souza Toledo, cerca de 51% das pessoas em situação de rua em Vitória são de outros municípios da Grande Vitória, do interior ou até mesmo de outros estados. Por isso, ele defende que a ampliação de serviços com foco nesse grupo deve ser uma discussão metropolitana.
“Não deve ser somente responsabilidade de Vitória. Por isso a prefeitura de Vitória propôs ao governo do Estado a criação de um comitê metropolitano para tratar dessa questão. Assim, Vitória pode se articular com os demais municípios com apoio do governo estadual”, diz Bruno, que defende que o avanço das políticas voltadas para pessoas em situação de rua não deve se resumir à área da assistência social.
O secretário destaca a intensificação da abordagem de rua como uma das melhores formas de elevar a qualidade de vida da população em situação e rua, proporcionando a criação de vínculo, de confiança. Uma das iniciativas que ele salienta é a Tenda do Bem, que funciona desde março em Jardim da Penha e oferece capacitações, serviços nas áreas de saúde, entre outros. De acordo com ele, a iniciativa conta com profissionais de diversas secretarias. A ideia é que ela possa ser itinerante e institucionalizada.