Além de abrigar famílias, ocupação serve para articulações e reuniões do movimento de luta por moradia
No último dia 8 de outubro, a ocupação Casa Resistência Urbana completou três anos de existência na região do Parque Moscoso, Centro de Vitória. O local que hoje abriga quatro famílias de lideranças dos movimentos de luta por moradia estava em estado de abandono há mais de uma década. Na última semana, a Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) conseguiu na Justiça um pedido de reintegração de posse do imóvel, formado por um conjunto de três casas, que já serviu de espaço de acolhimento de menores infratores, antes de deixá-lo abandonado.
Os moradores ainda não foram notificados, mas devem ter até dez dias para se retirarem do espaço depois disso. Além de moradia e espaço para reuniões, a Casa Resistência Urbana abriga uma cooperativa de estamparia que produz roupas que são vendidas e ajudam a gerar renda para as famílias ocupantes. “O estado em que encontramos o imóvel foi deplorável. A estrutura da casa até estava boa, mas o acabamento estava destruído, tinha até cipó dentro”, diz Marcus Loss, integrante das Brigadas Populares e um dos moradores da casa. Com recursos e trabalhos próprios, os movimentos fizeram reformas e ajustes para tornar o espaço habitável.
“É mais um exemplo de como é feito o diálogo da prefeitura de Vitória com as ocupações. O mandato de reintegração de posse é a única forma que com que eles se dispõem a conversar com a gente”, protesta Marcus, em referência à gestão do prefeito Luciano Rezende (Cidadania).
A justificativa da prefeitura aponta que a casa precisa ser demolida para a construção da nova escola municipal São Vicente de Paulo. Porém, as Brigadas Populares alegam que o próprio vice-prefeito Sérgio Sá (PSB), hoje candidato à prefeitura, quando esteve no local conversou com lideranças e assegurou que não iriam mexer com a ocupação e o imóvel. Marcus Loss aponta estranhamento na argumentação da prefeitura, pois teria passado a fase de demolição e já estão sendo feitas obras de construção de muro, piso e calçada.
“É um despejo que está para ser feito sem nenhum diálogo numa conjuntura em que a população está cada vez mais pobre, com dificuldade para garantir seu alimento devido à alta dos preços, imagina então ter que pagar um aluguel com os preços que são exorbitantes. Para famílias como muitas que vivem com um salário mínimo, são condições de vida quase desumanas”, aponta o integrante das Brigadas Populares.
Ele convoca os apoiadores a acompanharem e compartilharem a campanha Despejo Zero. Só nas ocupações em que participa, as Brigadas Populares já contam em quatro anos um total de 18 despejos de ocupações em imóveis abandonados na capital capixaba, tanto de edifícios públicos como de privados.
“Já são 10 desocupações durante a pandemia em todo Estado. É preciso continuar resistindo, porque enquanto morar for um privilégio, ocupar continua sendo um direito”, conclui Marcus Loss.