Comunidade de Vila Esperança buscava respostas sobre despejo anunciado para esta semana

Famílias da Ocupação Vila Esperança, localizada na região de Jabaeté, em Vila Velha, foram até a prefeitura municipal na manhã desta terça-feira, para cobrar um posicionamento do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) sobre a iminente reintegração de posse da área. Consolidada há nove anos, a ocupação abriga mais de 800 famílias que agora enfrentam a incerteza da remoção, marcada para esta sexta-feira (28), conforme decisão do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES).
O prefeito é apontado como responsável por ter aberto caminho para que a Justiça Estadual emitisse a reintegração de posse, ao revogar o decreto de 2020 do então prefeito Max Filho (PSDB), que declarava a área como de interesse social, o que permitiria a desapropriação do terreno para fins habitacionais. Com a anulação da decisão, a Justiça deu ordem de reintegração de posse, o que deixou a comunidade em extrema vulnerabilidade diante da falta de soluções para garantir moradia digna às famílias afetadas.

Ao chegarem à prefeitura, os manifestantes exigiram um diálogo direto com Arnaldinho, que se recusou a conversar com a comunidade. Representantes da administração pediram que uma comitiva fosse formada para ser recebida por um secretário e um assessor, enquanto os demais deveriam deixar o prédio. A equipe da prefeitura não discutiu soluções concretas para as famílias e se ateve a garantir que o protesto fosse dispersado para retomar a rotina do prédio, como relata um dos moradores da ocupação, Josué Santos.
Enquanto a reunião ocorria, os moradores permaneceram em frente à prefeitura, entoando palavras de ordem como “Construir para morar, resistir, ocupar” e “Nossos direitos vêm, nossos direitos vêm. Se não vêm nossos direitos, o Brasil perde também”. No entanto, ao fim da reunião, quando os manifestantes começavam a se dispersar para retornar à ocupação, foram cercados pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal. Os agentes utilizaram spray de pimenta contra os moradores e realizaram a prisão de um dos manifestantes, identificado apenas como João.
Josué criticou a violência empregada: “Essa ordem com certeza partiu do prefeito. Eles esperaram a gente sair da prefeitura, caminhar por duas ruas e, então, atacaram todo mundo. Jogaram spray nos olhos de crianças e idosos. Nosso objetivo nunca foi fazer baderna, só queremos saber qual é a solução para as famílias. Não quebramos nada, não desacatamos ninguém, mas fomos tratados como criminosos”.
Em nota oficial, o prefeito Arnaldinho Borgo reafirmou sua posição contrária à ocupação e defendeu a remoção das famílias, dizendo que “Vila Velha não aceita mais ocupações irregulares”. “As identificadas pela prefeitura e passíveis de regularização, o município está trabalhando para que isso ocorra. Neste exato momento, estamos construindo 280 moradias sociais para acolher famílias em vulnerabilidade social. E temos mais programas de habitação social que serão iniciados. Chega de grilagem de terra e manipulação das famílias de bem de Vila Velha por meio de informações falsas”.
Em resposta, a comunidade publicou uma nota de repúdio em suas redes sociais: “Prezado Prefeito Arnaldinho Borgo, estamos tentando diálogo com você e com a gestão municipal há bastante tempo. Se você realmente se preocupa com a moradia das pessoas, como insiste em dizer, mesmo se recusando a dialogar, por que retirou a área de Vila Esperança da classificação de interesse social? E por que não apresentou nenhuma solução concreta para as 800 famílias e mais de 500 crianças que estão prestes a ficar sem lar?”.
O documento prossegue: “muito se fala sobre acabar com as moradias irregulares em Vila Velha. Sendo assim, quando a prefeitura vai acabar com as moradias irregulares do Morro do Moreno? Queremos saber por que a política pública é seletiva e segue prejudicando o povo mais vulnerável. A oferta de 280 moradias para mais de 800 famílias é insuficiente e insultante. Vila Esperança exige respostas concretas e soluções eficazes para a crise habitacional. A comunidade merece respeito e dignidade!”, defende a comunidade.