Celebração neste sábado resgata trajetória de padre Gabriel e convida para o engajamento nos movimentos populares
Levanta, levanta, minha terra!
Desperta, ó povo, desperta!
Tem gente matando gente, gente tirando a vida da gente
Tira essa faca do meu peito
Esse é o canto, sangue da gente
Sangue derramado, clamor de justiça
Grito por liberdade, liberdade!
por Raquel Passos e Carlos Oliveira
Veio da música Pra Ver a Vida Acontecer, de Raquel Passos e Carlos Oliveira, o tema da celebração do 33º Ano do Martírio de Padre Gabriel Félix Roger Maire, que é “Vidas pela Vida Clamor de Justiça”. A celebração acontece no próximo sábado (23), a partir das 18h30, na avenida Carlos Lindemberg, onde o corpo do sacerdote francês foi encontrado. No local foi construído o Memorial dos Mártires, recordando a memória não somente de Gabriel mas de outras pessoas que, conforme destaca o tema deste ano, deram suas “vidas pela vida”.
Mas o que seria esse “dar vida a vida”? Joana Penha de Souza, integrante do grupo Ecos de Gaby, que atua na preservação da memória de Padre Gabriel, explica que se trata das pessoas que foram mortas por lutar por igualdade e justiça. Essa afirmação vai ao encontro de outro trecho de Pra Ver a Vida Acontecer, pois como diz a canção, “tem gente matando gente, gente tirando a vida da gente”, já que se mata dando fim à existência de um organismo, mas também tirando a dignidade das pessoas diante da negação de seus direitos.
Assim como a canção convoca as pessoas ao despertar, Padre Gabriel, na década de 80, já fazia esse convite impulsionando a participação nos movimentos sociais e sindicais, na comunicação popular, na luta por moradia, igualdade de gênero, saneamento básico, transporte público, saúde, educação e tantas outras coisas. Para o Ecos de Gaby, essa atuação está alinhada ao exemplo de Jesus Cristo, que também foi martirizado por assumir as causas dos mais necessitados.
A ideia, acrescenta, “não é fazer a memória na perspectiva da morte”, mas “cantar a esperança nesse Advento, nessa criança que vem e nos faz acreditar na vida”, salienta Joana, referindo-se à preparação para o Natal, e, portanto, para a comemoração do nascimento de Jesus. Foi justamente no período do Advento que, há 33 anos, no dia 23 de dezembro de 1989, padre Gabriel foi morto.
O crime, até hoje não elucidado, sem nenhuma chance de punição aos mandantes, pois prescreveu, chegou a ser considerado latrocínio, mas nunca houve indício disso, uma vez que absolutamente nada foi roubado. O corpo foi encontrado dentro de um fusca de propriedade do sacerdote, na avenida Carlos Lindemberg.