Caso foi denunciado por Wilson Rodrigues Nascimento à OAB-ES e em B.O registrado na Polícia
Por meio de um expediente apresentado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES) e o registro no Boletim de Ocorrência na Polícia Civil (BO), nesta quinta-feira (23), Wilson relata perseguições, desrespeito aos direitos humanos e práticas autoritárias do reitor. A OAB encaminhará uma notificação ao padre, acusado de obrigar seminaristas a frequentarem aulas presenciais, sob a ameaça de expulsão, ignorando o risco de contaminação da Covid 19.
A decisão do reitor colocou em risco a permanência no seminário não só de Wilson, mas de outros 18 alunos, excetuando Pablo Antunes Colle, que está em São Mateus, norte do Estado, e não atendeu à convocação, que, se for mantida, marcará seu desligamento.
“Dependendo da situação imposta pelo senhor na recusa em me acolher, vou me desligar do processo formativo, não porque eu quero, mas porque o senhor está me obrigando a tomar essa decisão, eu não posso ir para aí, porque eu corro risco em levar o vírus para dentro do seminário e contaminar meus colegas, corro risco de ir para Vitória e ser contaminado”, afirmou Pablo em mensagem enviada ao reitor.
Tudo começou com a decisão do reitor para que os alunos quebrassem a quarentena imposta pelo avanço do coronavírus e se sujeitassem ao risco de serem contaminados pela Covid-19 indo para o seminário, localizado na Serra. Wilson, que está com mais 18 no seminário, ressalta que o município faz parte da Região Metropolitana da Grande Vitória, epicentro de transmissão da doença, conforme o próprio governo do Espírito Santo publicou em redes sociais no dia 20 de abril, um dia antes da data prevista para o retorno ao seminário, seguindo a ordem do reitor.
“A igreja me completava e minha vontade é prosseguir, mas diante de um cenário como esse é impossível”, lamenta Wilson, e desabafa: “O autoritarismo é o último refúgio dos canalhas, mas a realidade física que eu percebo através dos olhos e dos sentidos me dá condições de me situar, me posicionar diante da realidade, e isso incomoda demais as escrituras de poder que estão num mundo moderno, mas enraizadas em práticas antigas e muitos já caíram por causa disso”.
Na manhã dessa quarta-feira (22), depois de ser convidado para uma reunião com o reitor, Wilson conta que foi destratado: “Visivelmente alterado solicitou que eu deixasse meu aparelho celular e meu notebook numa sala ao lado, que havia levado a fim de apresentar a ele algumas situações que havia descrito no equipamento”.
Segundo o relato de Wilson, o padre Elder Malovini Miossi comunicou informalmente no mês de março, em uma reunião realizada coletivamente, que deixaria opcional quem dos 20 seminaristas que moram na casa quisesse ir para a casa dos familiares por causa do início da pandemia de coronavírus no Espírito Santo.
Até aquele momento, ele seguia os protocolos adotados pelas Dioceses de Colatina e Cachoeiro de Itapemirim e pela Arquidiocese de Vitória, que de imediato orientaram a seus seminaristas que fossem para casa, considerando que o ambiente do seminário oferece riscos de proliferação do novo coronavírus. Em 16 de abril, o reitor mudou de ideia e comunicou que todos estivessem no seminário, para prosseguir com as aulas presenciais.
O risco de contaminação em ônibus, levando em conta que muitos residem no interior, notadamente em São Mateus, norte do Estado, gerou reações contrárias, não acatadas pelo reitor. No dia 19 desse mês, em mensagem encaminhada ao reitor, Wilson, “sendo formando e consequentemente subordinado a ele”, manifestou preocupado com situação imposta pelo reitor.
Da mesma forma, o seminarista Pablo Antunes Colle comentou: “Amanhã [21] termina o dia em que o senhor estipulou para o nosso retorno para o seminário, e eu vivi neste final de semana, após o envio daquela nota que foi enviada no grupo, pedindo o nosso retorno, um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Nós saímos dai com poucos casos confirmados no Estado e atualmente esses casos estão bem elevados e sobretudo na região metropolitana”.
Em outro comunicado, Pablo afirma que a situação está muito mais crítica. “Estou estudando em casa e cumprindo rigorosamente com os estudos. Diante do agravamento da situação, não me sinto seguro a um retorno imediato, tentamos dialogar com o senhor, conversei com o Wilson, com o bispo, mas o senhor continuou irredutível na sua posição”.
Comenta ainda Pablo: “Quanto ao meio de transporte para o retorno, o senhor sugeriu o meio mais conveniente. O mais conveniente que temos é o ônibus, e aqui só tem um ônibus diário, meus colegas; me perguntou sobre a possibilidade de pedir um carro da prefeitura, eu não acho conveniente porque poderia colocar em risco de contágio também o motorista que iria nos levar. Minha consciência pesou diante disso, e sabemos que dentro do ônibus é um local muito inadequado”.
E em outro trecho da mensagem: “O processo formativo a gente pode recuperar depois, mas uma vida que se perde a gente não recupera mais, e outra coisa, o senhor tem consciência que está colocando em risco o futuro da diocese com essa decisão? Por capricho e por autoritarismo, porque não nos escuta e estamos tendo uma formação baseada no medo e pela pressão”.
Enquanto não se define a questão, as aulas estão sendo ministradas à distância na faculdade UniSales, para os seminaristas que estudam filosofia, e no Instituto de Filosofia e Teologia do Espírito Santo (IFTES) estão suspensas para os seminaristas de Teologia. No entanto, atividades coletivas, como orações e as refeições estão sendo desenvolvidas, apesar das recomendações das atividades sanitárias.