Trabalhadores protestaram do lado de fora da Codesa, durante cerimônia de assinatura da venda da companhia
Entidades ligadas aos trabalhadores portuários do Espírito Santo realizaram um protesto silencioso nesta segunda-feira (5), manifestando seu sentimento de luto pela venda da Companhia Docas capixaba (Codesa). Faixas foram estendidas do lado de fora do prédio, enquanto dentro, uma cerimônia reservada selava a assinatura do contrato de venda para a empresa Quadra Capital.
Sobre o fundo preto, letras garrafais avisavam: “Privatização da Codesa, portuários de luto, daremos o troco na eleição”, com assinatura do Sindicato dos Trabalhadores da Orla Portuárias do Espírito Santo (Suport-ES), Federação Nacional dos Portuários (FNP), Federação Nacional dos Estivadores (FNE), Federação Nacional dos Conferentes e Consertadores de Carga e Descarga, Vigias Portuários Trabalhadores de Bloco, Arrumadores e Amarradores de Navios, nas Atividades Portuárias (Fenccovib), Intersindical, Guarda Portuária e Arrumadores.
“Entregar a Autoridade Portuária a uma empresa que nem do setor portuário é assusta os trabalhadores, que vivem um clima de insegurança e medo, sem saber que destino vão ter. O Suport-ES realmente torce para que haja o desenvolvimento prometido para a Codesa, mas lamenta que o lado social não esteja sendo prioridade nesse processo”, registrou o sindicato em suas mídias, assinalando a presença, na cerimônia de compra e venda, do ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio; prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos); e futuro presidente da Codesa, Ilson Hulle (ex-diretor do TVV).
Presidente do Suport-ES, Marildo Capanema chama atenção para a exclusão que caracterizou todo o processo. “Nós não fomos chamados em nenhum momento, nem no início das discussões sobre a privatização, nem agora, na cerimônia de assinatura da venda. Estamos bastante insatisfeitos. Esse governo tem prejudicado não só os portuários, mas todos os trabalhadores brasileiros”.
A expectativa é de revisão dos prejuízos acumulados a partir das eleições. As entidades portuárias já entregaram ao candidato à presidência da República, Lula (PT), um documento em defesa dos portos brasileiros. “Se em outubro mudar o governo, acreditamos que só o Espírito Santo vai ficar com o prejuízo de ter sua autoridade portuária privatizada”, avalia Marildo.
Prejuízos salienta, que não são apenas dos trabalhadores. “Tanto os trabalhadores empregados e avulsos quanto a comunidade capixaba, todo o Espírito Santo. Nós acreditamos que haverá evasão de cargas depois da privatização, até porque a empresa terá o monopólio”.
O processo de privatização portuária brasileiro, que foi inaugurado no Espírito Santo, expõe singularidades negativas do atual governo federal, sublinha o diretor sindical, especialmente a concessão da autoridade portuária, que faz a gestão do porto, uma atribuição que é do poder público. “Afeta a soberania nacional. No mundo, se não me engano, foi só a Austrália que fez isso, mas já mostrou que não deu certo. Tudo o que não dá certo lá fora esse governo irresponsável traz para o nosso país”.
‘Escravidão’
O trabalho intermitente é outro exemplo. “Na Inglaterra é assim, mas o pagamento é justo, compensa. Um entregador de pizza lá ganha onze a doze libras [entre R$ 65 e R$ 71, na cotação de hoje] para fazer uma entrega. No Brasil, pega um salário de miséria, que é R$ 90 por dia, por oito horas, e divide pelas horas trabalhadas. Às vezes contrata só por três ou quatro horas. Isso é uma vergonha! É escravidão!”, repudia.
E essa dinâmica está chegando no porto, lamenta. “Já tem empreiteiro utilizando esses valores. Tem dono de empreiteira que fica rico explorando os trabalhadores. As empreiteiras de bloco fazem isso. Contratam os trabalhadores para limpeza de porão, instalação de energia elétrica em porão e paga essa miséria. Como não tem emprego, ele se sujeita a isso. Só copiam as coisas ruins que veem na Europa, só o que é ruim para o trabalhador”.
Com a privatização, acredita, essa precarização deve piorar. “A autoridade portuária, na mão da iniciativa privada, é que vai discutir aumento de tarifa, dragagem. Quando está na mão do governo e tem vários operadores, a cobrança é a mesma, mas privada, pode privilegiar alguém. Quem vai perder são os pequenos operadores de portos, que vão ter que disputar carga com outros operadores maiores, que detêm porto. Muitas cargas podem evadir do Estado”.