As gestões dos prefeitos de Guarapari, na Grande Vitória, Edson Magalhães (PSDB), e de São Mateus, no norte, Daniel da Açaí (sem partido), não convocaram a Conferência Municipal de Juventude. A omissão gerou reação da sociedade civil, que tomou iniciativa de fazer a convocação. Nas duas cidades, o processo de escuta dos jovens, elaboração de propostas de políticas públicas e eleição de delegados para a Conferência Estadual será realizado no próximo dia 30.
O vice-presidente do Conselho Estadual de Juventude (Cejuve) e integrante do Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), Ramon Matheus, acredita que as iniciativas mostram o protagonismo da juventude, contudo, do ponto de vista da construção das políticas públicas para a juventude, a situação é prejudicial. “A conferência é o espaço de discussão entre a gestão e a sociedade civil. Os diversos grupos da sociedade civil irão discutir entre si, e isso eles já fazem no cotidiano”, aponta.
Ramon destaca que a não convocação das conferências foi uma “decisão política” das gestões e que, inclusive, a sociedade civil tentou dialogar com as administrações municipais, mas sem sucesso.
Em Guarapari, o Coletivo Diversidade, Resistência e Cultura (DRC) chegou a cobrar do poder público a realização da conferência. “Alô Prefeitura de Guarapari, cadê a Conferência Municipal das Juventudes?”, questionou
por meio de publicação feita em agosto nas redes sociais.
Diante da falta de ação da prefeitura, o grupo cobrou a participação de um representante da gestão. Por isso, no início de setembro, encaminhou um ofício para a Secretaria Municipal de Trabalho, Assistência e Cidadania (Setac), no qual solicitou a presença de duas pessoas, sendo uma titular e a outra suplente. O grupo não obteve resposta, mas depois de cobrar novamente por e-mail e pelas redes sociais, conseguiu confirmação da presença de um representante da gestão na conferência.
Para Ramon, isso não muda a situação de omissão da gestão e os impactos negativos nas políticas de juventude. “Foi um movimento de tensionamento da juventude, e agora a gestão vai estar lá só porque a sociedade civil fez pressão para isso”, lamenta.
No Espírito Santo, das 78 cidades, apenas 15 agendaram as conferências. Contudo, a quantidade foi considerada “um saldo positivo para a realidade do Estado”, analisa Ramon.
Nos dias 22 e 23 de setembro, serão realizadas as conferências de Cachoeiro de Itapemirim, no sul, e Vitória, Capital do Estado. No dia 23, em Vargem Alta, no sul. Em 26 de setembro, será a vez de Sooretama, no norte. João Neiva, também no norte, Montanha e Pedro Canário, no noroeste, realizarão as conferências no dia 28. Ponto Belo, na região noroeste, Aracruz, no norte, e Ibatiba, na região do Caparaó, farão suas conferências em 29 de setembro. Nos dias 29 e 30, será em Linhares, no norte. Serra, Cariacica, Vila Velha e Viana, na Grande Vitória, realizarão no dia 30.
Ramon afirma que as conferências municipais “são um desafio”, pois poucos município capixabas têm órgãos gestores com foco nas políticas de juventude, como gerências, e nenhuma delas têm uma secretaria específica. Além disso, muitos não contam com conselhos municipais de juventude. A mobilização por parte do Cejuve junto às gestões e à sociedade civil “foi, portanto, um trabalho de formiguinha”.
Essa mobilização, considera Ramon, pode ser “uma semente plantada” para que as gestões municipais possam, a partir de agora, ter um olhar mais atento para as políticas de juventude e para que a sociedade civil cobre para que de fato isso aconteça. Ele comemora a realização de conferências em Montanha e Sooretama, pois foram iniciativas “inesperadas”, já que são municípios que não contam com órgãos gestores com foco nas políticas de juventude nem com conselho municipal. Em ambas as cidades, informa, a conferência será realizada pela primeira vez.