Em assembleia realizada nessa segunda-feira (17), na Praça Oito, Centro de Vitória, os trabalhadores do Correios do Estado decidiram pela adesão à greve nacional da categoria que começou nesta terça-feira (18). A paralisação foi aprovada por unanimidade e tem entre as reivindicações a manutenção de direitos históricos e a não privatização dos Correios, como ressalta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Prestadoras de Serviços Postais, Telegráficos e Similares do Espírito Santo (Sintect-ES), Antônio José Alves Braga, .
Segundo ele, os Correios querem retirar 70 das 79 cláusulas do Acordo Coletivo. As demais, afirma, querem que seja reeditada. “Sobre o plano de saúde, por exemplo, constaria na cláusula que ele poderia ser mantido, mas não garante que isso aconteça nem estabelece percentuais de participação. No caso do tíquete alimentação, também diz que pode fornecer, mas não dá garantias, e, inclusive, afirma que pode suspender o fornecimento em virtude de crise econômica no país”, diz Antônio.
O presidente do Sintec relata que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) havia aprovado a vigência do Acordo Coletivo por dois anos. Entretanto, uma liminar do ministro e presidente do Supremo, Dias Tóffoli, suspendeu a decisão. Antônio destaca que começou no dia 14 de agosto e terminará na próxima sexta (21) um julgamento sobre a manutenção ou não da liminar do Dias Tóffoli, o que, afirma, não é impedimento para a greve e outras mobilizações dos trabalhadores. “Não podemos deixar por conta da Justiça decidir nosso destino, a manutenção dos nossos direitos”, defende. O presidente do Sintect salienta, ainda, o descaso dos Correios com os trabalhadores durante a pandemia do coronavírus.
“Antes mesmo do isolamento no Brasil, quando os casos estavam mais concentrados na China, havíamos alertado a empresa sobre o perigo, pois tinha muitas encomendas vindas da China. Quando foi decretado isolamento, tivemos que entrar na Justiça para conseguir que fossem fornecidos para os trabalhadores Equipamentos de Proteção Individual [EPIs]. Os trabalhadores, além de contaminados, poderiam ser vetor de contaminação nas regiões onde atuam”, relata.
Antônio aponta ainda que o afastamento de trabalhadores do grupo de risco para a Covid-19 também foi garantido por meio de liminar, uma vez que os Correios afirmaram que iriam afastar, mas o processo estabelecido pela empresa era burocrático, dificultando a concretização da medida de segurança.
‘A empresa dá lucro’
O discurso dos Correios diante das iniciativas de retirada de direitos é, como pontua Antônio, de que os trabalhadores têm que fazer sacrifícios devido a uma suposta crise financeira da empresa, mas ele ressalta que a empresa é lucrativa e os funcionários são os que recebem o menor salários entre as estatais. Segundo balanço divulgado em 17 de junho no Diário Oficial da União, o lucro líquido dos Correios em 2019 foi de R$ 102,1 milhões. Em 2020 aumentaram em 25% as postagens de encomenda devido à pandemia.
Antônio relata que o sacrifício exigido para os trabalhadores contrasta com o salário do presidente da estatal, o General Floriano Peixoto, que, de acordo com o presidente do Sintect, ganha R$ 47 mil mais benefícios para cumprir essa função, fora o salário no Exército, que é de R$ 13 mil, e os benefícios. Destaca, ainda, que foram criadas sete assessorias no plano de saúde para empregar pessoas próximas ao general e que cada assessor ganha R$ 27 mil mais adicionais.
Precarização dos serviços
Antônio salienta que uma das estratégias para a privatização dos Correios é a precarização dos trabalhadores e dos serviços. A criação da Distribuição Domiciliar Alternada (DDA) é uma das iniciativas que fazem parte dessa estratégia. “Antes o carteiro passava diariamente em todas as ruas da região onde ele atua. Agora não mais, pois os Correios estabeleceram que devem passar em dias alternados. Aí as pessoas ficam achando que a gente é preguiçoso, não quer trabalhar”, desabafa.