Grupo chegou em Vitória nessa segunda e foi encaminhado para a ocupação pelo Movimento de Moradia
A ocupação Chico Prego, no prédio da antiga escola São Vicente de Paula, no Centro de Vitória, agora não conta somente com 35 pessoas. A esse grupo se juntaram mais 24, que são os venezuelanos da etnia Warao, os mesmos que chegaram em Vitória no ano de 2022 e passaram cinco meses na Capital. Eles foram conduzidos para a ocupação pelo Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM), nessa terça-feira (5).
Contudo, ao contrário do que aconteceu naquela época, não foram colocados em um ônibus e deixados na Rodoviária de Vitória, pois vieram por conta própria, chegando a esse local na manhã dessa segunda-feira (4). Apesar disso, seu retorno é marcado, sim, por um histórico de negligência de diversas administrações por onde passaram. Quem relata é Ruben, uma das lideranças do grupo.
Ao chegar à ocupação, Século Diário logo o avistou em meio ao grande grupo que ali estava e o reconheceu. Ao se aproximar dele, é perceptível que, apesar da trajetória de discriminação e exclusão vivida no Brasil, eles já assimilaram parte da nossa cultura. Aquele Ruben já não era mais o mesmo de 2022, cuja fala não era tão compreensível. O de agora fala um português claro, o que possibilitou sentar ao seu lado para uma breve e esclarecedora conversa.
Ruben relatou que, ao partir de Vitória, seu grupo foi para Belo Horizonte, Minas Gerais. Lá, afirma, tem um abrigo que barca somente venezuelanos da etnia Warao, com, inclusive, alimentação adequada a essa cultura, mas não conseguiram vaga lá e em nenhum outro. A solução, relata, foi esmolar nas ruas para pagar aluguel em uma casa de cinco cômodos, onde as 24 pessoas de sua família moravam. Isso foi no ano de 2023.
Contudo, não foi possível continuar pagando o aluguel com o dinheiro arrecadado. Por isso, resolveram voltar para Vitória. Assim que que chegaram na Capital, informa Ruben, a Assistência Social da prefeitura foi ao encontro deles na Rodoviária. O grupo foi levado para um abrigo ali perto. Entretanto, Ruben não sabe informar se de fato foi para um abrigo ou para o Centro Pop, que fica ali próximo e para onde foram levados quando chegaram em Vitória em 2022.
Moradia é exatamente uma das demandas do grupo, juntamente com matrícula para as crianças na escola e trabalho para os adultos. Ruben conta que, na Venezuela, se dedicavam à agricultura. As mulheres também fazem artesanato. Ele relata que saíram de seu país de origem por causa do alto custo de vida e que, com a morte do presidente Hugo Chavez e posse de Nícolas Maduro, o preço dos alimentos e dos materiais para o trabalho agrícola aumentou muito, tornando-se difícil comprar e vender alimentos.
Quanto ao porquê de escolher Vitória como novo destino após não conseguirem acessar políticas públicas para refugiados em Belo Horizonte, Ruben afirma que a cidade tem aspectos semelhantes com a cultura dos Warao, como a utilização de frutos do mar na alimentação. “A cultura nossa, a comida nossa, aqui tem tudo, tem peixe, tem caranguejo”, destaca.
Das 35 pessoas que havia na ocupação Chico Prego, 12 são crianças. Entre os 24 Warao, o número de crianças é 14. Portanto, hoje são 26 crianças e 33 adultos. A ocupação aceita doações de colchão, roupas de cama, roupas de banho e fraldas, que podem ser entregues no São Vicente de Paula.
Histórico
Os Warao que se encontram na ocupação chegaram pela primeira vez em Vitória em agosto de 2022, deixados na Rodoviária, trazidos por um ônibus da Prefeitura de Teixeira de Freitas, sul da Bahia. Inicialmente, foram levadas para o Centro Pop, mas depois, encaminhados para a Unidade de Inclusão Produtiva de São Pedro, conhecida popularmente como Casa Azul. Entretanto, o espaço não comportava adequadamente o grupo, que com a chegada de outro, também vindo de Teixeira de Freitas, aumentou.