Cerca de 150 pessoas em situação de rua que eram assistidas pelo projeto Tendas do Bem, da Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), estão sem garantia de alimentação. Segundo Géssica Muhd, que atuava como mobilizadora social no projeto, o contrato entre a gestão pública municipal e o Projeto Sol, que organizava as Tendas, chegou ao fim e a gestão do Delegado Pazolini (Republicanos) não renovou. Por isso, os atendimentos à população em situação de rua, como distribuição de marmitas, tiveram que ser encerrados no último sábado (9), quando os assistidos foram avisados da situação.
Eram duas Tendas do Bem, surgidas em abril para buscar garantir a alimentação das pessoas em situação de rua diante da pandemia da Covid-19. Uma ficava na Praça do Papa, na Enseada do Suá. A outra, na entrada da Pedra da Cebola, em Goiabeiras. Além de fornecer marmitas, eram realizados outros serviços, como emissão de documentos para que as pessoas pudessem arranjar emprego ou conseguir algum auxílio, encaminhamento para tratamento de dependência química, entre outros, informa Géssica.
A notícia do encerramento das Tendas foi recebida com tristeza pelos assistidos. “Infelizmente fiquei incumbida de dar essa informação. Alguns choraram, ficaram desesperados. Para muitos, aquela era a única refeição do dia. Tirar a comida, o alimento de quem não tem nada, é cruel. Falta de sensibilidade. A gestão pública municipal deveria lutar pelos menos favorecidos, e não há mais desfavorecidos do que a população em situação de rua. É bater em cachorro morto, dar tiro de misericórdia, tirar a única coisa que essas pessoas tinham, que é o alimento”, desabafa Géssica.
Segundo a mobilizadora social, na Tenda da Pedra da Cebola eram assistidas cerca de 65 pessoas. Na da Praça do Papa, por volta de 80. Procurada por Século Diário, a Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou que vai analisar novas alternativas, mas não falou em prazos para isso, por exemplo. Géssica questiona: “As Tendas irão voltar? Quando irão voltar? Se a proposta for voltar, até lá as pessoas irão comer como?”. Para o integrante da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória, Carlos Fabian de Carvalho, as Tendas do Bem “não eram a política que se desejava na pandemia, e ela foi extremamente precária, mas em tempos pandêmicos ela ainda se fez necessária em função da distribuição de alimentos, da necessidade de matar a fome”.
Fabian destaca que a pastoral entende que há necessidade de que seja garantida uma política municipal de atendimento à população em situação de rua, com atuação de diversas secretarias, garantindo que essas pessoas sejam reconhecidas em sua condição de cidadania. “O problema de encerrar a Tenda do Bem é não colocar nada no lugar. O que a gente observou: a Tenda do Bem foi encerrada e as ações de retirada de moradores de rua de praças e de alguns espaços foi intensificada. Se substituiu a entrega de alimentos por uma ação que já acontecia no governo anterior [gestão de Luciano, do Cidadania], mas de forma mais enérgica ainda, higienista, da Prefeitura Municipal de Vitória”.
Fabian defende que a Tenda deveria funcionar até que uma política integrada fosse implementada. “Mas a escolha da atual gestão, me parece, é que seja retirada de circulação. Nós temos então a intensificação de uma ação de criminalização da população em situação de rua e ação higienista, e foi retirada a única ação que garantia a sobrevivência de parte da população em situação de rua de Vitória”, diz.
O coordenador da Pastoral do Povo de Rua, Júlio César Pagotto, afirma que o grupo vai se reunir ainda esta semana com movimentos sociais que apoiam a Pastoral para pensar ações em prol da população de rua não somente em Vitória, mas em outros municípios, inclusive buscando diálogo com as novas gestões municipais.