A comunidade já protestou em assembleia geral dos pais, em janeiro, em reunião com o prefeito, e em uma manifestação no primeiro dia letivo na Córrego do Café, em 19 de fevereiro, quando a Polícia Militar e a Força Tática de Barra de São Francisco ocuparam a escola, impedindo os pais de entrarem e intimidando as crianças com pesado armamento bélico. Os alunos são tratados como “excedentes”.
Indignadas com a determinação de colocar os filhos no precário transporte escolar, sem monitor, para uma escola também precária, e muito distante da comunidade, e impedidas de levar os alunos para a escola onde estão matriculados, as famílias estão com as crianças em casa – mais de 80, no total –, sem estudar, até o presente momento do ano letivo de 2018.
“Tem crianças com necessidades especiais, com autismo. Tem uma menina de 12 anos que está entrando em depressão porque não quer mudar de escola”, relata a assentada e agricultora Rosemary Mendes dos Santos, membro da comissão de pais que está tratando do assunto, mãe de uma criança de cinco anos.
“Não quero jogar meu filho de cinco anos num ônibus, para andar 16 km, sem um monitor”, protesta, informando ainda sobre a estrutura precária da escola João Quiuqui, com infiltrações, depósitos de gás dentro dos banheiros, sem quadra própria, e o parquinho das crianças menores aberto e próximo a uma rua.
“Queremos segurança e uma escola melhor” reclama, ressaltando que a documentação dos alunos para a transferência, foi enviada para a João Quiuqui sem autorização dos pais. “Nosso direito está sendo violado, queremos uma escola próxima. O prefeito empurrou essa transferência goela abaixo da gente”, denuncia.
Rosemary conta que a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Córrego do Café foi inaugurada no final da década de 1990 para atender ao Assentamento 16 de Abril. A princípio, seria construída dentro do Assentamento, mas, na época, a Prefeitura e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) decidiram por um terreno a 4 km do Assentamento, para receber também alunos de comunidades próximas.
“É uma escola muito boa, e já formou muita gente. Tem crianças que estudaram aqui e hoje são professores na mesma escola!”, orgulha-se a liderança comunitária.
Desde que o prefeito decretou, no dia 7 de fevereiro, a transferência forçada das crianças do assentamento, a Escola foi se esvaziando. Rose conta que turmas estão sendo juntadas, e não podem ultrapassar dez alunos por turma. “É estranho, a escola está vazia, está às moscas”, observa. “A intenção parece que é fechar a escola”, lamenta.
A comunidade espera para esta quinta-feira (1) um posicionamento do Ministério Público sobre a reivindicação registrada no início de fevereiro.