Proposta de inclusão da refeição é uma demanda do movimento estudantil
A oferta de café da manhã nos Restaurantes Universitários (RUs) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), entre outros serviços de alimentação, será discutida em uma audiência pública promovida pela Pró-Reitoria de Políticas de Assistência Estudantil (Propaes) na próxima terça-feira (14), das 9h30 às 11h30, de forma remota, com acesso aberto ao público pelo Google Meet e link disponível no edital publicado no site do RU. A reunião abordará a contratação de uma nova empresa que atuará nos campi de Goiabeiras e Maruípe, em Vitória; Alegre e Jerônimo Monteiro, no sul do Estado; e São Mateus, no norte. Também deverão ser incluídos outros pontos de distribuição, como o Hospital Veterinário e laboratórios da universidade.
A alimentação nos RUs é considerada pelo movimento estudantil uma questão central na luta por permanência, especialmente para estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Uma demanda histórica da comunidade acadêmica e promessa de campanha da atual Reitoria, liderada por Eustáquio de Castro (reitor) e Sônia Lopes (vice), o serviço do café da manhã foi anunciada para 2025 no plano de gestão, porém sem data definida para implementação.
Diante disso, estudantes têm se organizado para reforçar a urgência das demandas por segurança nutricional e articulam um ato para a primeira semana do ano letivo, que terá início no próximo dia 22. O Movimento Correnteza, que mobiliza ações por políticas de permanência na universidade, destaca, em nota para Século Diário, que os RUs são uma política essencial para garantir a permanência estudantil, sobretudo para estudantes que dependem das refeições subsidiadas para manter-se na universidade.
As principais preocupações do movimento envolvem o risco de aumento no custo das refeições, mudanças no sistema de venda de créditos e a qualidade das refeições. “Qualquer alteração que implique aumento de custos ou queda na qualidade das refeições pode prejudicar diretamente esses estudantes, comprometendo sua permanência”, alerta a organização, que reforçou a necessidade de garantir a participação estudantil e a transparência no tratamento das contribuições.
O edital propõe a contratação de uma empresa especializada para gerenciar toda a operação de alimentação nos campi da Ufes, abrangendo café da manhã, almoço, jantar e marmitex. Entre as responsabilidades da contratada estão a compra de insumos, planejamento de cardápios e distribuição das refeições.
Após a audiência pública, será iniciada uma fase de diálogo com empresas interessadas, que ocorrerá entre os dias 15 e 21 de janeiro. O objetivo é coletar sugestões para aprimorar os documentos técnicos e o termo de referência da licitação. Segundo o edital, as contribuições recebidas serão disponibilizadas no site oficial dos RUs no dia 22 de fevereiro de 2025.
Embora a consulta seja considerada um avanço, os universitários apontam que o diálogo entre o movimento estudantil e a Propaes é marcado por dificuldades relacionadas à burocracia e à falta de retorno concreto às demandas apresentadas. “A expectativa é que a audiência seja um espaço democrático e que as sugestões apresentadas sejam incorporadas de maneira concreta no processo”, afirma o Movimento Correnteza.
Entre os principais problemas enfrentados pelos estudantes que utilizam os restaurantes universitários, o Movimento Correnteza destaca a repetição de cardápios, falta de opções para dietas restritivas, baixa qualidade nutricional, além de higiene inadequada e falta de ventilação das unidades. A nota também menciona que o atual modelo de terceirização apresenta fragilidades, como “dificuldades de fiscalização, problemas recorrentes na prestação do serviço e falta de diálogo com os estudantes”, e defende a discussão de alternativas, como a gestão direta pela universidade, com o objetivo de aumentar o controle e a qualidade das refeições oferecidas.
Cortes e cotas trans
O cenário atual de cortes orçamentários na educação tem gerado impactos diretos nas condições de permanência dos estudantes universitários, como aponta o Movimento Correnteza. Os alunos destacam ainda a luta por melhorias estruturais nos campi e medidas como o transporte universitário, instalação de postos de saúde e implementação de cotas para pessoas trans, a exemplo de outras universidades que já adotam a ação para inclusão dessa população.
A necessidade de cotas e políticas de permanência para estudantes trans foi discutida pela Reitoria em reunião com o Diretório Central dos Estudantes (DCE), em dezembro último. Na ocasião, a gestão se comprometeu a criar dois grupos de trabalho para discutir políticas de permanência estudantil voltadas à população transgênero, com convocação prevista para abril de 2025.
As demandas apresentadas pelos estudantes reforçam a necessidade de um ambiente universitário acessível, seguro e saudável para que possam concluir sua trajetória acadêmica com dignidade e suporte adequado. Para garantir uma participação ativa da comunidade acadêmica sobre a licitação dos serviços de alimentação nos RUs, o movimento Correnteza relata que está promovendo debates internos e busca mobilizar o maior número possível de estudantes para encaminharem suas demandas coletivamente nos espaços de consulta.
“Acreditamos que só com pressão e organização o protagonismo estudantil será respeitado nesse processo”, destaca a organização.