A comunidade escolar do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Sinclair Philips, em Caratoíra, Vitória, optou,
por meio de consulta pública, pela manutenção da jornada ampliada na unidade de ensino. Essa opção contou com 124 votos. Havia, ainda, outras duas. Uma eram um processo de transição de dois anos para que se tornasse um CMEI de tempo integral, que obteve sete votos. A outra, a implantação do integral de forma imediata, que recebeu 15 votos. Um voto foi anulado por não ter marcado nenhuma das três opções.
A consulta pública, realizada nessa sexta-feira (18),
foi resultado do anúncio feito pela gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos), sem diálogo, de que a unidade de ensino passaria a ser de tempo integral a partir de 2024. “Esperamos que o resultado seja respeitado. A secretária de Educação [Juliana Roshner] disse que a vontade da maioria seria respeitada, ela deu a palavra”, destacou um dos integrantes do Conselho de Escola, Arlindo de Almeida. A jornada ampliada vai de 7h às 17h, mas sem a obrigatoriedade dos alunos permanecerem todo o período na escola.
Arlindo informa que representantes da Secretaria Municipal de Educação (Seme), do Conselho de Escola e responsáveis pelos alunos acompanharam a consulta pública. Uma urna ficou disponível na escola durante todo o dia. O resultado foi registrado em uma ata assinada por esses segmentos.
A comunidade escolar questionou o fato de a decisão de transformar o CMEI em unidade de ensino de tempo integral ter sido tomada sem que fosse procurada para dialogar sobre o tema e apontou uma série de problemas que impossibilitam a mudança, como precariedade na infraestrutura; horário de término das aulas, que seria às 16h, quando os responsáveis pelas crianças estão no trabalho; a redução do número de vagas em cerca de 50%; e a extinção de turmas para estudantes de seis meses a um ano.
Outro argumento foi a violência, já que os responsáveis teriam que matricular os estudantes em CMEIs de bairros vizinhos, como Santo Antônio e Morro do Quadro, o que, aponta a comunidade, é temeroso, já que a circulação das pessoas entre esses bairros não é bem vista pelo tráfico, independentemente de elas não estarem envolvidas com essa prática ilícita.
Na reunião na qual foi decidida a realização da consulta pública, a secretária Juliana Roshner apresentou o projeto da escola em tempo integral, que prevê salas de dança, ginástica rítmica e de produção de arte, as chamadas salas ambiente. Contudo, os responsáveis pelas crianças destacaram que, na atual infraestrutura, não é possível aplicar essas atividades.
Além disso, a forma como a gestora se referiu ao trabalho dos docentes causou indignação. Os relatos pontuam que ela falou que o CMEI passaria a ter profissionais qualificados, com formação específica para trabalhar com projetos, e que na realidade atual, que é de oferta de jornada ampliada, os alunos vão de manhã para brincar e à tarde vão para as “aulinhas”. Os professores do CMEI, segundo Juliana Roshner, teriam que fazer pedido de remoção para continuar trabalhando 25 horas semanais.
A diretora executiva do grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix), Zoraide Barbosa, se pronunciou durante a reunião sobre a fala da secretária. De acordo com Zoraide, na educação infantil é preciso tomar cuidado com termos no diminutivo, como “aulinhas” e “provinhas”. “O termo ‘aulinha’ não se utiliza por ser infantilizador, pejorativo. Falar isso é desconsiderar o processo histórico da educação infantil, as discussões já acumuladas”, criticou na ocasião.
Outro colégio da rede municipal de ensino de Vitória pode vir a ser integral mesmo sem a concordância da comunidade escolar. Trata-se do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Jacy Alves Fraga, em Tabuazeiro. Os responsáveis pelos estudantes também questionam a mudança. Os motivos são semelhantes aos de Caratoíra, como o horário de término das aulas. Há aqueles que defendem, ainda, a permanência em casa em um turno, o que entendem como um direito das famílias.
Professores também apontam prejuízos para a categoria, que passaria, obrigatoriamente, a trabalhar o dia todo no CMEI. Pai de um aluno, o microempresário José Carlos Durans relata que, caso os responsáveis não possam ou não queiram matricular a criança na escola de tempo integral, terão que encaminhá-la para as dos bairros São Cristóvão ou Maruípe, pois não há outras opções na comunidade. Assim como em Caratoíra, a ação do tráfico é um fator dificultador nesse caso.
Frente Parlamentar
A imposição do tempo integral e a exoneração de duas diretoras no mês de julho culminaram no pedido de realização de uma audiência pública, realizada na última quinta-feira (17), na Câmara de Vitória. A iniciativa foi convocada pelos vereadores André Moreira (Psol), Vinícius Simões (Cidadania) e Karla Coser (PT).
A deliberação foi a criação da Frente de Defesa da Educação Democrática de Vitória, que irá discutir questões relacionadas à eleição de diretores de escola, garantia de permanência na função sem que sejam destituídos pela gestão municipal, e implantação de escolas em tempo integral. Embora tenha sido convidada, a secretária municipal de Educação não compareceu.