A comunidade da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Floresta do Sul, em Pedro Canário, extremo norte do Espírito Santo, afirma ter saído insatisfeita da reunião com representantes da Secretaria Estadual de Educação (Sedu), na tarde desta segunda-feira (21). Cerca de 100 pessoas da comunidade foram até o prédio da Secretaria, em Vitória, reivindicar que o prazo para a municipalização da unidade de ensino fosse ampliado até dezembro de 2024 para que, até lá, fosse possível coletar provas de que se trata de uma escola do campo. O pedido, no entanto, foi negado.
A gestão do prefeito Bruno Teófilo Araújo (Republicanos) assinou o Termo de Ajustamento da Gestão (TAG) da Educação. Contudo, o TAG não abarca escolas do campo. O servidor público estadual e agricultor Vanderlei Rebonato de Oliveira informa que os assessores da Sedu Saulo Andreon e Aline Nunes afirmaram que a pasta irá fazer o levantamento dos dados para averiguar se a EMEF é uma escola do campo, mas disseram não ser possível a ampliação do prazo.
Também participou da reunião, após ser contatado por Saulo Andreon, o conselheiro do Tribunal de Contas, Rodrigo Coelho. De acordo com Vanderlei, Rodrigo foi taxativo ao dizer que não tinha como ampliar o prazo e que a escola, por estar localizada na zona urbana, não é rural. O posicionamento da Sedu e do TCEES é questionado pela comunidade. “A Sedu não tem esses dados de que se trata de uma escola do campo? E o fato de estar na zona urbana não quer dizer que não seja uma escola rural. É rural por atender majoritariamente um público do campo”, diz Vanderlei.
Portanto, a escola será municipalizada já no ano letivo de 2024, mantendo o Ensino Fundamental I e encerrando turmas do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio. Os estudantes que não terão mais opção de estudar na EMEF terão como algumas possibilidades a Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Pedro Canário Ribeiro e a Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Dr. Edward Abreu do Nascimento, que ficam a cerca de 17 km de distância. “Nosso sentimento é de indignação. A comunidade não foi chamada para dialogar, mas, ao nosso ver, educação é construção conjunta. A decisão foi monocrática, não nos deram direito de opinar”, desabafa Vanderlei.
Em novembro último, estudantes, pais de alunos e moradores da comunidade realizaram um protesto na frente da escola, conseguindo assim realizar uma reunião, na quadra, com o diretor, Gastão Santos da Cunha, o secretário municipal de Educação, Everton Riazor Meira Pestana, o superintendente regional de Educação (SRE) de São Mateus, Jailson Mauricio Pinto, e outros gestores da SRE.
Durante a reunião, os gestores disseram que a decisão de municipalizar a escola e fechar o ensino fundamental 2 e o ensino médio foi tomada em 2022 e não seria revista. “Disseram que o termo foi assinado pelo prefeito e que não tem como mudar. O secretário falou que ‘a gente foi obrigado pelo Tribunal de Contas a assinar o termo, porque ou assinava ou sofria sanção'”, relatou, na ocasião, Vanderlei.
A escola conta com 125 alunos e 78 deles (62%) serão levados para outras comunidades. “A estrada é de chão e perigosa. Como vão colocar nossas crianças no transporte para outras escolas? E quando chover?”, questionou. “Nossa escola existe desde 1961. Primeiro, ofertou de 1ª a 4ª série. Em 1985, do sexto ao nono ano. E em 2006, passou a ofertar o ensino médio. Foi uma grande conquista ter esse crescimento da escola; O ensino médio dentro da comunidade possibilita ao jovem ficar na comunidade, poder trabalhar meio período, ter uma renda, ajudar a família na roça. A maioria dos estudantes aqui tem vínculo com agricultura. Eles vêm para a escola de manhã, e após o meio-dia vão fazer um serviço na roça com a família ou trabalhar com alguém para ganhar o trocadinho dele”, descreveu Vanderlei, tocando em um ponto fundamental para as comunidades rurais.