As comunidades escolares de cinco escolas do campo em Conceição do Castelo, na região serrana, estão mobilizadas contra a transferência de seus alunos do sexto ao nono ano para a sede do município. Um abaixo-assinado já circula nas comunidades e uma audiência pública foi prometida pelos gestores municipais e estaduais, ainda sem data confirmada para acontecer.
A promessa de audiência pública foi dada em uma reunião realizada na sexta-feira (14), onde, além dos gestores do município e da Secretaria de Estado de Educação (Sedu), compareceram também representantes dos conselhos das escolas atingidas, bem como seus gestores, professores e familiares dos alunos.
Além das cinco escolas do campo, duas unidades no centro da cidade também estão sendo afetadas: as Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emef) Elisa Paiva e Edson Altoé, sendo que a primeira está carimbada para virar uma Escola Viva, apenas com seus alunos de sexto ao nono ano, e a segunda, abrigaria os estudantes das séries iniciais, passando a funcionar nos dois turnos, matutino e vespertino.
“Nós entendemos que a Escola Viva é boa, mas não é o momento propício pra ocorrer”, afirma o Valtair Gomes da Silva, professor em duas Unidades Municipais de Ensino Fundamental (Umef), a Prof. Antônio Azeredo Coutinho e a Santa Luzia, ambas no interior do município. “Não é contra a Escola Viva, mas contra a retirada dos alunos das escolas do interior”, adverte. “Até porque, as pessoas aqui ainda nem conhecem direito esse projeto de Escola Viva”, diz.
Valtair ressalta que professores e familiares dos alunos preveem uma grave evasão escolar, caso a transferência dos alunos aconteça. “O nosso município é extremamente agrícola. Se nós trouxermos esses alunos pra sede, eles não terão como ajudar os pais na roça”, explica, lembrando as grandes distâncias entre as comunidades rurais e a sede do município. Há casos em que o aluno ficará dentro do transporte escolar por três horas todos os dias, somando o percurso de ida e volta da escola.
E, com a evasão escolar, todas as comunidades terão terríveis impactos. “O que vai ser dessas comunidades? Temos que fortalecer as escolas”, convoca. “Temos que fazer o que faz a gente feliz. No interior, as famílias agricultoras e seus filhos têm como crescer”, afirma.
Outro importante aspecto a se considerar é a qualidade de ensino das escolas do campo. Nos últimos anos, mesmo com a falta de investimentos e a tentativa de precarização, em que muitas unidades foram multisseriadas, os alunos estão conseguindo um bom aprendizado.
O resultado do Programa Agrinho deste ano, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), é um dos sinais dessa qualidade diferenciada. “As escolas do interior foram as que mais tiveram alunos selecionados pro Programa”, informa o professor.
'Escola morta'
A implementação autoritária de escolas vivas tem sido questionada pelas comunidades escolares em diversos municípios da Grande Vitória e do interior do Estado. Via de regra, o projeto-vitrine de Paulo Hartung e seu secretário Haroldo Rocha desestruturam várias unidades pelo Estado.