Ausência em debate e embate público marcam reta final de campanha; votação será nesta terça e quarta
Com 288 estudantes inscritos, a “Chapa 1 – Abre Alas” é formada pelos movimentos Enfrente, Movimento Popular da Juventude (MPJ), Levante Popular da Juventude, Kizomba, Para Todos, União da Juventude Socialista (UJS) e Movimento Participa. O último presidente do DCE, Emanuel Couto, é um dos integrantes do bloco.
Entre as propostas estão: Restaurante Universitário (RU) com preços acessíveis; moradia estudantil em todos os campi; implementação de cotas para pessoas trans; melhorias na infraestrutura da universidade; e políticas para cultura e esporte.
Já a “Chapa 2 – DCE é Pra Lutar”, com 135 estudantes, é constituída pelos movimentos Unidade Popular (UP), União da Juventude Comunista (UJC), Movimento por uma Universidade Popular (MUP), Ecoar e Correnteza. O bloco se coloca como oposição, mesmo que inclua grupos que participaram da última gestão, como UJC e Ecoar.
As propostas incluem: bolsa automática para estudantes de ação afirmativa; diminuição do valor do RU e inclusão de café da manhã; defesa de moradia estudantil a partir de pautas históricas do movimento estudantil; e mudanças bibliográficas para incluir intelectuais negres, trans e travestis.
Atividades presenciais de campanha na universidade só poderão ser feitas até as 22h desta terça. Pelas redes sociais, as chapas e os movimentos que a compõe não terão permissão para novas postagens depois das 23h59. Como exceção, a Comissão Eleitoral permitirá que integrantes das duas chapas, em conjunto, possam passar pelas salas de aula convocando os estudantes a votar.
A apuração dos votos acontecerá na quinta-feira (26), com divulgação do resultado parcial no mesmo dia, e o definitivo previsto para 30 de outubro. Além de definir qual dos blocos concorrentes assumirá a gestão do DCE para o período 2023-2024, a votação servirá para o cálculo do percentual de representação estudantil nos conselhos universitários superiores.
Ao todo, a diretoria do DCE conta com 19 cargos. Após a divulgação do resultado final, a chapa vencedora deverá encaminhar à Comissão Eleitoral a lista dos nomes que atuarão na gestão. No caso da indicação dos representantes estudantis nos conselhos universitários, as duas chapas terão direito a fazer indicações, tendo o bloco vencedor a possibilidade de apresentar um percentual maior de estudantes.
O DCE atuou este ano em importantes pautas para a comunidade acadêmica, como a realização de protestos contra os cortes na Educação e o novo ensino médio; pelo direito à alimentação e permanência na Ufes, após suspensão das atividades do Restaurante Universitário (RU), que culminou na ocupação da Reitoria por três dias; e por garantia de acessibilidade na universidade.
Debates e polêmicas
Para a reta final da campanha, foram marcados debates entre as duas chapas em cada um dos campi da Ufes. Entretanto, a Chapa 2 faltou ao debate que seria realizado no campus de Alegre. Em seu perfil no Instagram, a Chapa 1 classificou a ausência como “desrespeito, irresponsabilidade e descaso”, e a Comissão Eleitoral do DCE publicou um vídeo se desculpando pela “falta de responsabilidade da Chapa 2”.
Em nota divulgada em sua página, a Chapa 2 pediu desculpas aos estudantes de Alegre e justificou a ausência dizendo que “não conseguimos participar do debate em Alegre não por falta de vontade nossa, muito pelo contrário, mas sim por condições materiais, uma vez que os membros da Chapa 2, em sua maioria, estudam e trabalham. Precisamos pontuar que um debate às 15h durante a semana é inviável para grande parte da chapa, como também dos estudantes que também estudam e trabalham.”
A Chapa 1 também publicou uma nota de repúdio em conjunto com o Movimento Negro Unificado (MNU) e o Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), em relação ao que classificaram como manifestações desrespeitosas no debate do campus de Goibeiras, na semana passada, proferidas por integrantes da UJC e do movimento Correnteza, que compõem a Chapa 2.
“Primeiramente, pedimos respeito às organizações que compõe a Unidade Negra Capixaba, maior entidade do movimento negro do Espírito Santo. Infelizmente, a Correnteza teve a capacidade de negligenciar as lutas da UNC, dizendo que não construímos nada, que não construímos movimento social e que não se sentiam representados pelo movimento negro, diminuindo a atuação exemplar dessas organizações”, diz.
Em nota pública de resposta, a Chapa 2 exaltou a trajetórias das organizações do movimento negro e lamentou “as falas equivocadas em um momento onde o debate estava muito acalorado, que permitiram interpretações negativas quanto à atuação do Movimento Negro. Também lamentamos o equívoco em relação às cotas docentes, reconhecendo que esta é uma luta que já vem sendo tocada há anos na universidade, principalmente pela Associação de Docentes da Ufes”.
Apesar disso, a Chapa 2 argumentou que cada militante tem a liberdade para se sentir representado pela organização que mais lhe contemple. E também atacou a Chapa 1 por ter em sua composição o Movimento Participa, que segue a linha política do partido do governador Renato Casagrande (PSB), que, por sua vez, nomeou o Coronel Ramalho (Podemos) para chefiar a área de segurança do Estado.
“Esse não é um mero debate superficial com o governo estadual; trata-se, de fato, de uma aliança com o projeto político sustentado pelo PSB, que a Chapa 1 se comprometeu a apoiar. Essa associação dificulta consideravelmente a concretização da proposta de retirada da Polícia Militar dos campi da Ufes, um objetivo que ambas as chapas afirmam defender de forma contundente”, critica o texto.
Apoio de lideranças políticas
Quatro parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) gravaram vídeos nos últimos dias pedindo voto para a Chapa 1: a vereadora de Vitória Karla Coser, a deputada estadual Iriny Lopes, a deputada federal Jack Rocha e o também deputado federal Helder Salomão.
“É uma chapa que defende ensino, pesquisa e extensão para a permanência dos nossos estudantes na Universidade Federal do Espírito Santo. Eu sou egressa da Ufes, estudei Direito aí, fui muito feliz na universidade. A gente quer uma universidade para todos, uma universidade inclusiva, participativa, que os estudantes tenham voz efetivamente, e eu tenho certeza que a melhor chapa é a Abre Alas!”, declarou Karla Coser.
Para Chapa 2, quem manifestou apoio foi o presidente nacional do partido Unidade Popular (UP), Léo Pericles, que se candidatou à Presidência da República em 2022. Em um vídeo gravado para a campanha, ele cita especificamente a participação do movimento Correnteza no bloco, que está envolvido nacionalmente em outros diretórios de estudantes e participa atualmente greve na Universidade de São Paulo (USP).
“Você, que é estudante da universidade. Um DCE ativo, que realmente respeite e dialogue com o conjunto da comunidade estudantil de uma universidade, um DCE que tem um programa avançado de luta, um DCE que se comprometa em defender de forma intransigente a educação pública, é fundamental numa universidade. Nesse sentido, eu quero convocar você, que gosta das nossas ideias, a votar Chapa 2 nas eleições”, defendeu.